O encerramento do pregão da terça-feira (22) em Wall Street teria tudo para ser um momento de pânico. O presidente americano Donald Trump ameaçou não assinar o pacote de medidas de auxílio à economia americana de 892 bilhões de dólares, aprovado pelo Senado no fim de semana. O pacote prevê a distribuição de dinheiro para os cidadãos americanos, um reforço no auxílio-desemprego e apoio financeiro para empresas de pequeno porte. O dinheiro deve começar a ser distribuído ainda antes do Natal.
Apesar de republicanos e democratas terem discutido o pacote durante meses e de a aprovação ter sido fruto de uma dura negociação política, Trump chamou o resultado de “uma vergonha”. Poucas horas antes de encerrar suas atividades para os feriados de Natal, Trump criticou pesadamente o acordo, dizendo que ele deveria ser alterado para aumentar o valor dos pagamentos, e ameaçou não assinar a lei.
Trump disse que deseja que o Congresso eleve o valor dos pagamentos para 2 mil dólares por pessoa ou 4 mil dólares por casal, em vez dos “ridiculamente baixos” pagamentos de 600 dólares. “A conta que eles estão planejando enviar de volta à minha mesa é muito diferente do que o previsto”, disse o presidente em um vídeo postado no Twitter. “É realmente uma vergonha.”
O presidente foi além. “Também estou pedindo ao Congresso que se livre imediatamente dos itens inúteis e desnecessários dessa legislação e me envie um projeto de lei adequado, ou então o próximo governo terá de entregar um pacote de ajuda. E talvez esse governo seja o meu”, disse Trump, ainda insistindo nas alegações sem fundamento de que venceu a reeleição em novembro.
As propostas foram aprovadas por uma maioria de 92 votos a 6 no Senado e de 359 votos a 53 na Câmara dos Deputados. Esses placares estão bem acima da maioria de dois terços necessária para anular um veto presidencial, embora alguns republicanos possam hesitar em anular um veto se Trump usasse esse poder.
Em circunstâncias normais, a ameaça presidencial de não ratificar uma decisão do Congresso obtida após meses de negociações poderia ter levado os mercados a um momento de pânico. Para os investidores, o estímulo à economia americana é essencial para manter os negócios funcionando. Pior do que isso, um possível veto de Trump pode resultar em uma paralisação parcial do governo. No entanto, a reação em Wall Street foi pífia. É possível dizer que os investidores simplesmente ignoraram Trump e concentraram sua atenção nas perspectivas para a economia com o pacote de ajuda em funcionamento e com o início da vacinação pela frente.
Qual a importância disso? É possível concluir que, nos próximos dias e até ele deixar o cargo em 21 de janeiro de 2021, Trump poderá lançar outras declarações surpreendentes e inesperadas. A medir pela reação à última, os investidores já começam a descartar a importância da retórica do presidente americano na formação de preços.
Indicadores
O Índice de Confiança do Comércio (Icom) recuou 1,8 ponto em dezembro, passando de 93,5 para 91,7 pontos. Foi a terceira queda consecutiva. Em médias móveis trimestrais, o indicador caiu 2,6 pontos, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em dezembro, a confiança recuou em três dos seis principais segmentos do comércio.
O Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas, permaneceu estável em 93,9 pontos em dezembro, acomodando em níveis próximos aos observados antes da pandemia. A média do índice no quarto trimestre de 2020 (94,3 pontos) é 6,6 pontos maior do que a média do terceiro trimestre de 2020 (87,7 pontos).
E Eu Com Isso?
Em um pregão que promete ser menos líquido devido à aproximação dos feriados de Natal, os negócios começam com leve alta tanto nos contratos futuros do Ibovespa quanto nos contratos futuros do índice americano S&P 500.