O Banco Bradesco (BBDC4) divulgou na noite desta quarta-feira (3) seu resultado do 4T20. O resultado foi bom e veio acima das expectativas em termos de lucro líquido devido ao menor nível de provisionamento para perdas com devedores duvidosos (PDD) e redução de despesas.
O lucro líquido recorrente foi de 6,8 bilhões de reais no quarto trimestre, uma melhora de 35,2 por cento quando comparado com o trimestre passado, e um surpreendente crescimento de 2,3 por cento com relação a 4T19. O crescimento de lucro impulsionou a volta do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) a patamares próximos aos vistos em 2019, atingindo 20,0 por cento no trimestre.
Um dos pontos que mais afetou os bancos em 2020 foi a necessidade de aumentar a PDD devido a um maior risco de crédito associado à crise da Covid-19. Para o Bradesco isso representou um crescimento de provisionamento de 25,7 bilhões de reais no ano, porém no quarto trimestre houve uma diminuição de PDD expandida de 18,3 por cento em relação a 3T20, atingindo 4,6 bilhões de reais e indicando uma melhora estrutural da economia já no final do ano.
A carteira de crédito expandida do banco cresceu para 687,0 bilhões de reais, alta de 10,3 por cento em relação ao quarto trimestre de 2019. A alta na carteira de crédito expandida foi liderada pelas operações com pessoas jurídicas com o aumento de 13,7 por cento devido ao aumento na demanda de grandes empresas durante a pandemia.
A margem financeira apresentou crescimento de 8,0 por cento em relação a 4T19, atingindo 16,6 bilhões de reais no trimestre, no acumulado do ano, a margem financeira atingiu 63,1 bilhões de reais, representando um crescimento de 7,4 por cento na comparação anual.
O destaque negativo foi a queda na receita de serviços que atingiu 8,7 bilhões de reais, mais uma vez uma melhora em relação ao trimestre passado, crescimento de 7,3 por cento, mas uma ainda abaixo do que foi visto em 2019, uma queda de 1,3 por cento em relação a 4T19.
Outro destaque negativo foi o desempenho das operações de seguros, previdência e capitalização, com queda de 27,7 por cento em relação ao trimestre anterior e redução anual de 41,5 por cento atingindo 2,3 bilhões de reais no 4T20. O trimestre fechou um ano fraco para o segmento, com a queda acentuada no final do ano, o banco atingiu 12,1 bilhões de reais com operações de seguros, previdência e capitalização, 18,1 por cento a menos que em 2019.
A inadimplência acima de 90 dias melhorou 0,1 pontos percentuais quando comparado com o trimestre passado chegando a 2,2 por cento.
E Eu Com Isso?
O resultado do Bradesco (BBDC4) veio acima das expectativas do mercado em termos de lucro líquido, retornando a bons níveis de ROE. A surpresa positiva do lucro somado a um resultado melhor que seus concorrentes Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) deve ter impactos positivos nas ações do banco (BBDC4) no curto prazo.
O Bradesco se mostrou focado em melhorar sua eficiência com uma queda de 9,3 por cento nas despesas operacionais no trimestre quando comparado com 4T19, fechando 2020 com uma queda 5,3 por cento em relação ao ano anterior. O banco reduziu o número total de pontos de atendimentos em 409, com a redução de 1083 agências, algumas delas convertidas em outras modalidades de ponto de atendimento.
As receitas de serviço do banco caíram 1,3 por cento no trimestre na comparação anual e 2,6 por cento no acumulado do ano, atingindo 8,7 bilhões de reais no trimestre e 32,7 bilhões de reais em 2020. A queda tem como principal motivo a menor atividade econômica no país durante o ano e a consequente queda nas receitas com cartões de crédito.
O aumento da carteira de crédito na comparação anual (+10,3 por cento) foi positivo, porém quando comparado ao resultado do Itaú (+20,3 por cento) e Santander (+16,9 por cento) deixou um pouco a desejar.
Junto com o resultado, o banco também apresentou dois fatos relevantes, anunciando suas projeções (guidance) para 2021 e o pagamento de juros sobre capital próprio (JCP) do exercício de 2020. O guidance mostra projeções otimistas para o ano, com crescimento de receitas, aumento da carteira de crédito e controle de custos, algo também visto nas projeções do Itaú. Já o JCP respeitou o limite mínimo do estatuto de 30 por cento dos lucros, conforme foi exigido pelo regulador para o ano de 2020, resultando no pagamento de mais 184 milhões de reais para os acionistas
O banco digital Next, que pertence ao Bradesco, também apresentou resultados positivos, com aumento de 106 por cento na base clientes, atingindo 3,7 milhões usuários, além de uma redução de 47 por cento nas despesas por cliente. Para efeitos de comparação, o Banco Inter (BIDI11), que também opera de maneira digital, apresentou em sua prévia operacional um crescimento semelhante em sua base de clientes, 108 por cento, atingindo 8,5 milhões de usuários.
A ideia de um possível IPO do Next já é falada no mercado e pelo banco há algum tempo. Como empresas de alto crescimento/inovadoras normalmente possuem múltiplos de valuation muito elevados, é esperado que o total do valor de mercado das companhias separadamente seja maior do que mantendo a “fintech” dentro do Bradesco. O mesmo movimento também pode ser realizado no futuro para a plataforma de investimento do banco, a Ágora.
A ideia é muito semelhante à feita pelo Itaú recentemente com a cisão de sua participação com a XP, uma vez que o banco acredita que será mais bem precificado no mercado quando visto de maneira isolada da corretora.
Os principais catalisadores para as ações do Bradesco (BBDC4), na nossa visão, são uma melhora estrutural da economia brasileira com o andamento da vacinação e aceleração do consumo e novos desenvolvimentos quanto um possível IPO do Next.