A CVC (CVCB3) apresentou nesta segunda-feira (20), após o fechamento do mercado e com atraso, seus resultados do segundo trimestre de 2020. Como era de se esperar, os números vieram desastrosos devido ao impacto da Covid-19 no setor de viagens e turismo.
Os principais destaques negativos foram i) as reservas confirmadas de apenas 252,2 milhões reais, queda de 94,7 por cento com base no resultado comparável do 2T19, ii) queda nas comissões sobre as reservas (margem/take rate), que foi de 1,2 por cento, 10,9 pontos percentuais a menos que no 2T19.
Com base nestes números, a sua receita líquida no período foi de apenas 3 milhões de reais, queda de 99,4 por cento na comparação com o 2T19.
Já alguns pontos positivos foram i) a redução em algumas linhas de custos e despesas recorrentes e ii) geração de caixa no ano devido a variação positiva no capital de giro.
A companhia também abriu alguns dados referentes ao 3T20. No fim de setembro, as vendas novas no Brasil registraram 37 por cento do total do mesmo período de 2019. Já na Argentina, a recuperação é mais lenta, com apenas 10 por cento do volume na comparação ano contra ano.
O tempo está fechado para viagens (e para CVC). O resultado da CVC, conforme já esperado, foi desastroso, mas algumas linhas chamaram a atenção. Primeiramente a operação na Argentina, que além de apresentar uma recuperação bem mais lenta, registrou receita líquida negativa neste trimestre. A queda nas comissões como um todo foi acima do esperado, com a CVC tendo dificuldade em reverter as suas poucas vendas em receita.
Sobre os dados prévios do 3T20, avaliamos que a recuperação das vendas está abaixo do esperado e uma recuperação mais contundente deve ficar para o próximo ano.
Assim, embora o mercado tenha incorporado o desastre no preço das ações da CVC (CVCB3), esperamos novo impacto negativo nos preços na sessão desta terça-feira (20).
O Ebitda Ajustado por não-recorrentes foi negativo em 155 milhões de reais e, ao contrário do 1T20, o volume de ajustes por itens que não afetam seu caixa foi pequeno.
Não intuitivamente, a CVC está com geração positiva de caixa livre da firma de 709 milhões de reais no primeiro semestre de 2020, destoando do prejuízo acumulado em 2020 de quase 1,4 bilhão de reais.
Além de uma série de ajuste por itens não recorrentes realizados no 1T20 (como ajuste no valor dos ativos – impairment na Argentina), a companhia está com variação positiva no fluxo de caixa devido à redução no saldo do contas a receber.
Como vínhamos falando, o caso de investimento em CVC é complexo. Desde o 1T20 o seu passivo ultrapassa o seu ativo, e com isso a companhia opera com um patrimônio líquido negativo. A nossa expectativa é que a recuperação em termos de reserva no Brasil atinja o mesmo patamar de 2019 apenas em 2021.
Já seus negócios na Argentina têm um futuro bastante sombrio. Além de toda questão política econômica que aflige o país vizinho, há a ameaça da inflação de custos para viagens internacionais devido à desvalorização cambial e ao aumento de impostos para 30 por cento para viagens para o exterior, sancionado em janeiro deste ano.
No segmento lazer e em especial no Brasil há grande potencial dada a baixa penetração do turismo no Produto Interno Bruto (PIB) em comparação com outros países da América Latina, como o México, por exemplo. Contudo, acreditamos que essa questão poderá levar mais tempo devido à natureza do gasto com viagens (não essencial) e à ausência de políticas públicas mais incisivas para o setor de turismo no Brasil. Além da pandemia, o desemprego e a queda na renda também são fatores que influenciam os negócios da CVC no curto/médio prazo.
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