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Por que o valor de uma Startup é tão maluco?

Texto escrito por João Gabriel Chebante, consultor de marketing

Estou adorando escrever os textos sobre startups e Venture Capital aqui na Levante. Tem sido uma oportunidade muito interessante de aprender ensinando e mostrar um universo ainda inédito de investimento ao mercado financeiro. E que vai ser bem comum para fomentar a inovação por aqui – mesmo porque não dá para esperar que o governo financie a inovação neste momento de redução da máquina, né?

Bom, o momento global é o seguinte: se vai ter recessão ou não, eu não sei, mas o mundo está muito líquido, uma vez que as taxas de juros ao redor do mundo estão baixas ou negativas – vide até Brasil com a taxa nas mínimas históricas e a Selic em 5,5% com viés de baixa.

Logo, todo investidor, daquele que está começando aos grandes institucionais, precisam assumir maiores riscos. E nada mais arriscado do que investir em startups.

Muito risco, muito valor, muito retorno

Alguns casos de valorização de investimentos acontecem, mas vou trazer mais dois à tona, antes de chegar ao tema-chave deste post: o Sequoia, o fundo mais famoso do Vale do Silício, que fez um aporte de US$ 10 milhões por 8% do WhatsApp. Anos depois, a empresa foi vendida ao Facebook por US$ 18 bilhões – retorno de US$ 1,4 bilhão.

A Instagram teve uma rodada de investimento de US$ 500 milhões para fomentar o lançamento no Android. Trinta dias depois foi vendido ao Facebook por US$ 1 bilhão. Você conhece algum investimento com retorno de 100% em 30 dias?

Nos últimos dias (e posts), tem ocorrido o questionamento sobre a valoração de startups por causa dos insucessos de grandes histórias que não vingaram nos seus eventos de liquidez: Uber e Lyft passam por forte desvalorização, enquanto o WeWork sequer conseguiu terminar o roadshow, uma vez que os investidores institucionais não viram o valor que a empresa enxergava em si mesma.

Ao longo dos últimos dias, e em repercussão ao meu artigo anterior sobre a tese de investimento do SoftBank, abriu-se o questionamento: a forma de calcular o valor de uma startup faz sentido?

Bom, não deixa de fazer, mas demanda cuidado para verificar se faz sentido a longo prazo. Vou explicar em tópicos:

Entende-se que uma startup pode abrir mão do lucro e de um fluxo de caixa positivo em prol de um crescimento acelerado de suas atividades. O contexto é que para rápida consolidação da sua posição de liderança de mercado (the winner takes it all, já dizia o ABBA) a empresa precisa investir no ganho de escala.

Para isso, há a demanda por investimento externo. Se a empresa recorrer à geração de caixa, consegue crescer, mas numa velocidade que abre margem a novos entrantes diretos (concorrentes) ou indiretos (novas tecnologias). É como se o venture capital fosse um “anabolizante” necessário para que a empresa ganhe na partida do seu segmento.

Quando a liderança está consolidada, a demanda de aportes é amenizada, o fluxo de caixa torna-se positivo e aí aparecem o que os investidores chamam de “eventos de liquidez”: venda ou fusão da startup para organizações maiores (muito comum no exterior); lançamento das ações da empresa na bolsa; recebimento de dividendos pelo lucro da operação.

Gosto de usar como exemplo a Amazon: foi deficitária por 15 anos, não gerando lucros aos acionistas. Pegava o que sobrava de caixa e investia em tecnologias para melhorar suas atividades ou angariar mais clientes em novos mercados. Quando começou a reduzir a velocidade neste sentido, a liderança de mercado era tamanha (30% do varejo online dos EUA) que Jeff Bezos virou o homem mais rico do planeta.

O cálculo sobre startups

Logo, o grande questionamento não está no modelo de valoração de startups, mas se o negócio a ser aportado ficará em pé a longo prazo; se terá valor lá para frente. Basicamente, os saltos em valor que uma startup realiza a cada rodada acontecem porque:

– Calcula-se qual a necessidade de caixa que a empresa precisa para sobreviver (cash burn rate).

– Ao mesmo tempo, projeta-se o quanto quer crescer: quais seriam os custos para ganho em escala a partir de pessoas, processos, marketing, produtos, serviços… Enfim, o que chamamos comumente de CAPEX/OPEX.

– A soma destes dois num período de tempo (geralmente 12-18 meses) determina o valor da empresa e o aporte que o fundo fará e sua participação em equity, independente do estágio que a empresa se encontra.

O grande ponto – e que pode decorrer de um mundo líquido, como o que estamos atualmente – é que ganho de escala não necessariamente pode significar lucratividade no final de um ciclo de crescimento. Diversos investidores institucionais não aportaram recursos no Uber porque, com sua forte política de subsídios aos motoristas e passageiros para vencer a concorrência, deixou bem claro em seu prospecto ao IPO que talvez nunca dê lucro.

O mesmo se aplica ao WeWork e à Lyft – empresas que cresceram rápido demais turbinadas pelo dinheiro do venture capital, mas cujos fundamentos não garantem que terão lucratividade sólida no futuro.

Ou seja: para qualquer tipo de investidor – seja um anjo que aplica no início da vida de uma startup, no pré-seed, ou num fundo em rodadas subsequentes às vésperas de um evento de liquidez, cada vez mais se faz necessário olhar os fundamentos da empresa ao longo do tempo. Não somente o modelo de negócio da empresa precisa ser inovador e sexy, mas os números precisam mostrar que teremos caixa e algum lucro à medida que os investimentos consolidem a presença da startup no mercado.

Caso esta liquidez continue provocando uma corrida desenfreada por ativos sem a devida preocupação pelo “Back to basics” de qualquer negócio, voltaremos aos anos noventa. E não vai ser para ouvir Backstreet Boys, Oasis ou Spice Girls. Mas sim porque viveremos uma nova bolha, onde a macroeconomia era exatamente a mesma.

E não queremos isso, certo?

LEIA TAMBÉM: O tombo antes da queda – o que o WeWork nos ensina sobre Venture Capital & Startups

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