Na noite desta quinta-feira (28), após o fechamento de mercado, as empresas Raízen Energia (subsidiária da Cosan – CSAN3) e Biosev (BSEV3) divulgaram em fato relevante que submeteram ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) uma proposta de potencial fusão entre as duas companhias, as duas maiores do setor sucroalcooleiro no Brasil.
O envio da proposta tem como objetivo minimizar o tempo para a aprovação da proposta pelo órgão regulador. Embora a transação ainda não esteja fechada, ambas as empresas vêm avançando nas negociações, alvo de especulação há mais de um ano pelo mercado, sendo revelada oficialmente pelas empresas em setembro de 2020.
A fusão deve ocorrer via troca de ações entre as duas companhias, porém depende da renegociação do montante alto de dívida da Biosev (BSEV3) com seus credores, que nas condições atuais a Raízen não tem intenção de incorporar, além da não inclusão do Terminal Exportador de Açúcar do Guarujá (TEAG) detida pela Biosev, por já possuir a malha logística da Rumo (RAIL3), também controlada pela Cosan (CSAN3).
Recentemente os Conselhos de Administração de ambas as empresas autorizaram o avanço nas negociações, ainda sem nenhuma proposta oficial e vinculante. A conclusão da fusão criaria a maior produtora de açúcar e etanol do Brasil, com 13 por cento de participação no mercado e mais de 37 bilhões de reais em receita anual.
E Eu Com Isso?
O anúncio da transação e sua possível conclusão são bastante positivos para a Biosev (BSEV3), controlada pela Louis Dreyfus Company, uma das quatro grandes tradings mundiais de commodities – o chamado ABCD, que inclui também a Archer, a Bunge e a Cargill. A companhia resultante da eventual fusão ganha um poder de barganha maior na negociação de suas dívidas com credores, além do ganho potencial em seu valor de mercado, fortemente depreciada pelo alto endividamento. O valor de mercado da Biosev dobrou, comparado com o período da safra anterior.
Para a Cosan (CSAN3) o ganho da transação se dará em um período maior de tempo, em nossa visão, para incorporar os ativos dentro de sua operação e no balanço da Raízen. Mas a captura de sinergias pode ser grande, com as usinas e canaviais de ambas as empresas concentradas na região Sudeste, predominantemente no estado de SP, com a possibilidade de redução no tamanho da estrutura de processamento sem comprometer a produtividade, além do ganho de escala com o uso de uma malha logística em comum.
A combinação de negócios criaria um colosso de 35 usinas sucroalcooleiras (26 da Raízen e nove da Biosev), o que tende a ser positivo para a companhia, dado que o setor depende de escala para se manter rentável, frente à alta volatilidade dos preços de açúcar e etanol no mercado mundial, balizado fortemente pelos preços do petróleo.
A Raízen e a Biosev são as maiores, porém não as mais eficientes em termos de margem no país, um problema que pode ser solucionado com a combinação dos ativos. A Raízen poderia aumentar a escala de cogeração de energia via bagaço de cana e derivados do processamento de cana, além da menor dependência de aquisição de cana de terceiros para completar a capacidade de processamento das usinas, em uma redução de custos dupla.
Além disso o mercado sucroalcooleiro vive um momento de alta de preços, com a recuperação da economia mundial, volta e estabilização dos preços do petróleo, o que permite que a Raízen aumente a produção e venda de ambos os produtos (açúcar e etanol), sem afetar o equilíbrio de oferta e demanda, mantendo os preços em trajetória positiva, favorável às margens.