A economia brasileira, que abriu o ano com perspectivas melhores de expansão, mesmo com incertezas preocupantes, especialmente na área fiscal, agora pode ter a esperada reação comprometida pelo avanço da pandemia e todas as dificuldades relacionadas à continuidade da vacinação.
Por problemas que vêm desde o descaso com a própria pandemia, a urgência de vacinas e uma série de equívocos no campo diplomático, temos impasses até quanto à importação de insumos e vacinas. E as interrogações quanto à manutenção do cronograma de vacinação reforçam as dúvidas também quanto ao ritmo de retomada da economia.
Diante da disparada de novos casos de coronavírus, sem um ritmo ainda satisfatório de vacinação e com novas interrupções de atividade, há possibilidade, inclusive, de outra retração de atividade neste começo de ano. É certo que tem o carregamento da recuperação do ano passado só que sem o impulso dado por vários programas de estímulo, como o auxílio emergencial.
Por isso se cogita a volta temporária do benefício, com valor menor. Seria uma forma de dar fôlego à atividade até que se possa ter, de novo, um controle maior da pandemia. Proposta endossada pelos principais candidatos à presidência da Câmara e do Senado. Mas essa volta do auxílio, sem uma revisão mais ampla das despesas e aprovação de gatilhos, mesmo com custo menor, traria mais dúvidas quanto ao esperado ajuste fiscal, com ameaças até para o teto de gastos.
Todo esse conjunto de incertezas colaborou para a mudança de orientação do Banco Central no que se refere à política de juros. O Copom retirou o foward guidance, não tendo mais o compromisso em manter a Selic em patamar mais baixo. Isso não significa que os juros possam subir já na próxima reunião do Comitê, mas as portas estão abertas, dependendo da avaliação do cenário.
Também pesou na mudança de orientação o comportamento da inflação, cuja pressão pode não ser tão passageira como se imaginava. A alta de commodities e o impacto do dólar no atacado, além da correção de administrados, faz com que os índices continuem superando as projeções, sem maior acomodação dos custos básicos, como de alimentos.
O controle da inflação, nos limites da meta, é o principal objetivo do Banco Central. Quando a Selic caiu para 2% a projeção de inflação estava em 1,9%. No fechamento do ano o IPCA subiu mais de 4%. E as projeções para este e o próximo ano, como destacou o Copom, já estão muito próximas das metas.
Enfim, temos problemas em várias frentes comprometendo as projeções mais promissoras para 2021. Das incertezas fiscais, que podem ser reforçadas pela necessidade de renovação de estímulos, diante do novo avanço da pandemia, às dificuldades de se manter um ritmo satisfatório de vacinação, que ajude a controlar a pandemia e minimizar os impactos econômicos que ainda poderá ter.
A pandemia foi uma situação inédita, que impôs desafios para o mundo todo. Mas responsabilidade e um planejamento mais eficiente ajudariam muito no controle da situação, tanto do ponto de vista sanitário, como econômico. Sendo que atrasos e descasos em relação à agenda econômica e os equívocos, para não dizer infantilidades no campo diplomático, já poderiam trazer problemas sem a pandemia. Com a pandemia, deixam o quadro ainda mais incerto, até quanto ao cronograma de vacinação.