Para tudo recomeçar na quarta-feira



Não seria um exagero dizer que, em termos práticos, o ano de 2025 se encerra nesta quarta-feira (10) e 2026 se inicia, como se houvesse um “réveillon” antecipado. A última “super quarta-feira” do ano terá os resultados das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do seu equivalente americano, o Federal Open Market Committee (Fomc).

Os resultados já estão dados – ou, pelo menos, são bastante prováveis. Por aqui, há uma probabilidade de 97 por cento de manutenção da taxa Selic nos atuais 15 por cento ao ano. Nos Estados Unidos, a possibilidade de redução de 0,25 ponto percentual nos Fed Funds, que cairiam para a faixa entre 3,50 e 3,75 por cento é de 87 por cento.
Sem surpresas, portanto? Longe disso. O que os investidores querem saber mesmo é qual é o panorama que os diretores dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos estão antecipando para 2026.

Começando pelo Brasil. Em uma de suas declarações públicas mais recente, Gabriel Galípolo, presidente do BC, disse que o mercado de trabalho brasileiro está bastante aquecido e que isso não deveria estar ocorrendo tendo em vista a manutenção de uma Selic nesse patamar por tanto tempo assim. Banqueiros centrais têm de usar instrumentos de precisão para medir as palavras. Por isso, é possível entender que o Copom deverá ser cauteloso na hora de começar a afrouxar a política monetária.

Quanto cauteloso? Essa é a pergunta de vários trilhões de reais que, espera-se, será respondida no Comunicado da quarta-feira (10) e na Ata, a ser divulgada na terça-feira (16). O crescimento do PIB no 3T25 foi de apenas 0,1 por cento, um patamar inferior aos 0,3 por cento do 2T25 e também abaixo da mediana das expectativas, que era de 0,2 por cento. Pode ser que esse arrefecimento do nível de atividade leve o Copom a ser mais “dovish” em suas perspectivas para o próximo ano.

Por via das dúvidas, os investidores refizeram as contas para 2026. A edição mais recente do Relatório Focus, divulgada nesta segunda-feira (08), mostra que a Selic esperada para dezembro do ano que vem subiu para 12,25 por cento ante os 12 por cento previstos nas duas edições anteriores.

O cenário é mais ou menos semelhante nos Estados Unidos. A diferença é que, por lá, estão dados dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros. Um na reunião desta semana, e outro em algum momento do 1T26. Os mais otimistas esperam o corte em janeiro, os mais céticos preveem o corte em março. A partir daí, há menos certezas e mais especulação. Como o FED deverá trocar de comando em maio e a probabilidade é que o sucessor de Jerome Powell seja alguém mais complacente com a inflação, não se descarta a hipótese de um afrouxamento mais acelerado na política monetária.


E Eu Com Isso?

O primeiro pregão da semana começa com uma alta nas cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil negociadas em Nova York. Os investidores deverão buscar ações desvalorizadas após a forte queda de 4,3 por cento no pregão da sexta-feira (05), o que indica um movimento de recuperação pontual dos preços.



Localiza propõe bonificação com ações preferenciais para aumento de capital em R$2 bilhões


A Localiza (RENT3) anunciou recentemente uma proposta de emissão de ações preferenciais (PN) resgatáveis, acompanhada de um aumento de capital de aproximadamente R$ 2 bilhões, que ainda depende da aprovação em assembleia geral extraordinária (AGE) marcada para 29 de dezembro de 2025.

A decisão visa fortalecer a estrutura de capital da companhia e oferecer mais flexibilidade na gestão financeira, sem prejudicar os acionistas atuais.

A proposta prevê a criação de ações preferenciais com direitos equivalentes às ações ordinárias (ON), incluindo direito a voto e tag-along, garantindo proteção aos acionistas minoritários em caso de eventual mudança de controle.

Essas ações preferenciais serão resgatáveis, podendo ser convertidas em ações ordinárias conforme deliberação do conselho da empresa, oferecendo à companhia instrumentos de flexibilidade financeira importantes para o futuro.

Além disso, o aumento de capital será realizado por meio de bonificação, ou seja, os acionistas não precisarão aportar recursos adicionais. A proporção definida é de uma ação preferencial para cada 26 ações ordinárias, permitindo que todos os acionistas atuais mantenham sua participação proporcional na empresa sem diluição.

A movimentação da Localiza ocorre em um contexto de mudanças fiscais e regulatórias, especialmente diante da tributação sobre dividendos a partir de 2026. A emissão de ações preferenciais resgatáveis surge como uma estratégia para ajustar a estrutura de capital e continuar entregando valor aos acionistas, ao mesmo tempo em que preserva a governança corporativa e a proteção dos minoritários.

A utilização da reserva de lucros para o aumento de capital via bonificação reforça que não haverá impacto financeiro imediato sobre os acionistas existentes.

