A partir do segundo semestre de 2020, a reabertura gradual dos shopping centers e a volta do movimento fizeram retornar também as cobranças de aluguéis e as despesas dos lojistas. Porém, o retorno das vendas vem em um ritmo mais lento que a volta das cobranças e com o índice de reajuste, o IGP-M, fechando o ano em 23 por cento no ano (muito acima dos 3 por cento do IPCA), as grandes redes entraram com ações na justiça contra os maiores shoppings do país.
Os processos aumentaram em cerca de 73 por cento em São Paulo e 27 por cento no Rio de Janeiro, os dois estados que concentram a maior parte dos shopping centers e também do volume financeiro movimentado no país. Há uma expectativa de que essas ações judiciais ainda cresçam em volume, dado que a cobrança do 13º aluguel já vencerá agora em janeiro.
O conteúdo das ações judiciais é semelhante, com pedidos de revisão do valor de aluguel, alteração nas condições de renovação de contrato atrelado às vendas e até mudança no índice de reajuste de aluguéis, pedindo algo mais “factível e real”.
No início da pandemia, com as medidas de restrição, as administradoras de shopping centers concederam isenção e redução das cobranças de boa parte dos lojistas, sempre negociando caso a caso, permitindo a manutenção de uma taxa de vacância menor que o esperado, apesar da queda brusca na receita.
A Aliansce Sonae (ALSO3) conta com 26 ações desde março, a Iguatemi (IGTA3) com 51 e a Multiplan (MULT3) com 60 processos, o maior número entre as grandes.
E Eu Com Isso?
O ambiente de negócios parece estar piorando para as empresas de shopping centers (ALSO3, BRML3, IGTA3, MULT3), com ambos os lados (lojistas e administradoras) não tendo mais espaço para apertar suas finanças devido à retomada fraca das vendas.
Por um lado, os shoppings já parecem entender que deram uma grande contribuição para a manutenção das atividades, e, por outro, os lojistas grandes também já começam a sentir os efeitos prolongados do isolamento, clamando por melhores condições para se manter o estabelecimento operando.
A notícia é negativa para os shopping centers, indicando que a recuperação não está sendo como esperada e as restrições mais rígidas em abril e maio já possuem efeitos prolongados no resultado financeiro dos lojistas.
A combinação da inflação medida pelo IGP-M em um ano atipicamente elevado com a queda nas vendas pode gerar um movimento de alta nas vacâncias dos shopping centers, além de redução nos reajustes forçados pelas ações judiciais, tendo efeito negativo no longo prazo na geração de caixa das companhias administradoras desses imóveis.
Ainda há o temor do aumento de casos de Covid-19 no Brasil desencadear um novo conjunto de medidas de restrição, prolongando os efeitos negativos da queda das vendas e minando a rentabilidade de ambos os lados.
Apesar de as grandes redes estarem investindo em um modelo mais digitalizado, com logística moderna e compra online (a exemplo do Delivery Center da Multiplan e BR Malls) e reforçando o portfólio de lojas com serviços diversos e alimentação (mais essenciais para o dia a dia), as mudanças ainda são incipientes, sem relevância no balanço das companhias.
O fim do auxílio emergencial, que deu maior poder de compra para a população, também tornará o ambiente de consumo mais restrito, indicando que os próximos trimestres serão mais desafiadores para os shoppings e seus lojistas.