Na noite desta sexta-feira (26), após o fechamento de mercado, a CVC Corp. (CVCB3) apresentou seus resultados do 4T20 e do consolidado do ano de 2020. Os números indicam uma clara retomada das viagens no último trimestre, porém ainda em cerca de 1/3 do valor de reservas confirmadas e receita líquida proveniente das confirmações das viagens do ano anterior.
As reservas confirmadas no 4T20 foram de 1,85 bilhão de reais, cerca de 78 por cento acima do 3T20, porém ainda 63 por cento abaixo do mesmo período do ano anterior. No ano, as reservas confirmadas ficaram em 6,37 bilhões de reais, 67,1 por cento abaixo de 2019, com receita líquida total de apenas 517,4 milhões de reais em 2020, contra 1,73 bilhão de reais no ano anterior.
Tanto as operações do Brasil como o da Argentina tiveram resultados negativos em mais de 60 por cento nas reservas e receita líquida, com o consolidado do ano fechando com prejuízo líquido de 1,23 bilhão de reais, que teria sido cerca de 50 por cento pior (para cerca de 1,8 bilhão de reais), caso não houvesse um efeito de reversão de imposto de renda diferido, com efeito positivo no resultado líquido contábil em torno de 600 milhões de reais.
O número de passageiros transportados no trimestre teve forte aumento em relação ao 3T20, saindo do patamar de 400 mil para 2 milhões de passageiros, porém ainda 40 por cento abaixo dos 3,3 milhões de passageiros do 4T19. A queda no volume de passageiros foi menor que a queda nas reservas e receita líquida, o que implica em um ticket médio menor, indicando uma parcela maior de viagens domésticas e de menor distância em geral.
Apesar da companhia ter gerado um fluxo de caixa livre positivo no ano, mesmo com os resultados contábeis ruins, isso é distorcido pelo adiamento dos desembolsos de caixa relacionados a cancelamentos, viagens postergadas e reembolsos com prazos prolongados, o que indica que o fluxo irá se reverter com o aumento das viagens efetivamente realizadas, gerando um efeito oposto ao resultado contábil.
E Eu Com Isso?
Os resultados vieram ainda bem negativos em comparação ao ano anterior, juntando com a nova onda da pandemia no Brasil e a pressão de uma possível ação judicial (mesmo que a favor da companhia). Dessa forma, esperamos uma reação negativa no preço das ações da companhia (CVCB3) no curto prazo.
As perspectivas seguem nada promissoras no curto prazo para a CVC, dado que a pandemia segue em seu pior momento no Brasil, após mais de 1 ano com o país em estado de alerta, prejudicando sobretudo o setor de serviços e turismo. Apesar da ponta de esperança e afrouxamento das medidas de prevenção observadas no fim do ano, a severa restrição de circulação de pessoas ainda deve pressionar fortemente o resultado da companhia daqui em diante nos meses de março e abril.
Em adição, a gestão atual planeja iniciar uma ação de arbitragem contra a gestão anterior da companhia para demandar a devolução de parte dos bônus e opções de ações obtidas pelos executivos, provenientes da contabilidade errada. A gestão atual recomendou aos acionistas a abertura do processo, que será votado em AGE (Assembleia Geral Extraordinária) no dia 27 de abril.
Mesmo com cenário no curto prazo ainda extremamente turbulento, após ser atingido duramente pela pandemia e distorções contábeis realizadas pela gestão anterior, revelados recentemente, a empresa vem tomando diversas medidas para que as operações retornem com força e mantenha uma visão de rentabilidade em um horizonte mais longo de tempo.
Dentre as medidas estão a criação de uma nova estrutura de governança, troca de gestão, alinhamento das metas de remuneração dos executivos à metas de longo prazo, transformação digital e integração dos back offices e plataforma de vendas/relacionamento com clientes, utilização de algoritmos e inteligência artificial para precificação dinâmica, melhoria na avaliação de concessão de crédito (redução drástica de provisão para devedores duvidosos já no 4T20: uma média de 12 por cento pré-covid para 4 por cento atualmente), programas de fidelidade e ampliação de portfólio de hotéis e pousadas na base de parcerias.
Em resumo, com um cenário de conclusão da imunização em massa no Brasil e no mundo, a CVC estará melhor estruturada e com maior rentabilidade que antes da pandemia, porém essa volta da companhia ainda pode ser prolongada por tempo indeterminado, aumentando cada vez mais o risco de queima de caixa pela companhia, gerando problemas mais graves de liquidez e financiamentos de suas operações.
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