Para os investidores, essa iniciativa apresenta tanto oportunidades quanto pontos a serem observados. Por um lado, a emissão de ações preferenciais com direitos semelhantes às ordinárias garante a manutenção do poder de voto e da participação em decisões importantes.

Existe também, a possibilidade de resgate futuro dessas ações oferecendo à empresa um instrumento de gestão de caixa e capital, podendo impactar a liquidez das ações no mercado no médio prazo. A transparência em relação aos direitos das novas ações e a ausência de diluição imediata são pontos positivos que tendem a ser bem recebidos pelo mercado.

A aprovação na AGE será necessária para a implementação do plano. Caso seja aprovada, as ações preferenciais ex-bonificação começarão a ser negociadas a partir de 30 de dezembro de 2025, e a posição dos acionistas será consolidada em 5 de janeiro de 2026.


E Eu Com Isso?

Esse cronograma garante que os acionistas tenham clareza sobre os novos papéis e seu impacto em sua participação, oferecendo previsibilidade sobre a transição. A estratégia da Localiza, portanto, combina crescimento e fortalecimento financeiro com cuidado em relação à proteção dos investidores.

A proposta de emissão de ações preferenciais resgatáveis e aumento de capital por bonificação representa uma estratégia da Localiza para ajustar sua estrutura de capital, fortalecer sua posição financeira e mitigar riscos decorrentes de mudanças regulatórias.

A atenção agora se volta para a AGE, que definirá se essas medidas serão efetivamente implementadas e como o mercado reagirá a essa iniciativa estratégica.



Block trade em Azzas e Allos impulsiona reciclagem de capital e recomposição acionária

O fundo de pensão canadense(CPPIB) protagonizou dois dos block trades mais relevantes do mês, zerando sua participação na Azzas 2154 (AZZA3) e reduzindo pela metade sua fatia na Allos (ALOS3), movimentando juntas quase R$ 1 bilhão sob coordenação do Bank of America. O fundo vendeu pouco mais de 10 milhões de ações da AZZA3 por R$ 27,10 — um desconto de 4,95% sobre o fechamento anterior — e aproximadamente 23 milhões de ações da Allos por cerca de R$ 28,40, representando 4,44% de deságio. O volume expressivo exigiu leilões estendidos na abertura dos pregões e contribuiu para que o total de block trades na B3 atingisse R$ 2,6 bilhões apenas em dezembro, sinalizando um ambiente doméstico de maior liquidez, intensificação de rotação de portfólios e condições favoráveis de realização para investidores institucionais globais.

O CPPIB permanece ativo no Brasil e, segundo fontes próximas às negociações, está essencialmente reposicionando seu portfólio, com maior apetite por ativos reais e investimentos estruturantes. Isso se evidencia pela joint venture firmada com a Cyrela para desenvolvimento de projetos imobiliários de alto padrão e pela intensificação de aportes no setor de saneamento por meio da Iguá. Assim, a desmobilização parcial em empresas listadas é menos um voto de desconfiança sobre varejo ou shopping centers, e mais um ajuste estratégico para capturar retornos diferenciados em segmentos onde o fundo vê assimetria mais favorável.

Os preços praticados nas operações revelam outro elemento estrutural relevante: o desconto típico em block trades não deve ser interpretado como percepção negativa sobre os ativos, mas sim como componente funcional de liquidez em transações bilionárias. No caso de AZZA3, a venda total de uma fatia de 5,1% acionária irradiou volatilidade e iniciou o pregão com queda de 4,42%, movimento esperado diante do volume ofertado. Já na Allos, a realização de lucros ocorreu após valorização expressiva de 61% em 2024, reforçando a racionalidade do movimento, e foi acompanhada de um lock-up de seis meses sobre a posição remanescente do CPPIB, evitando sobreoferta adicional e sinalizando compromisso residual com a tese.

 
E Eu Com Isso?
 
Sob a ótica da Azzas, o episódio tende a gerar mais efeitos de curto prazo do que estruturais. A queda inicial pela saída de um investidor relevante é natural e decorre muito mais da mecânica de liquidez do block trade do que de uma revisão de fundamentos ou deterioração setorial. Para a Azzas, o desafio imediato reside em sustentar a narrativa de execução operacional, integração pós-rebranding e revisão de percepção de risco após a mudança de base acionária. A saída total do CPPIB tende a reduzir momentaneamente a referência institucional na composição societária, demandando maior esforço de comunicação e reforço de tese para manter o interesse de investidores institucionais, algo central para preservar liquidez e resiliência das ações no pós-evento.

Para a Allos, os desdobramentos parecem mais positivos do que adversos. A empresa reforça o papel de ativo alvo de investidores globais — fato evidenciado pelo lock-up aplicado ao CPPIB — e pela realização parcial após forte valorização no ano, que revela uma capacidade relevante de geração de retorno para acionistas.




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