O parlamento australiano começa a discutir essa semana a legislação a respeito dos pagamentos que as plataformas digitais deverão fazer às empresas de mídia pelas notícias. Além disso, o projeto prevê que as empresas de tecnologia notifiquem às companhias quando seus algoritmos forem modificados a ponto de interferir no tráfego de leitores.
A expectativa é que o projeto seja aprovado. Segundo informações de mercado, o apoio à pauta é bipartidário.
A “novela” sobre o assunto é antiga. Em um dos capítulos mais recentes, o Google chegou a ameaçar acabar com suas operações e sair do país. O Facebook chegou a afirmar que seus usuários poderiam ficar impedidos de compartilhar links caso a regulação passasse.
E Eu Com Isso?
Em uma primeira leitura, o impacto nos fundamentos das companhias-alvo desta regulação – principalmente o Facebook e o Google, é limitado. Acreditamos que essa interpretação deve prevalecer no curto prazo, logo esperamos um efeito neutro no preço das ações FB/GOOG no curto prazo relacionado à notícia.
Porém, não descartamos que as companhias tenham que sentar-se à mesa de negociação com veículos da mídia em outros países. Na última semana, inclusive, o CEO da Microsoft (MSFT) mostrou-se favorável aos Estados Unidos seguirem o caminho australiano.
Os donos da Bing, buscador bem menos conhecido dos usuários, afirmaram que se sentem confortáveis em operar com margens menores caso a regulação seja aprovada.
Segundo dados da consultoria Emarketer, o Google detém quase 30 por cento de participação no mercado de publicidade online global, enquanto o Facebook, 25 por cento. O cenário atual no mundo aponta para um aumento da regulação nas “big techs”, e vemos estas empresas (Facebook e Google) como principais alvos dos órgãos reguladores.
A despeito disso, os resultados do 4T20 das big techs foram extremamente sólidos: crescimento de receitas em duplo dígito e bem acima do esperado; ganhos de margem; posição financeira extremamente confortável. Esta perspectiva contrabalança com o aumento da percepção de risco associado ao investimento nessas ações.
Paradoxalmente, parte destes “super resultados” é que parecem incomodar os reguladores, pois, de certa forma, refletem o excesso de poder de barganha que as big techs alcançaram. Essa conjuntura é mais notável no mercado de publicidade online, e muitos têm visto algumas práticas empresariais enquanto formas de concorrência desleal.