O ano parece fechado em relação à economia. Podemos ter um ou outro indicador, mas nada que mude muito o balanço de 2020. Foi um ano péssimo? Sem dúvida. Mas podia ter sido pior. O retrato não ficou tão ruim como começou a ser desenhado.
A economia não teve o tombo que se previa. No início da pandemia se falava em retração de mais de 9%. Deve ficar ao redor de 4,5%. O desemprego avançou, também, menos do que se esperava. Vários setores tiveram recuperação em V. A inflação subiu, nas ficou perto do centro da meta. Os juros básicos permanecem em 2% ao ano, o menor patamar já registrado, o que ajudou a baratear o crédito, reforçando a reação da atividade, como no setor da construção.
Nesse fechamento de ano ainda acompanhamos uma reação positiva do mercado, alavancada pelo retorno do capital externo. Tudo bem que fomos favorecidos por uma liquidez excessiva no exterior, com tendência de aumentar, já que vários pacotes de estímulo ainda serão implementados, num ambiente de juros muito baixos e até negativos.
O importante a se notar é que o Brasil não foi excluído do radar dos investidores, na busca por melhores opções de ganho.
É como se houvesse uma paciência maior com o Brasil mesmo com a acentuada piora das finanças públicas. Tem a justificativa de ter sido um dos países que mais gastaram para minimizar os impactos econômicos da pandemia e com resultados importantes. Até as agências de Rating não alteraram a nota de risco do País, apesar dos alertas com relação ao forte desequilíbrio fiscal e aumento do endividamento.
A cobrança deve vir 2021. Será preciso urgência no encaminhamento das matérias que ajudem a ajustar as finanças, respeitando teto de gastos, regra de ouro e outras restrições legais, sem descuidar das reformas, retomada dos investimentos, emprego, da estabilidade e do crescimento.
O Brasil terá como meta fiscal um rombo de mais de R$ 247 bilhões, o maior dos últimos oito anos, com exceção deste que teve a justificativa do estado de calamidade. Nem deve ser computado, mas que deixa uma herança pesada a ser administrada. Sem esquecer da dívida em quase 93% do PIB, com tendência de caminhar para os 100%. Só a fatia vincenda em 2021 já chega a R$ 1,3 trilhão. As condições de rolagem vão depender muito da credibilidade fiscal.
A agenda está mais ou menos colocada. Falta o acerto político para garantir a aprovação das pautas mais relevantes, sem desvios populistas que levem a mais gastos, o que vale para congressistas e o governo.
O começo do ano pode ter dificuldades, como já vimos nas últimas semanas, pelos embates em torno das eleições para a presidência da Câmara e do Senado. Os interesses políticos se sobrepõem aos econômicos. O que garante algum ânimo é a percepção geral da necessidade de ajuste e cumprimento do teto, e a mobilização que tem garantido aprovações importantes quando a situação aperta. Foi assim com a LDO. Pelo menos, o governo vai começar o próximo ano podendo trabalhar com o orçamento.
O recado que fica é que dá para colocar a casa em ordem. Se o Brasil já esteve no radar dos investidores com tantas incertezas, imagine o que pode acontecer se conseguir entrar nos trilhos. E há condições para isso em várias frentes.
Do ajuste fiscal aos marcos regulatórios, passando por concessões, privatizações, ainda que bem mais modestas que as promessas, diminuição da burocracia, reformas… Como eu disse, a agenda está colocada. É esperar que os interesses políticos não atrapalhem. Sem esquecer da pauta externa que impõe outras revisões de rota, como na política ambiental.
Sem otimismo exagerado, 2021 pode ser um bom ano. Sem esquecer, claro, de um programa eficiente de imunização que nos afaste do pior que tivemos este ano, que foi a pandemia. Além disso o Brasil continua devendo uma retomada mais vigorosa de investimentos, que deem sustentação ao crescimento de longo prazo, com mais emprego, melhoria da infraestrutura e das condições de competitividade.
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