Apesar do início da vacinação no Brasil e no mundo, sabe-se que ainda existe um tempo entre o momento atual e um cenário de completa imunização contra a Covid-19 na grande maioria dos países. No Brasil, não será diferente. Nesse contexto, políticos têm voltado a pressionar o governo – e, em especial, a equipe econômica – sobre um posicionamento mais claro acerca da estratégia de combate dos impactos desse hiato em 2021.
E o tema, obviamente, chegou à disputa pelas presidências da Câmara e do Senado Federal. No início desta semana, o candidato do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), mudou sua postura em relação a uma possível volta do auxílio emergencial. Se antes o deputado era totalmente intransigente quanto a essa possibilidade, agora ele já admite que essa é uma das opções presentes na mesa, desde que respeitadas as regras fiscais na implementação da medida. Segundo Lira, “dentro de um novo Orçamento e respeitando o teto de gasto, para um mês ou dois e estabelecendo um valor compatível, o governo pode fazer”.
Ao mesmo tempo, nesta terça-feira (19), foi a vez do candidato a sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Baleia Rossi (DEM-RJ), ir a público para cobrar de Paulo Guedes, ministro da Economia, uma proposta de nova rodada do auxílio emergencial. Na visão de Rossi, quem deu indícios de que o auxílio voltaria foi o próprio candidato do governo. “Quando ele (Lira) vem e copia o que eu falo, não acredito que tenha feito isso sem um comando do Palácio”, disse Rossi.
Faltando cerca de dez dias para as eleições legislativas, as opiniões dos candidatos sobre pautas econômicas devem esquentar – também em decorrência dos compromissos políticos firmados com seus pares em troca de apoio. Enquanto isso, no ministério da Economia, a preocupação continua sendo sobre como encontrar espaço no Orçamento para abarcar tais demandas.
E Eu Com Isso?
De um lado ou de outro, fato é que existe uma pressão para a volta do auxílio emergencial – mesmo que com duração e valores mais curtos – que acaba estressando os mercados. Dado o atual desenho do Orçamento de 2021, que ainda deve ser votado após o recesso e as eleições, parece quase impossível equilibrar novos gastos com uma nova rodada de auxílio e o respeito às regras fiscais.
Dessa forma, investidores seguem apreensivos quanto ao desfecho para a questão, que pode envolver uma modificação mais enfática nas despesas para buscar financiamento – respeitando, assim, o que pregam os mais austeros, mas ainda com risco de romper com o teto – ou então uma solução menos ortodoxa, que implicaria em mais endividamento – com anuência do Congresso – e piora nas contas públicas.
O risco fiscal acabou pesando já no pregão desta terça, com a bolsa brasileira descolando do rumo dos outros ativos do exterior. Apesar de renovar as incertezas e aumentar a aversão ao risco no curto prazo, para o pregão de hoje, a notícia do auxílio deve ser ofuscada por outros acontecimentos mais relevantes.