Na noite da última sexta-feira (21), a Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) divulgaram Fato Relevante, anunciando a compra de 24,23 por cento de participação no capital da BRF pela Marfrig.
No comunicado, a Marfrig afirma que a aquisição relevante faz parte da diversificação dos investimentos da companhia em um segmento que possui complementaridades com o setor de atuação e não tem a intenção de eleger conselheiros e nem influenciar as decisões da gestão.
As ações da BRF (BRFS3) fecharam em alta fortíssima de 16,28 por cento na sexta-feira (21/mai), enquanto as ações da compradora Marfrig despencaram 5 por cento no pregão, após o mercado perceber e ser ventilada a informação de quem seria o comprador, que já vinha sendo especulado desde terça-feira, em movimentações atípicas relacionadas às ações da BRF.
Considerando o preço de fechamento das ações da BRF de 26,93 reais na sexta, a participação total da Marfrig na companhia vale 5,3 bilhões de reais, enquanto a Marfrig está valendo 12,84 bilhões de reais.
O aporte de caixa da Marfrig (cerca de 4,4 bilhões de reais) aumentou a alavancagem financeira da companhia de 1,76 vezes, reportado ao fim do 1T21, para 2,19 vezes, um patamar ainda saudável, dado os resultados recentes gerados.
E Eu Com Isso?
No curto prazo esperamos um movimento de queda no preço das ações da BRF (BRFS3), com investidores especuladores ou operadores em geral (traders) podendo enxergar uma boa oportunidade de realizar ganhos no curto prazo.
Para a Marfrig acreditamos em impacto negativo no curto prazo, dado que não há clareza suficiente sobre o movimento agressivo realizado pela companhia, além do aporte de caixa em montante altíssimo, gerando uma alavancagem financeira alta novamente para a companhia.
A movimentação atípica e a justificativa de diversificação de investimento não convenceram o mercado, que já começa a avaliar opções sobre o que poderia ser realizado pela Marfrig mais à frente, com uma possível fusão ou uma nomeação de membros do Conselho de Administração quando o mandato dos atuais CEO (Lorival Luz) e presidente do Conselho (Pedro Parente) se encerrar.
Em 2019 já houve uma tentativa de fusão entre a BRF e a Marfrig que acabou não saindo, pois não havia acordo entre os principais acionistas: Molina da Marfrig e Previ/Petros da BRF. Além disto, as duas empresas estavam com alto nível de endividamento e das sinergias operacionais não tão óbvias.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está abrindo uma investigação para apurar os motivos de a Marfrig não ter comunicado imediatamente o órgão sobre a movimentação, dado que ultrapassou os 5, 10 e 15 por cento de participação relevantes, obrigatório por lei.
Ao mesmo tempo, o Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) também irá cobrar explicações e avaliar a transação, uma vez que ambas as empresas possuem relações comerciais relevantes e esse tipo de participação também deve ser comunicado ao órgão para apuração.
A tentativa malograda de fusão no passado favorece ainda mais a tese de uma fusão ou aquisição forçada (hostile takeover) da Marfrig.
Embora não haja sinergias operacionais relevantes, há uma complementaridade em termos de resultados, dado que o ciclo do frango e dos suínos tende a ter correlação inversa à do boi.
A regra da pílula de veneno (“poison pill”) da BRF, ou seja, gatilho de obrigatoriedade de uma oferta pública de aquisição (OPA) é de 33,33 por cento da participação, o que obrigaria o comprador a realizar uma oferta para os demais acionistas para a compra da companhia toda com um prêmio de 40 por cento sobre o preço médio de mercado.
Sem uma aprovação por parte do Cade a respeito da transação ocorrida, a Marfrig fica vedada de qualquer movimentação em relação à Administração e tomada de decisões na BRF.
Porém o órgão não deve dificultar um aval, dado que as companhias operam em mercados distintos, além de a JBS ter debaixo de sua operação a Seara e a JBS Brasil, o equivalente à BRF e a Marfrig, em uma comparação mais imediata.
Ainda há muita especulação e poucas definições a respeito da motivação e quais os efeitos práticos e possibilidades de uma aquisição tão relevante para o longo prazo, porém em caso de fusão, a execução pode ser um tanto quanto difícil, devido ao tamanho de ambas as empresas além das operações serem demasiadamente distintas.
Em caso de desfecho favorável e as empresas consigam conduzir bem, o futuro tende a ser promissor, com mais uma gigante das proteínas no mercado, a exemplo da Tyson Foods e JBS.
Por enquanto a BRF segue com seu plano ambicioso para 2030 e a Marfrig segue gerando resultados recordes com sua operação nos EUA.
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