Na última quarta-feira (23) a Petrobras divulgou em Fato Relevante 1) a conclusão da venda da Liquigás para a Copagaz e Nacional Gás, 2) o início da fase de divulgação de oportunidade (teaser), com informações detalhadas dos gasodutos TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Brasil-Bolívia) e TSB (Transportadora Sulbrasileira de Gás), e 3) a assinatura do contrato de venda da empresa subsidiária de produção de biocombustíveis BSBios.
A venda da Liquigás foi finalizada com o recebimento de 4 bilhões de reais pela Petrobras, com grande parte dos recursos sendo financiados pela Itaúsa, acionista relevante da Copagaz.
A TBG é um ativo relevante que opera uma das maiores malhas de transporte de gás natural no país, sendo responsável pela operação do gasoduto Brasil-Bolívia com extensão de aproximadamente 2,6 mil quilômetros, com início na cidade de Corumbá no Mato Grosso do Sul, percorre 136 municípios em 5 estados (MS, SP, PR, SC e RS) e atende sete distribuidoras.
A companhia fechou 2019 com receita líquida de 1,7 bilhões de reais e um lucro líquido de 745 milhões de reais, uma margem líquida alta de aproximadamente 44 por cento.
A TSB é um ativo de menor porte, criado para transportar gás natural pelo interior gaúcho (RS).
Em complemento, a Petrobras segue divulgando uma série de operações de venda, com início de fase vinculante de ofertas para campos de petróleo maduros, campos terrestres e de águas rasas, que já somam 100 das 183 unidades com venda já concluída.
E Eu Com Isso?
A Petrobras (PETR3/PETR4) vem mostrando firmeza e um ritmo acelerado nas vendas de ativos não prioritários, com boas ofertas e uma gama de investidores interessados, porém o ano de 2020 foi desafiador para o programa de desinvestimentos da estatal, devido à pandemia que trouxe uma grande incerteza no cenário político-econômico mundial, atrasando muitas operações de venda, sobretudo nas mais relevantes como as refinarias.
No ano de 2021 a Petrobras também deve encontrar dificuldades, não somente pelas incertezas e danos econômicos deste ano, mas também pelo prazo acordado com órgãos reguladores e principalmente com o Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) para cumprir os prazos acordados para a conclusão dos desinvestimentos no refino.
Além das refinarias, há alguns ativos relevantes de gás que esbarram nas mesmas dificuldades e, como são ativos de grande porte, encontram poucos investidores interessados e qualificados para levar estes ativos. A exemplo da Gaspetro (subsidiária que reúne as participações nas distribuidoras de gás da estatal), o processo de venda foi paralisado após a Compass (da holding Cosan – CSAN3) ser desqualificada por não cumprir com as exigências de desverticalização impostas pelo Cade, com a Petrobras tendo que buscar um novo modelo para a venda da fatia de 51 por cento na companhia.
Apesar das dificuldades encontradas neste ano, que devem se estender para 2021, a atual administração da Petrobras vem realizando um trabalho próximo da excelência na nossa visão e o atraso não afeta a tese de investimento na companhia, com os desinvestimentos sendo um mero acelerador para o ponto mais importante para o longo prazo: a redução do endividamento e melhora na rentabilidade da companhia.
Já neste mês de dezembro se iniciou as operações de vendas de três refinarias relevantes, com ofertas vinculantes de grandes companhias como Cosan (via Raízen), Ultrapar (UGPA3) e o fundo Mubadala da Arábia Saudita. Isso representa um passo importante e bastante positivo para a companhia, dado que em setembro deste ano houve uma tensão em relação a estas vendas do parque de refino, com a discussão da legalidade do processo indo parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que aprovou a continuidade com placar de 6 a 4.
Não há motivo para o Cade não estender o prazo definido originalmente (final de 2021) para a conclusão da venda dos ativos de gás e refino, dadas as dificuldades originadas por um evento imprevisível (uma pandemia) e seguimos otimistas com a continuidade do alto nível de execução da administração da Petrobras.