A bomba política da semana passada em Brasília ficou em torno da prisão de quatro indivíduos supostamente ligados ao hackeamento de mais de mil telefones celulares de inúmeras figuras do mundo jurídico e político brasileiro.
Aqui, vou me propor à análise dos possíveis impactos em Brasília a partir do que já sabemos sobre as investigações. Não acredito, pelo menos em um curto prazo, em nenhum tipo de grande instabilidade política. Isso apesar da evidente apreensão de muitos envolvidos.
Um parêntesis antes de Brasília
Antes de mais nada, já adianto que a minha análise busca se distanciar dos extremismos políticos de qualquer lado. Se você espera um texto que ligue os hackers ao PT, ou que deduza que a ação da Polícia Federal tem alguma intenção de proteger Moro, esqueça. Esse aqui não é para você.
É perfeitamente plausível acreditar no trabalho da PF, na necessidade de esclarecimento do caso e também questionar as intenções dos hackers para com as invasões e se existe alguma ligação deles com oThe Intercept. Até porque existem transações muito suspeitas nas contas bancárias de 2 dos 4 presos. Da mesma forma, não é exagero querer que o teor das supostas conversas entre Moro e Dallagnol, entre outros procuradores, seja esclarecido. Até porque um juiz conversar abertamente com um procurador sobre um caso em comum não deveria ser trivial.
Por isso, prefiro não tomar conclusões precipitadas quando temos um escândalo dessa magnitude. Obviamente, também porque envolve informações sigilosas – que não estão ao alcance da população. Nesses casos, não temos provas empíricas para sustentar um argumento. Nem temos qualquer tipo de bibliografia que nos referencie no campo das ideias. Daí, justifica-se minha escolha de apenas usar informações já divulgadas.
O “mal” da isenção
Dessa escolha, poderão vir críticas das mais variadas. Aposto que serei chamado de “isentão” ou qualquer outra terminologia parecida. Ou até mesmo de ingênuo, por não “ver o que está na sua cara”. Claro, corro o risco de depois ter que me retratar caso uma das versões usadas pela esquerda ou pela direita se comprove verdade. Atualmente, porém, não consigo acreditar em nenhuma delas. Pelo contrário, tenho a forte sensação de que não passam de narrativas (muito bem) construídas. Fabricadas somente para defender pontos de vistas próprios.
Valendo-me das ideias de Platão: mais vale ficar com medo do escuro do que não ter contato com a luz da razão.
O caso
Voltando ao objeto da análise. Até agora, o que se sabe é que os hackers tiveram acesso aos telefones de Jair Bolsonaro, Raquel Dodge (procuradora-geral da República), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Paulo Guedes e do presidente do STJ, João Otávio de Noronha, entre outros. Não está descartada a possibilidade dos criminosos terem acessado outros celulares. Seria o caso de ministros do STF e até dos filhos do presidente da República.
Um dos presos confessou que hackeou os celulares. Posteriormente enviou, de forma anônima e sem nenhuma contrapartida financeira, ao The Intercept. O site, por sua vez, vinha utilizando as mensagens. Elas advinham do vazamento para denunciar supostos excessos de Sérgio Moro como juiz da Operação Lava Jato.
De início, há um clima grande de apreensão em Brasília. Ainda não se sabe das exatas dimensões que os hackeamentos têm. Tampouco sabe-se como os criminosos tiveram acesso a tantos números de figuras importantes. Tal fato, somado às estranhas quantias de dinheiro, faz com que a possibilidade de haver algum mandante por trás dos crimes seja considerável.
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, fez questão de anunciar que irá destruir material apreendido. Contudo, só o juiz do caso pode decidir sobre o destino das provas. A própria Polícia Federal (que é comandada por Moro) esclareceu que a decisão cabe somente à Justiça. O “deslize” de Moro só deixa o clima mais tenso. Nesse contexto, opositores devem questionar o que está por trás da intenção do ministro de eliminar as mensagens.
O perigo do hackeamento
Aliás, esse é o ponto mais sensível de toda a situação, Com tantos celulares hackeados, a eventual exposição das conversas pode abalar o sistema político novamente – com consequências difíceis de mensurar. Evidentemente, não torço para isso. Esperamos que nenhuma mensagem contenha nada comprometedor, mas não se pode ultrapassar os limites da lei (como quis Moro, ainda que sem segunda intenção) para evitar um “mal maior” ou o que quer que possa derivar deste conteúdo apreendido.
Ainda será necessário periciar o material para saber quais celulares foram, de fato, invadidos, Da mesma forma, para saber se existe alguma modificação/forjamento das mensagens. A ordem na PF é adotar muita cautela nesse momento. O material é sensível e pode causar algum dano no longo prazo. No curto prazo, partidos não se manifestam muito – por precaução ou por receio – mas estão alertas para se alguma nova crise eclodir.
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