
Teremos a última “super quarta-feira” do ano, com as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e de seu equivalente americano, o Federal Open Market Committee (Fomc). Por uma daquelas simetrias da história, ambas as reuniões têm perspectivas e expectativas similares e opostas. Por aqui, a certeza é de juros estáveis com uma possível preparação para um corte na Selic a partir de 2026. Nos Estados Unidos, a certeza é de corte, mas o futuro é menos previsível.
Começando pelo Copom. A Selic será mantida em 15 por cento ao ano. Ponto. Além disso, o que movimenta as especulações dos investidores é o cenário que o Comitê antecipa para 2026.
É provável que o Comunicado a ser divulgado nesta noite após o anúncio dos resultados (e a Ata que deve ser publicada no dia 16 de dezembro) estejam alinhados com as declarações da reunião de novembro. No mês passado, a Ata reforçou a necessidade de maior convergência das expectativas de inflação para permitir um corte da Selic.
Ainda que as edições mais recentes do Relatório Focus tenham revisado para baixo as projeções de inflação entre 2025 e 2028, as expectativas seguem acima dos 3 por cento no horizonte relevante, que se estende até o começo de 2027.
Por isso, o Copom deve reforçar três pontos. O primeiro é que a Selic atual permanece compatível com a estratégia de convergência da inflação. O segundo é que ainda há riscos relevantes de que a inflação siga acima da meta e o terceiro é que a política monetária continuará sendo conduzida com prudência.
O que isso indica para 2026? O Comitê deve indicar a necessidade de manter juros altos por um período bastante prolongado. A manutenção da palavra “bastante” será uma indicação de que a queda da Selic não começa em janeiro. Sem esse termo, pode aumentar a especulação de um corte já na primeira reunião do próximo ano. O texto provavelmente manterá a disposição de elevar os juros caso se a inflação sair do controle.
A boa notícia é que há condições concretas para o corte da Selic. A inflação está desacelerando, e o Produto Interno Bruto (PIB) está crescendo menos. Ou seja, não será absurdo que, apesar de trazer um Comunicado duro nesta reunião, o Copom altere o tom e as expectativas a partir do ano que vem.
Agora o Fomc. Também há uma certeza quase absoluta de um corte de 0,25 ponto percentual, reduzindo os Fed Funds para a faixa entre 3,50 e 3,75 por cento ao ano. Daí em diante, tudo é indefinição. A começar pela potência dessa decisão.
O Comitê está dividido entre membros que defendem cortes de juros como forma de conter uma maior fragilidade do mercado de trabalho e aqueles que acreditam que o afrouxamento monetário já foi longe demais e ameaça agravar a inflação. Por isso, há uma expectativa entre os investidores que tanto a Declaração pós reunião quanto a entrevista coletiva concedida por Jerome Powell deixarão claro que os investidores não devem esperar cortes automáticos nas taxas a partir do ano que vem.
Apesar das declarações do presidente Donald Trump de que a inflação desapareceu, na melhor das hipóteses, ela apenas se estabilizou. Pior, está estável acima da meta de 2 por cento ao ano, em parte devido às tarifas implementadas pelo próprio Trump. Embora os diretores do FED tenham afirmado que as tarifas devem afetar os preços apenas temporariamente, a distância em relação à meta é suficiente para dificultar a queda dos juros. Assim, será preciso observar com cuidado as declarações de Powell para saber para onde olhar a partir de 2026.
E Eu Com Isso?
A quarta-feira começa com os mercados em compasso de espera, no aguardo da reunião do Fomc. Sinais diferentes do esperado, tanto no sentido expansionista quanto contracionista da política monetária, podem provocar forte volatilidade no mercado.
Klabin apresenta Investor Day, dividendos extraordinários e bonificação
A Klabin (KLBN11) anunciou a distribuição de um dividendo extraordinário de 1,1 bilhão de reais, que será pago em quatro parcelas iguais de 278 milhões de reais ao longo de 2026. O valor por ação foi definido em aproximadamente 91 centavos por unit. O corte para recebimento ocorrerá em 15 de dezembro de 2025, com negociação das ações ex-dividendos a partir do dia seguinte.
A companhia também anunciou um aumento de capital de 800 milhões de reais por meio de bonificação, com a emissão de pouco mais de 61,7 milhões de novas ações, na proporção de uma ação para cada cem atualmente detidas. Essas medidas combinadas devolvem caixa aos acionistas e reforçam o capital social da empresa, permitindo que a companhia distribua recursos sem comprometer a estrutura financeira.
No terceiro trimestre de 2025, a Klabin registrou EBITDA ajustado superior a 2,1 bilhões de reais, representando crescimento de 17 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar de custos pressionados, volatilidade cambial e desafios no mercado global de papel e celulose, a companhia manteve suas margens, apoiada pelo desempenho das operações de embalagens, ganhos de eficiência industrial e pela performance da base florestal.
Durante o recente Investor Day, a empresa apresentou sua estratégia de longo prazo, destacando crescimento sustentável, expansão da capacidade de embalagens e investimentos em eficiência operacional e sustentabilidade.
