Salas de espera podem ser muito relaxantes ou extremamente desconfortáveis. Pessoas ansiosas consideram aquele período de inatividade quase uma tortura. Quem precisa de um tempinho para desacelerar até que gosta da justificativa formal para o período sem fazer nada. Mas o fato é que, confortável ou não, quem está na sala de espera tem de ser paciente. Essa é a situação dos investidores globais nesta terça-feira (09). Esperar os resultados das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e de seu equivalente americano, o Federal Open Market Committee (Fomc).
Serão os últimos encontros de 2025. Os resultados já são esperados. O mercado de opções de Copom indicava 96,8 por cento de probabilidade de manutenção da Selic nos atuais 15 por cento ao ano. No caso dos Estados Unidos, os investidores atribuem 89,4 por cento de probabilidade a um corte de 0,25 ponto percentual para os Fed Funds, que cairiam para a faixa entre 3,50 por cento e 3,75 por cento ao ano. Há um mês, essa estimativa era de 66,9 por cento.
Se há tanta certeza, os investidores podem apenas confirmar os resultados na quarta-feira e ir tratar de outros assuntos, certo? Errado. Apesar de os resultados estarem praticamente dados, o que interessa mesmo aos participantes do mercado é o cenário que se delineia para o início de 2026.
Começando pelo Brasil. A desaceleração da inflação, que voltou para a margem de tolerância da meta no acumulado em 12 meses até dezembro, permitiria prever um corte dos juros ao longo do ano que vem. O fato de o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre ter desacelerado para 0,1 por cento ante os 0,3 por cento do trimestre anterior reforça essa perspectiva.
No entanto, em um depoimento no Congresso, Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central (BC), afirmou que o mercado de trabalho brasileiro segue aquecido e que o trabalho do BC é ser conservador. Isso alterou as expectativas.
A edição mais recente do Relatório Focus, publicada na segunda-feira (08), trouxe uma leve elevação da Selic esperada para o fim de 2026. Os juros previstos avançaram de 12 por cento para 12,25 por cento, o que indica uma alteração nas expectativas dos investidores. Ou seja, o cenário segue incerto.
Nos Estados Unidos também há incertezas. Os indicadores que vêm sendo divulgados nas últimas semanas após a paralisação (“shutdown”) do governo americano mostram um arrefecimento do mercado de trabalho americano.
Como o Federal Reserve (FED), o banco central americano, tem um mandato duplo de manter a inflação na meta e fazer isso mantendo o nível de emprego o mais elevado possível, há uma justificativa para um corte mais acelerados dos juros americanos no ano que vem. No entanto, ainda há dúvidas se o FED vai olhar mais para os níveis de emprego ou para os dados da inflação, que segue rodando acima da meta.
São várias questões, que só serão respondidas na quarta-feira. Até lá, resta aos investidores fazer o que fazem as pessoas na sala de espera: observar os números e aguardar que algo aconteça.
E Eu Com Isso?
A terça-feira começa sem uma tendência definida nos pregões. O único dado relevante a ser divulgado nesta terça-feira é pesquisa americana JOLTs de abertura de vagas de trabalho, equivalente ao Caged brasileiro. O dado será referente a outubro e está sendo divulgado com atraso devido ao “shutdown”. A expectativa é de uma leve desaceleração para 7,2 milhões de vagas, ante os 7,227 milhões de vagas criadas em setembro. Esse indicador, porém, terá pouca influência sobre a decisão do Fomc.
Decisão da ANS pressiona Hapvida (HAPV3) e reforça volatilidade das ações em 2025
A Hapvida (HAPV3), uma das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, atravessa um momento desafiador após a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) negar um recurso da empresa relacionado ao seu balanço regulatório.
A decisão obriga a companhia a reapresentar o balanço com ajustes significativos, que somam cerca de 870 milhões de reais, envolvendo principalmente créditos fiscais questionados. Esse episódio traz à tona questões de governança contábil e possíveis impactos financeiros e reputacionais para a operadora.
O ponto central do impasse envolve o Programa Desenrola, iniciativa governamental que permite a negociação de dívidas de operadoras de saúde com o Sistema Único de Saúde (SUS), com descontos. A Hapvida havia incluído créditos fiscais vinculados a esse programa em seu balanço regulatório, mas a ANS entendeu que os valores precisam ser ajustados, por não estarem de acordo com as normas vigentes. A empresa precisará revisar e enviar os dados à agência, o que pode afetar a avaliação da saúde financeira da operadora pelo regulador.
É importante destacar que a decisão da ANS não impacta os balanços contábeis divulgados ao mercado de capitais, baseados nas normas IFRS. Ou seja, os investidores continuam vendo os números publicados pela companhia, mas a exigência regulatória aumenta a atenção sobre a consistência e a transparência das informações fornecidas à agência.
