Temos uma próxima semana, novamente, de decisões sobre os juros no Brasil e nos Estados Unidos. Fica a expectativa não só quanto às decisões, mas também em relação aos recados dos bancos centrais sobre a avaliação de cenário e os futuros passos de política de juros.
Para a reunião do FOMC, comitê do Federal Reserve, o mercado que apostar na manutenção das taxas, talvez, não tanto nesta reunião, mas, principalmente, a partir de novembro. Isso muito por conta da possibilidade de um aperto maior dos juros ampliar o risco potencial de uma retração da economia americana. Só que os dados que vão interferir na política ainda trazem muita indefinição. A inflação segue rodando acima de uma trajetória mais compatível com a meta anualizada de 2%. O CPI acelerou para 0,6% em agosto, puxado por gasolina. O núcleo, que desconsidera as variações de alimentos e energia, subiu 0,3% no mês e 4,3% nos últimos 12 meses até agosto. O índice de preços ao produtor, PPI, subiu 0,7% em agosto ante julho; o consenso era 0,4%. Já as vendas no varejo e serviços registraram alta de 0,6% no mês, desempenho bem acima das projeções, que eram de leve alta de 0,1%. Só que as de julho foram revisadas de 0,7% para 0,5%. Esses dados e mais os números, ainda robustos, do mercado de trabalho reforçam as incertezas. Porém, até pelas sinalizações mais hawkishs do FED, como as de Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole, os rendimentos dos títulos do tesouro norte-americano, dos treasuries, vêm subindo, com impacto, inclusive, no fluxo de investimentos para a bolsa brasileira, com a perda de recursos externos, que tem colaborado para a piora da performance desde agosto, além de fatores locais.
Para a reunião do Copom, aqui no Brasil, a previsão dominante é de mais um corte de 0,50 na Selic, hoje em 13,25% ao ano, até porque isso foi sinalizado pelo Comitê na reunião anterior – um corte na mesma magnitude do decidido na ocasião. Mas isso não impede a divisão das opiniões quanto às decisões das reuniões seguintes. O IPCA, com variação de 0,23% em agosto, abaixo do esperado, apesar de o acumulado em 12 meses ter subido para 4,61% – com tendência de maior avanço, pela exclusão dos meses do ano passado em que o governo se esforçou, até com corte de tributos, para produzir variações menores – renovou as apostas em cortes maiores, de 0,75, pelo menos, por parte do mercado.
Mas vários outros fatores ainda impõem cautela quanto a cortes maiores da Selic. Neste ano deve haver novo estouro da meta inflacionária. A expectativa de avanço maior do PIB, sustentado por programas do governo e os bons números do mercado de trabalho, potencialmente, pode dar margem para aumentos de preços. E ainda há incertezas quanto à condição de o governo conseguir ampliar a receita a ponto de cumprir as metas previstas no arcabouço, como a de zerar o déficit no ano que vem. Inclusive, não se descarta a possibilidade de o governo alterar essa meta. Toda essa combinação leva alguns analistas até a considerarem uma eventual freada nos cortes da Selic ou um ponto de parada mais alto em 2024.
Portanto, motivos é que não faltam para muita expectativa quanto às reuniões da próxima semana, os comunicados que virão com as decisões sobre os juros. Expectativa que tem interferido na Bolsa, no câmbio e na curva de juros, com flutuações para cima e para baixo no ritmo das constantes mudanças no rumo das apostas. Apostas que se alteram no ritmo dos vários indicadores de atividade e inflação.