No último sábado (5 de maio) foi realizada a famosa reunião pública com investidores da Berkshire Hathaway em Omaha (EUA), com as ilustres presenças dos magos do Value Investing: Warren Buffet e Charlie Munger. (Para se cadastrar e receber os textos da minha coluna no seu e-mail, é só acessar esse link).
Na coluna de hoje, destacarei os pontos que eu achei mais interessantes da reunião, que é uma sessão de perguntas e respostas com o mais variado público de investidores, todas respondidas pelos sábios de Omaha.
A reunião foi transmitida ao vivo (se você quiser, pode conferir o conteúdo completo na íntegra neste link).
Cálculo do valor intrínseco de uma empresa
Uma das perguntas mais importantes foi sobre o processo de cálculo do valor intrínseco de uma empresa, assunto da minha segunda coluna, “Em busca do preço justo”.
Charlie Munger começou respondendo que não existe um processo formal para determinar o valor justo de uma empresa e que o mais importante é a diferença entre preço e valor de um ativo. Ele deu um exemplo utilizando o múltiplo de preço/lucro: a empresa Costco parecia cara ao ser negociada 13x Preço/Lucro, mas o valor da marca tornava o negócio atrativo no futuro.
Vantagens competitivas e como determinar o “moat” de uma empresa
A segunda pergunta mais importante foi sobre vantagens competitivas e como determinar o “moat” de uma empresa. Moat em inglês quer dizer fosso (aquele dos castelos medievais) e ilustra bem a barreira de entrada que uma empresa possui em determinado negócio em relação aos seus concorrentes.
Warren Buffet respondeu sobre Moats usando o exemplo da Coca Cola, que tem um poder de marca tão forte que cria um vínculo emocional com os consumidores e cria um poder de barganha ao negociar os preços de venda dos produtos. A Coca Cola foi fundada no século 19, mais precisamente em janeiro de 1892. Quem não se lembra daquela famosa propaganda da Coca Cola com os nomes das pessoas nas latas do refrigerante?
Considerações dos sábios de Omaha sobre empresas com vantagens competitivas e moats:
“Nós gostamos de produtos que as pessoas sintam vontade de beijar, e não de dar um tapa.” (Warren Buffet)
“Ações ordinárias e lucro extraordinários.” (Charlie Munger)
Investimento da Berkshire Hathaway na Apple
Outra pergunta bastante recorrente e interessante foi sobre o investimento da Berkshire Hathaway na Apple, pois Warren Buffet sempre afirmou que ele não investe no setor de tecnologia (exceto o admitido erro em IBM).
A Berkshire possui cerca de 3% do capital da Apple (cujo valor de mercado da participação é de 28 bilhões de dólares), o que corresponde a 16,5% do valor total de mercado de todas participações em empresas de capital aberto que a Berkshire possui. A participação da Apple é a segunda em termos de valor de mercado, ficando atrás apenas da Wells Fargo.
Veja a carta aos acionistas da Berkshire Hathaway com todas as informações do resultado de 2017. Eu recomendo muito a leitura!
“A tese de investimento é baseada na inteligência do capital empregado e do valor do ecossistema levando em consideração o comportamento do consumidor”, respondeu Buffett sobre a Apple.
A lição aqui é: “Fique no seu círculo de competência, onde você pode ter vantagem relativa devido à experiência e racionalidade”
Como eu já falei aqui neste espaço, eu acredito que a teoria perde muito da sua utilidade se não for utilizada na prática.
As três principais lições desta coluna são bem simples e práticas. Eu procuro aplicá-las no meu trabalho diário de especialista de ações aqui na Levante ao elaborar a seleção “As Melhores Ações” e “Dividendos”.
O meu processo de análise e escolha de uma empresa (ação) considera três fatores qualitativos principais, tão bem explicados pelas respostas de Warren Buffet e Charlie Munger:
1) vantagens competitivas das empresas, tamanho e sustentabilidade dos seus Moats;
2) atratividade do setor de atuação da empresa e qual o meu nível de conhecimento sobre este setor;
3) diferença entre o preço do ativo e o valor da empresa, princípio pétreo da filosofia de Value Investing. Em outras palavras, tudo é uma questão de preço e nem sempre é possível comprar boas empresas a preços atrativos. Aqui estamos falando do “bom, bonito e barato”, algo que não existe, assim como o famoso “almoço de graça”.
Nas próximas colunas, irei falar mais sobre vantagens competitivas e a abordagem conhecida como “MOAT Score”, que determina a intensidade de uma vantagem competitiva e da barreira de entrada que uma empresa possui em determinado negócio em relação à concorrência.
Na semana que vem, eu participarei do Congresso Brasileiro de Value Investing com os principais gestores de fundos de ações, e na próxima coluna eu trarei a minha visão dos investidores em valor do Brasil.
Minha missão é te ajudar a entender mais sobre Value Investing e análise fundamentalista de empresas. Por isso, continue acompanhando a minha coluna e não esqueça: se você ficou com alguma dúvida, é só mandar um e-mail para o endereço [email protected].
Conte comigo e até breve!
Um grande abraço,
Eduardo Guimarães