Foram detalhados projetos de modernização industrial, iniciativas ambientais e expansão das operações florestais, com foco na transparência e no alinhamento com os objetivos estratégicos da companhia.
Em termos de CAPEX, a Klabin projeta investimentos de 3,3 bilhões de reais para 2026, destinados à manutenção de ativos, expansão da capacidade produtiva e modernização industrial, incluindo a unidade de Monte Alegre. Para os anos seguintes, a companhia indica envelopes decrescentes, com 2,8 bilhões de reais em 2027 e 2,5 bilhões em 2028.
A alocação do CAPEX contempla silvicultura e compra de madeira em pé, continuidade operacional, modernização da unidade de Monte Alegre e projetos especiais. O objetivo da companhia neste momento é manter a geração de caixa e avançar na desalavancagem, uma vez que não há previsão de investimentos significativos nos próximos anos.
No campo de valuation, a Klabin negocia atualmente com múltiplo EV/EBITDA próximo de 5,5 vezes, abaixo da média histórica do setor, o que indica que o mercado aplica algum desconto sobre o valor intrínseco da empresa.
O Dividend Yield está em torno de 6 por cento, antes da contabilização do dividendo extraordinário, e deve aumentar com a distribuição anunciada, o que pode tornar os papéis mais atrativos para investidores focados em retorno periódico.
E Eu Com Isso?
A bonificação também aumenta a participação dos acionistas sem custo adicional, enquanto a distribuição extraordinária proporciona fluxo de caixa antecipado em 2026. Essas medidas evidenciam a estratégia da companhia de equilibrar retorno aos acionistas com manutenção de capital, mantendo disciplina financeira e consistência operacional.
O conjunto de fatores, dividendos extraordinários, bonificação de ações, CAPEX planejado, múltiplos atrativos e geração de caixa consistente, cria um cenário que pode interessar tanto a investidores orientados à renda quanto à valorização de longo prazo.
As iniciativas refletem a intenção da Klabin de conciliar retorno imediato aos acionistas com fortalecimento patrimonial, preservação de flexibilidade financeira e execução de sua estratégia de longo prazo.
Construção civil sustenta protagonismo com demanda firme, crédito direcionado e empresas mais eficientes
O setor de construção civil voltou a ocupar um papel central no mercado acionário em 2025, com diversas companhias apresentando valorizações expressivas e resultados operacionais consistentes, especialmente aquelas voltadas ao segmento de baixa renda. Este desempenho decorre de três pilares essenciais: melhora na percepção de demanda habitacional, condições de financiamento mais favoráveis – impulsionadas por instrumentos como FGTS e MCMV – e políticas públicas que favorecem o acesso à moradia. Em um ambiente financeiro em que o crédito subsidiado funciona como amortecedor do ciclo macroeconômico, as construtoras atenderam famílias com elasticidade de demanda maior e um mercado menos sensível ao encarecimento do capital, beneficiando especialmente modelos de negócios focados na faixa econômica.
Essa dinâmica também se reflete na performance financeira das companhias listadas, que reportaram geração de caixa positiva e expansão contínua de lucros ao longo dos trimestres. Empresas com maior escala conseguem acessar financiamento a taxas inferiores às praticadas no mercado, reduzindo custo de capital e ampliando margem competitiva. Além disso, a disciplina operacional permitiu ganhos de eficiência, resultando em trimestres consecutivos de geração de caixa livre robusto, o que reforça a resiliência desse segmento. O ciclo virtuoso se retroalimenta: maior volume de lançamentos, velocidade de vendas consistente e capacidade de financiar o comprador final mantêm a engrenagem rodando mesmo em momentos mais desafiadores da economia.
No campo competitivo, as construtoras listadas despontam com vantagens estruturais frente às menores e regionais, em especial na gestão de capital e acesso a crédito institucional. Enquanto pequenas incorporadoras enfrentam custos de dívida mais elevados e volatilidade operacional, as grandes companhias captam a taxas inferiores ao CDI e encontram espaço para ganhar market share. Ao mesmo tempo, a elevação do teto financiável no MCMV e a força de programas habitacionais mantêm a demanda ativa, reforçando o papel anticíclico deste mercado—um traço relevante na leitura estratégica para investidores.
E Eu Com Isso?
Olhando à frente, a continuidade desse movimento dependerá não apenas da trajetória dos juros, mas também da manutenção ou expansão das políticas habitacionais, da execução eficiente e da disciplina financeira das empresas. O setor mostrou capacidade de absorver choques e capturar oportunidades, mas ainda opera em um ambiente macroeconômico dependente de estímulo ao crédito. Se esse ciclo de suporte persistir, o setor tende a sustentar retornos sólidos e um patamar estruturalmente superior de geração de valor, preservando sua atratividade dentro do portfólio de setores domésticos.
Como leitura final, a construção civil combina fundamentos resilientes, drivers estruturais claros e um alinhamento raro entre demanda, financiamento e capacidade operacional. Esse equilíbrio cria uma janela estratégica relevante: empresas bem-posicionadas podem capturar ganhos contínuos, tanto em participação de mercado quanto em lucratividade, ao passo que investidores encontram no setor um dos casos mais consistentes de relação risco-retorno da bolsa brasileira hoje.
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