Além dos ajustes contábeis, a Hapvida enfrenta desafios operacionais. No terceiro trimestre de 2025, a taxa de sinistralidade da empresa, que indica o percentual da receita utilizado para cobrir despesas médicas, atingiu 75,2 por cento, alta de 1,4 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse aumento revela pressão sobre a rentabilidade, especialmente em um contexto de reajustes de preços e forte concorrência no mercado de planos de saúde. A combinação de alta sinistralidade e ajustes regulatórios cria um cenário de maior vigilância sobre a eficiência operacional da operadora.
O impacto no mercado tem sido significativo. As ações da Hapvida registraram queda superior a 59 por cento ao longo de 2025, refletindo o receio dos investidores sobre possíveis repercussões futuras.
E Eu Com Isso?
Para os próximos trimestres, a Hapvida precisa demonstrar capacidade de adaptação e reforçar sua governança interna para atender às exigências da ANS. Isso inclui não apenas a reapresentação do balanço regulatório, mas também a manutenção de práticas financeiras transparentes e a gestão eficiente da sinistralidade.
A forma como a operadora lidará com esses desafios será crucial para recuperar a confiança do mercado e garantir a continuidade de suas operações de forma sólida.
A negativa da ANS serve como alerta sobre a importância da conformidade regulatória e do rigor contábil, ao mesmo tempo em que evidencia os desafios do setor de saúde suplementar no Brasil, marcado por regulação, concorrência e crescente demanda por serviços em meio à elevação de custos no setor.
A Hapvida precisará demonstrar capacidade de melhorar seu balanço e gerenciar custos operacionais para evidenciar sua sustentabilidade financeira, para conseguir recuperar a confiança dos mercado e seus investidores.
A Lojas Renner (LREN3) realizou seu Investor Day nesta segunda-feira (08) reforçando uma visão de longo prazo que busca combinar expansão moderada com maior rentabilidade, ancorada na eficiência operacional e no uso de capacidades já construídas ao longo dos últimos ciclos de investimento.
Segundo a companhia, o plano até 2030 pretende capturar “o melhor dos dois mundos”: crescimento consistente e melhora de margens, apoiado na diluição de gastos, otimização logística e centralização do modelo de atendimento — com destaque para o centro de distribuição de Cabreúva (SP), já integrado à malha de lojas.
Embora a narrativa seja coerente com o reposicionamento da Renner pós-ciclos de investimento, a execução desse movimento será determinante num contexto de consumo mais fraco, competição elevada e juros estruturalmente altos.
A companhia projetou expansão de vendas entre 9 por cento e 13 por cento ao ano entre 2026 e 2030, patamar semelhante aos ciclos históricos, mas com a diferença de que agora pretende diluir essa expansão na estrutura já existente, sem grandes saltos de capex.
A estratégia inclui, ainda, reduzir o peso das despesas operacionais sobre a receita em 2,5 a 3,5 pontos percentuais ao longo de cinco anos, retornando a níveis próximos aos observados antes do ambiente macro mais desafiador — algo que exige disciplina, ganhos de escala e estabilidade comercial. O plano também prevê manter investimentos entre 6 por cento e 7,5 por cento das vendas, ligeiramente abaixo das médias históricas, sugerindo alocação mais seletiva de capital.
Outro ponto relevante foi a indicação de que a margem EBITDA do varejo poderia atingir 18 por cento a 20 por cento até 2030 — contra cerca de 17,7 por cento em 2025 — além de um avanço do retorno sobre o capital investido, saltando do nível atual de 14 por cento para 20 por cento.
A Renner destacou, também, sua expansão geográfica: entre 140 e 170 novas lojas devem ser abertas em cidades entre 90 mil e 200 mil habitantes, onde a empresa enxerga até 2 bilhões de reais em potencial de venda com margens mais favoráveis. A tese é que a marca já tem capacidade logística e reconhecimento para ocupar esses espaços sem comprometer estrutura ou rentabilidade.
Além disso, a própria companhia reconhece que reduções no payout — esperado entre 50 por cento e 80 por cento dos lucros — e a opção por não se alavancar no curto prazo impõe disciplina financeira, mas podem exigir maior geração operacional para sustentar as metas.
De forma geral, o Investor Day apresentou direção estratégica coerente e ambiciosa, mas a materialização dos números depende de variáveis sensíveis ao ambiente competitivo e macroeconômico. A Renner parece buscar uma transição de marca defensiva para uma tese híbrida — de eficiência e expansão seletiva — mantendo conservadorismo no endividamento.
Do ponto de vista setorial, a estratégia é plausível, especialmente considerando a maturidade do varejo nacional e a dificuldade de sustentar crescimento puramente via abertura de lojas, ainda assim, o mercado irá monitorar trimestre a trimestre a capacidade da Renner converter teoria em maior rentabilidade operacional.
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