Na tarde desta sexta-feira (08), a Hapvida (HAPV3) anunciou em Fato Relevante que entregou ao Conselho de Administração da Notredame Intermédica (GNDI3) uma proposta não-vinculante para a fusão das duas companhias.
A transação seria realizada via troca de ações e criaria a maior empresa de plano de saúde do mundo com mais de 13,5 milhões de beneficiários, entre planos de saúde e odontológicos, e um valor de mercado de 118 bilhões de reais após o último fechamento da bolsa na sexta-feira, com as duas ações disparando após a divulgação da notícia.
Com a estrutura acionária atual das duas companhias, a Hapvida deteria 53,1 por cento e a Intermédica os 46,9 por cento restantes da nova companhia. A família Pinheiro deteria o controle devido à sua participação de 70 por cento na Hapvida. A Bain Capital, controladora da Intermédica com uma participação de 11,3 por cento do capital total, ficaria com 5,3 por cento da nova companhia.
Ambas as empresas combinadas geram uma receita anual de 18 bilhões de reais, lucro líquido de 2 bilhões de reais, com uma estrutura verticalizada de 70 hospitais e 300 clínicas, característica principal do negócio de ambas. A transação ainda está em seus primeiros passos e necessita de avaliação e aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
E Eu Com Isso?
Enxergamos a possível fusão como bastante positiva para ambas as empresas, com potencial de consolidar um negócio ainda muito pulverizado, mesmo após a combinação, de modo a deter uma fatia de mercado de planos de saúde no país de 17,6 por cento apenas.
Acreditamos que do ponto de vista estratégico a fusão faz bastante sentido ao unir a empresa líder das regiões Norte e Nordeste (60 por cento da Hapvida) com a Intermédica que é dominante na região Sudeste. Existe apenas uma pequena sobreposição de mercado de atuação em Minas Gerais. Os ganhos de sinergia das operações combinadas devem ser bastante relevantes.
As ações HAPV3 e GNDI3 dispararam e fecharam o último pregão com altas de 17,7 por cento e 26,6 por cento respectivamente, em linha com a relação de troca proposta (52,8 por cento HAPV3 e 47,2 por cento GNDI3). No curto prazo, acreditamos que o preço das ações vai ficar em linha com a relação de troca proposta pela Hapvida.
A proposta será analisada pelo conselho de administração da Intermédica a partir desta segunda-feira (11), porém as negociações não devem ser fáceis de se concluir. A Bain Capital, controladora da Intermédica e que diminuiu a sua participação na companhia na última oferta de ações (follow-on), não tem a intenção de se tornar minoritária de uma companhia de controle familiar e, apesar de deter apenas 11,3 por cento das ações, ainda é parte importante da tomada de decisões da Intermédica.
A fusão já vinha sendo conversada informalmente entre as duas companhias e já era considerada uma questão de tempo até a formalização da proposta, porém a Hapvida adiantou o processo por dois motivos: i) A oferta secundária da Bain Capital no final de 2020 reduzindo sua participação pela metade na Intermédica e ii) Início de disputa entre as suas empresas em ativos localizados na mesma região, mais especificamente no estado de Minas Gerais.
Com isso acredita-se que a Bain Capital tenha a oportunidade de desinvestir completamente do negócio após a fusão nestes termos, podendo vender sua participação restante na empresa combinada em bolsa, ou renegociar os termos e manter o controle de maneira compartilhada com a família Pinheiro. Nos termos atuais, a Hapvida oferece um prêmio de 10 por cento em relação à média de preços de ações dos últimos 20 dias de pregão.
A notícia vem em um momento em que as grandes empresas do setor de saúde buscam cada vez mais acirrar a disputa por ativos em uma onda de consolidação do setor, por meio de vários segmentos de atuação.
A Rede D’Or (RDOR3) abriu o capital recentemente, com valor de mercado em torno de 120 bilhões de reais e fortemente capitalizada para adquirir mais hospitais e já possui uma fatia relevante da Qualicorp (QUAL3), a maior corretora de planos de saúde do país. Temos os movimentos da Fleury (FLRY3) e Grupo Dasa (intenção de realizar uma reestreia na bolsa) com aquisições para diversificar seus meios de atuação para não ficar para trás, com a compra de algumas clínicas e hospital.
Ainda é difícil vislumbrar alguma direção da análise do CADE neste caso que, apesar de ambas as empresas atuarem em praças totalmente distintas (Hapvida líder no Norte e Nordeste; Intermédica líder no Sudeste e expandindo para o Sul), pode ter que implementar alguns remédios, especialmente na região metropolitana de Belo Horizonte, para a conclusão dado que as duas empresas já vinham disputando ativos em comum, porém acreditamos que a transação tende a ser positivo inclusive para o setor como um todo, principalmente aos beneficiários.