Após o segundo turno das eleições para as duas cadeiras do Senado americano no Estado da Geórgia, a contagem de votos na madrugada indica que, a não ser que haja uma surpresa na reta final, os Democratas terão também o controle da Casa alta do Congresso dos EUA.
Até o fechamento desta edição, a Associated Press – conglomerado independente de veículos e agências de notícias americanos – já havia declarado a vitória do democrata Raphael Warnock contra a republicana Kelly Loeffler, com 98 por cento das urnas apuradas e uma vantagem de pouco mais de 50 mil votos (1,2 pontos percentuais). Na outra cadeira pendente, tudo indica que Jon Ossoff deve vencer David Perdue, mas a disputa ainda está matematicamente aberta, uma vez que a vantagem do democrata é de apenas 16 mil votos (ou 0,39 pontos percentuais).
Os votos restantes, porém, advém dos condados de DeKalb e de Coffee, ambos com tendência democrata. No início desta manhã, a vantagem de Ossoff chegou a aumentar marginalmente. Uma vez confirmada a vitória democrata para as duas cadeiras de Geórgia, o Senado terá a seguinte composição: 50 votos republicanos e 50 democratas (48 do partido e dois senadores independentes, mas que tradicionalmente são inclinados à sigla de Joe Biden. Nesse cenário, a maioria virtualmente é do partido democrata, já que a lei americana prevê o voto de desempate para a Presidência do Senado, ocupada sempre pelo vice-presidente dos Estados Unidos da América.
É provável que tanto Loeffler quanto Perdue esgotem todos os recursos jurídicos disponíveis para reavaliar os resultados das eleições, mas, como bem ocorreu também no caso da disputa presidencial, é bastante improvável que esse cenário seja revertido.
Com a maioria simples garantida no Senado, Joe Biden terá menos dificuldades em aprovar pautas de seu interesse, uma vez que ambas as Casas Legislativas americanas serão de controle democrata. Vale ressaltar que, tipicamente, a maioria das leis enviadas ao Senado requer somente maioria simples para sua aprovação, mas estão previstas algumas exceções de caráter fiscalizador, como a derrubada de um veto presidencial (requer dois terços dos votos) ou o equivalente à obstrução da pauta (“cloture”, no termo original), que enterra o debate na Casa mediante três quintos (60 senadores) dos votos.
E Eu Com Isso?
O desfecho inusitado acabou sendo impulsionado pela influência de Biden nas campanhas democratas em Geórgia desde sua eleição e também pela postura mais beligerante de Trump enquanto líder dos Republicanos, fazendo com que, novamente, os subúrbios do estado comparecessem à votação e votassem em massa nas alternativas democratas.
Na prática, o quase certo controle total dos democratas na política americana deve facilitar a injeção de mais dinheiro na economia, além de um robusto pacote de projetos de infraestrutura previsto no projeto de governo de Biden – ambas as pautas, agora, com caminho livre para sua aprovação. Ainda, deve haver pressão maior para revogar alguns dos cortes de tributos efetuados durante o mandato de Trump, o que poderia afetar o lucro de empresas americanas. Nesse sentido, os índices americanos hoje (e no curto prazo) devem operar no negativo.
No entanto, a pauta de tributos não é prioridade nem mesmo para o governo Biden neste primeiro ano, preocupado ainda com os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19. Por fim (e, de certa forma, contra intuitivamente), a bolsa brasileira deve subir nesta quarta-feira (6), uma vez que um ambiente ainda mais estimulativo nos EUA reverbera de modo bastante positivo nos mercados emergentes, especialmente no que se refere ao consumo (dólar mais enfraquecido) e commodities (alta nos preços).