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O dragão da inflação

Nos anos 1980, quando a inflação brasileira estava entre as mais altas do mundo, os cartunistas dos jornais ilustravam a alta dos preços como um dragão. A imagem era pertinente. Como um dragão, a inflação brasileira era poderosa, destruidora e aparentemente imortal. Ou seja, seria preciso mais do que um São Jorge para abater o dragão da inflação. Conseguir colocar os preços de volta nos trilhos iria requerer oito planos econômicos e cinco reformas monetárias em um período de oito anos. A primeira tentativa foi o Plano Cruzado, em fevereiro de 1986. A última (e até agora bem-sucedida) foi o Plano Real, em junho de 1994. Desde então, o Brasil convive com a mesma moeda. E os preços, embora longe de ser estáveis, são mais ou menos comparáveis no tempo.

Isso não quer dizer que o dragão da inflação tenha sido exterminado. Ao contrário. A economia brasileira tem quatro características que favorecem o reaparecimento de dragões. A primeira é a concentração. O Brasil tem uma economia caracterizada por oligopólios, o que facilita aumentos coordenados de preços. A segunda é ser relativamente fechada às importações, o que reduz o efeito profilático da concorrência internacional. A terceira é que muitos de seus preços básicos, como os dos grãos e os dos combustíveis, são definidos pelo mercado internacional. Isso não seria um problema, se o preço do dólar não fosse, também, o principal indicador das expectativas com relação à solvência da dívida pública (tradução: o dólar sobe quando o povo assusta). E, finalmente, a economia ainda tem, espalhados pelos contratos, gatilhos de reindexação automática. O caso mais visível são os aluguéis, indexados em geral ao IGP-M. Com a alta do segundo decêndio de janeiro, divulgada nesta terça-feira (19) pela Fundação Getulio Vargas, a alta acumulada em 12 meses já supera os 25 por cento.

Aqui há um detalhe. Por terem um componente importante de preços de atacado, que respondem por 60 por cento de suas cestas, os Índices Gerais de Preços (como o IGP-M e o IGP-Di) são mais voláteis que os Índices de Preços ao Consumidor, como o IPCA, que baliza as metas de inflação. Mesmo assim, o IPCA está mostrando uma pressão de aumento de preços. Até setembro do ano passado, o IPCA previsto para 12 meses estava pouco acima de 2 por cento. No entanto, o acumulado em 2020 registrou uma inflação de 4,52 por cento, quase o dobro do esperado pouco mais de três meses antes. Isso mostra que os preços dos combustíveis, da energia elétrica e, principalmente, dos alimentos continuam subindo depressa.

Calma. É impossível que a inflação brasileira retorne aos patamares dos anos 1980, quando os preços nos supermercados chegaram a ser remarcados mais de uma vez por dia – a inflação de fevereiro de 1990, antes do Plano Collor, foi de 84,32 por cento. Sim, em um mês. É impossível por vários motivos. O principal deles é que, atualmente, o governo é responsável. Apesar das tentações, a Lei de Responsabilidade Fiscal continua em vigor. Além disso, o Tesouro tem crédito. É capaz de rolar a dívida pública e não tem de imprimir dinheiro para pagar as contas do dia a dia. Mesmo assim, a inflação não deixou de ser um risco, e deverá ser observada com atenção pelo investidor. Variações inesperadas nos índices de preços, acima ou abaixo do esperado, têm um potencial enorme para provocar oscilações nas curvas futuras de juros e nos preços dos títulos da dívida, com impactos sobre as cotações das ações.

Indicadores

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) variou 2,37 por cento no segundo decêndio de janeiro, ante 1,18 por cento no mesmo período do mês anterior. Com este resultado, a taxa acumulada em 12 meses passou de 23,41 por cento para 25,46 por cento, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) subiu 3,08 por cento no segundo decêndio de janeiro, ante 1,17 por cento no segundo decêndio de dezembro. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) variou 0,42 por cento no segundo decêndio de janeiro, contra 1,23 por cento no mesmo período de coleta de dezembro. E o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 0,97 por cento no segundo decêndio de janeiro. No mês anterior, o índice subira 1,20 por cento.

E Eu Com Isso?

O dia começa com altas nos contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500, após o feriado da segunda-feira (18) ter suspendido os negócios em Wall Street. Os investidores estão otimistas com a audiência da economista Janet Yellen, futura secretária do Tesouro americano, diante do Congresso, em que ela poderá detalhar melhor o pacote de 1,9 bilhão de dólares de estímulo à economia americana.

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Leia também: Começou a vacinação.

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