Em 15 de Janeiro, foi noticiado que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá intervir na proposta de fusão entre as locadoras de veículos Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3). O motivo seria sua preocupação com a concorrência desleal que a fusão causaria, uma vez que a companhia combinada acumularia 60 por cento de participação de mercado, sufocando as demais empresas do setor. Desse modo, a única forma de as companhias conseguirem o apoio do órgão regulador seria através da adoção de medidas restritivas, como vendas de ativos e limites de atuação no mercado.
Vale destacar que a combinação de negócios já havia sido aprovada pelos acionistas em 2020, uma aquisição que geraria uma empresa de cerca de 50 bilhões de reais de valor de mercado. A proposta foi formalmente apresentada ao Cade no início de 2021, tendo o órgão 240 dias para julgar o caso.
A nossa expectativa é que o Cade será o principal risco para a transação e que seria necessária a aplicação de restrições. Possivelmente agravando as preocupações relativas à concorrência, há o fato de a Localiza já ter firmado parceria com a Hertz no Brasil no passado, acordo encerrado em 2020 por não ter atingido a expectativa devido à falência da Hertz.
Em relação às demais aquisições no mercado de locação de veículos, a Movida (MOVI3) anunciou em 17 de janeiro a celebração do contrato de aquisição da companhia Vox Frotas pelo valor de 89 milhões de reais (valor da empresa).
A Vox é uma companhia de gestão e terceirização de frotas (GTF) que atua em todas as etapas do processo de locação. A Vox possui uma frota diversificada de veículos leves, formada por cerca de 1,8 mil veículos de idade média de 1,2 ano. O movimento inorgânico está alinhado com a estratégia da Movida, que visa se fortalecer em nichos específicos do mercado de locação.
E Eu Com Isso?
A notícia é negativa para a Localiza e a Unidas, mas já teve impacto no preço das ações na sexta-feira (15): RENT3 caiu 4,36 por cento e LCAM3 caiu 5,94 por cento, comparado ao tombo de 2,54 por cento no Ibovespa. Esperamos um impacto levemente negativo no curto prazo no preço das ações nesta segunda-feira (18) devido aos possíveis “remédios” do Cade para a aprovação da fusão.
Essa situação reflete o risco que os investidores atribuem à rejeição da transação pelo Cade. Para as empresas, naturalmente a fusão seria benéfica pelos ganhos de escala, fortalecimento do modelo de negócios, maior poder de barganha com montadoras e ampliação do acesso ao mercado de capitais, reduzindo o custo da dívida. Nosso cenário base continua a ser que a fusão irá se concretizar com remédios estruturais em alguns segmentos das empresas onde há maior sobreposição.
Em contrapartida, quando consideramos a dinâmica competitiva setorial, a notícia é positiva para os demais players, como a Movida. De fato, a empresa que resultaria da combinação entre Localiza e Unidas apresentaria elevado poder de mercado e poderia pressionar as tarifas praticadas sem afetar suas margens devido à sua maior escala. No entanto, a concorrência, em especial locadoras de médio porte, seriam duramente impactadas. Mesmo com seu maior tamanho, a Movida não escaparia ilesa, e provavelmente seria forçada a adquirir outros players para se manter competitiva.
Nesse sentido, nos últimos trimestres, a Movida tem se organizado para expandir por meio de aquisições e para preservar sua posição de mercado. Como ilustração dessa estratégia, a companhia anunciou a compra da gestora de frotas Vox por 89 milhões de reais, aumentando sua penetração no segmento. Os termos negociados foram atrativos para a Movida, pois o múltiplo EV / Ebitda implícito na transação, de cerca de 4 vezes, é baixo vis-à-vis os múltiplos com os quais as ações das empresas listadas do setor operam. A Vox vai adicionar aproximadamente 1,8 mil veículos à frota da Movida. Em 2019, seu EBITDA foi de 22 milhões de reais, equivalente a 3 por cento do EBITDA reportado pela Movida no mesmo período.