Na noite desta quarta-feira (14), tivemos a divulgação de dois fatos relevantes de duas das principais companhias brasileiras independentes no setor de petróleo: Petrorio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3).
A Petrorio anunciou a conclusão da interligação (tieback) entre os campos de Polvo e Tubarão Martelo, ambos pertencentes aos campos maduros localizados na Bacia de Campos em alto-mar, sendo estes dois dos seus principais ativos operacionais.
O projeto teve duração de cerca de 11 meses e foi executado em ritmo acelerado nos últimos dois meses, com apenas 60% das obras concluídas no período da divulgação dos resultados do 1T21, em maio, e foi despendido cerca de US$ 45 milhões (R$ 230 milhões aproximadamente), porém possibilitará a redução dos custos operacionais na ordem de US% 50 milhões por ano na operação do novo cluster (Bloco de produção).
Já a 3R anunciou a conclusão de mais uma aquisição de um ativo terrestre (Polo Rio Ventura), objeto de desinvestimento da Petrobras, agora localizado no Recôncavo Baiano, marcando a entrada mais forte da companhia na região.
O valor total da transação é de US$ 94,2 milhões ou cerca de R$ 500 milhões considerando o último fechamento do câmbio, a serem liquidados pela 3R em 4 parcelas, sendo a primeira já paga em agosto de 2020 (US$ 3,8 milhões a título de depósito antecipado).
A produção do primeiro trimestre do Polo foi de cerca de 780 barris de óleo por dia (bpd) e 41 mil metros cúbicos de gás natural por dia e, segundo certificação de reservas de óleo emitidas por consultoria especializada, o campo ainda possui reserva provável de cerca de 24,9 milhões de barris de óleo equivalente (boe), correspondente a mais de 60 anos de produção ininterrupta no ritmo atual.
E Eu Com Isso?
No caso da Petrorio, a conclusão do projeto era bastante aguardada pelo mercado, com período longo e riscos altos da implementação, dada a dificuldade em projetos localizados em alto-mar, porém a expertise da companhia e a tecnologia já existente ajudaram na conclusão sem grandes problemas.
Esperamos um impacto positivo nas ações da companhia (PRIO3) no curto prazo, dado que a economia de custos operacionais anuais é bastante significativa – US$ 50 milhões porque os custos são reduzidos de US$ 120 milhões para US$ 70 milhões aproximadamente, além da integração permitir uma maior produtividade de ambos os campos, gerando um duplo benefício de custos e aumento de receita.
No caso da 3R Petroleum, a conclusão da aquisição deve ter impacto positivo nas ações (RRRP3) no curto prazo, mostrando que as projeções apresentadas ao mercado de escalada efetiva da produção e ampliação de sua base de receita vem caminhando bem.
No início da semana, a companhia também completou a aquisição do campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos, um ativo localizado em alto-mar, em águas profundas, marcando o início das operações marítimas da companhia.
A transação também marca a entrada da 3R na Bahia e permitirá à companhia replicar a mesma estrutura implementada no Polo Potiguar (RN), com integração de campos, formando blocos de ativos interligados, aumentando a eficiência da produção e a taxa de recuperação dos campos.
Os resultados do 2T21 ainda devem registrar apenas os resultados do Polo de Macau, atualmente a única efetivamente produtiva, porém a partir do 3T21 devem ser registrados as receitas dos demais ativos adquiridos para dentro do balanço, dando maior visibilidade do crescimento da companhia, o que pode precificar para cima as ações da companhia gradualmente.
Análise Complementar: a Opep+ e os preços do petróleo
A Organização dos Países Produtores de Petróleo mais a Rússia, conhecida como Opep+, reúne os maiores exportadores de petróleo do mundo e parece ter chegado a um acordo sobre as metas de produção pelos países do cartel daqui em diante.
A decisão da última reunião havia sido adiada devido a um impasse em relação à Arábia Saudita (uma das líderes do cartel) e os Emirados Árabes Unidos (EAU), esta última alegando que a produção base para cálculo das metas para o país deveria aumentar, dado que a capacidade de produção do país aumentou de 3,5 milhões para 4 milhões de barris por dia.
A Arábia Saudita parece ter concordado com a questão e o cartel deve rever o aumento de produção total gradual para os países participantes, visando equilibrar a relação oferta/demanda no mercado de petróleo, acompanhando a rápida recuperação econômica dos principais países desenvolvidos com a retomada das atividades pós vacinação.
Especialistas alegam que o ritmo pretendido pelo cartel, um incremento mensal em torno de 400 mil barris por dia adicionado de um incremento adicional vindo dos EAU, ainda é lento em comparação à forte recuperação da demanda pela commodity, de modo que, ainda assim, pode gerar um desequilíbrio, ampliando a alta dos preços de referência do petróleo, hoje já na casa dos US$ 77 por barril.
Uma alta mais forte dos preços pode atrapalhar a recuperação econômica, de modo que a commodity ainda tem papel fundamental no desenvolvimento econômico mundial.
Somente o impasse e o atraso na decisão, já fez os preços da commodity subirem nos últimos dias.
Um preço muito acima dos US$ 65 a US$ 70, estimula outros tipos de produção pouco eficientes, como a produção via Xisto Betuminoso (Shale Oil / Shale Gas), nos EUA, fonte indesejada pela Opep+.
Esse patamar de preços internacionais favorece amplamente os principais produtores brasileiros, até mesmo os menores como a 3R e Petrorio, dado que estas empresas desenvolveram uma estrutura bastante eficiente e competitiva em custo.
Em nossa visão, é possível que no curto prazo, de fato, possa haver mais uma onda de alta nos preços do petróleo no mercado, porém a tese principal é que os membros da Opep+ possuem uma capacidade ociosa grande, dado que em 2020 a produção total do grupo foi cortada em cerca de 10 milhões de barris por dia, além de uma retomada de produção ser muito rápida, pela estrutura operacional principalmente dos países do Oriente Médio, podendo reequilibrar rapidamente esse balanço no mercado internacional.
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