Muito bem! Chegamos à última parte da nossa minissérie sobre as eleições americanas; hoje, vamos falar mais detalhadamente sobre situação dos colégios eleitorais e o desempenho dos candidatos nos estados-chave do pleito, também conhecidos como swing states.
Se você perdeu as partes I e II sobre as eleições americanas, recomendo a leitura. Não fará falta ler somente este texto, mas, para que você obtenha uma visão mais completa do grande evento americano de 2020, vale a pena conferir os outros dois: confira aqui a primeira parte e aqui a segunda.
Ademais, não pretendo me alongar muito aqui sobre o funcionamento do sistema eleitoral americano para a Presidência. Na verdade, também já abordei, neste texto, o tema com todos os detalhes que você precisa para entender a corrida entre Trump e Biden. Basicamente, a eleição para presidente é indireta, feita por meio dos colégios eleitorais. Cada estado tem uma quantidade própria de representantes determinada proporcionalmente pelo tamanho de sua população. Os candidatos precisam conseguir a maioria simples desses representantes para serem eleitos (como são 538 delegados, o número de ouro é 270).
Em 2016, Trump levou a disputa ao conquistar o voto de 304 delegados – contra apenas 227 votos de Hillary Clinton, sua adversária pelo Partido Democrata. Repare que, na contagem geral, Trump teve 46,09% do total dos votos e Hillary, 48,18%. Daí vem a importância gigante de olhar para as chances de vitória a partir dos colégios eleitorais, sendo as intenções gerais de voto secundárias.
De acordo com os números atuais, o ex-vice presidente de Obama tem uma vantagem bastante confortável. No gráfico abaixo, elaborado pelo site que acompanha eleições, FiveThirtyEight, foi feita uma comparação das intenções de voto entre os candidatos republicanos e democratas a quatro meses do pleito. A vantagem de Biden é a segunda maior já obtida por um democrata a esta altura do campeonato, mas nada impede que ocorra novamente uma virada no jogo, como visto em 88 (Bush vs. Dukakis), 92 (Clinton vs. Bush) e 2016 (Trump vs. Clinton), em que o candidato em desvantagem nas pesquisas – neste caso, a quatro meses do dia da votação – tornou-se o vencedor.
Já que as pesquisas eleitorais de âmbito nacional não são o melhor termômetro para a Presidência, como acompanhar de perto a disputa de 2020? Como disse, principalmente pelos swing states.
Historicamente, existe uma divisão clara entre estados republicanos e estados democratas, em decorrência de muitos fatores demográficos, econômicos, culturais e, até mesmo, de identificação política. Por isso, em toda eleição os modelos de previsão já conseguem dividir alguma quantidade de votos dos Colégios Eleitorais para cada candidato.
Por exemplo, a Califórnia (o maior Colégio Eleitoral dos EUA, com 55 delegados) é reduto democrata; assim, é mais que seguro contabilizar o estado na conta de Biden, para atingir os 270 delegados necessários para tornar-se presidente. É extremamente improvável, para não dizer impossível, que Trump vença na Califórnia. Por outro lado, estados centrais dos EUA votam alinhados historicamente com os republicanos. O GOP (gíria para o partido) nasceu no coração do país, nos estados de Kansas e Nebraska, e sempre garante delegados o candidato republicano. Na mesma lógica, é extremamente improvável uma vitória de Biden nestes estados.
Existem outros estados, porém, que não pendem especificamente para nenhum partido, sendo palcos de disputas bastante acirradas na maioria das vezes. É o caso dos estados da Flórida, de Ohio e Iowa, os quais, nas últimas quatro eleições, foram vencidos duas vezes por democratas e duas vezes por republicanos. Esses, por exemplo, são clássicos swing states. No entanto, existem estados que acabam se dividindo entre os dois candidatos somente em certas eleições. Em 2020, por exemplo, Arizona, Carolina do Norte, Georgia, Pensilvânia, Texas e Wisconsin estão sendo disputados entre os dois partidos. São esses, junto aos clássicos swing states – e uma zebra ou outra –, que vão decidir quem será o próximo a ocupar a Casa Branca.
No mapa abaixo, elaborado pela The Economist, você pode conferir a divisão dos estados “azuis” e “vermelhos”, além da projeção feita pela própria revista sobre as probabilidades de vitória em cada estado.
Existem divergências entre as projeções feitas por diferentes institutos de pesquisa, assim como toda e qualquer previsão é passível de mudanças e erros (veja algumas projeções na tabela abaixo).
Contudo, parece unânime entre grandes veículos americanos que a vantagem de Biden se transparece tanto nas intenções nacionais de voto quanto na contagem de delegados dos Colégios Eleitorais. Neste momento, pesquisas de intenção de voto em estados como Wisconsin, Pensilvânia e Michigan dão vantagem considerável para o democrata, ao passo que foram vencidos em 2016 por Trump – ainda que por uma margem bastante estreita. Na Flórida e na Carolina do Norte, a situação é a mesma de 2016: empate técnico nas pesquisas e muita indecisão.
Mais grave para o republicano, porém, é a situação em estados como Arizona, Georgia e até mesmo Texas. Nestes locais, Trump performou muito bem (e venceu) em 2016, mas atualmente não consegue ter uma vantagem segura contra seu oponente. São esses deslizes – nos colégios cujos delegados já estariam na conta dos republicanos – que fazem candidatos perderem eleições. A conjuntura e as pesquisas apontam, hoje, para uma vitória de Joe Biden, mas pode ter certeza de que o atual presidente não vai desistir da reeleição tão facilmente. A democracia mais tradicional do mundo já viu quase de tudo quando o assunto – e seu dever – é escolher um novo chefe.
Um abraço,
Felipe Berenguer
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