A CVC (CVCB3) apresentou nesta quarta-feira (30), após o fechamento do mercado, os seus resultados do 1T20. Como era de se esperar, os resultados vieram ruins devido ao impacto da Covid-19 no setor de viagens e turismo, que deverá ser catastrófico no balanço do 2T20.
Os principais destaques negativos foram i) as reservas confirmadas, de 3,277 bilhões de reais, queda de 16,8 por cento com base no resultado comparável do 1T19, ii) queda nas comissões sobre as reservas (margem/take rate), que foi de 7,7 por cento, 1,7 ponto percentual a menos que no 1T19.
Já os pontos positivos foram i) a redução em algumas linhas de custos e despesas recorrentes e ii) geração de caixa positiva no período, mesmo com Ebitda (métrica que indica o potencial de geração de caixa operacional) negativa em 592 milhões de reais.
Em uma primeira leitura, o resultado líquido no período foi devastador (prejuízo líquido de 1,151 bilhão de reais). Contudo, o número está “poluído” por itens não recorrentes e/ou por contas que não afetam o caixa.
Acreditamos que o pior para a CVC (CVCB3) já está incorporado no preço das ações. Ademais, este resultado é “antigo” e apenas uma prévia do 2T20, o qual certamente será devastador.
Devido ao copo meio cheio do resultado e ao fato de o preço das ações CVCB3 já embutir todo o desastre, esperamos um impacto marginalmente positivo nas cotações na sessão desta quinta-feira (1).
A companhia deu algumas informações prévias dos meses subsequentes aos do 1T20. As vendas entre abril e junho (2T20) foram próximas a zero e a recuperação vem sendo gradativa desde julho. Na primeira quinzena de setembro as vendas estão no patamar de 40 por cento do registrado no mesmo período de 2019.
O Ebitda no período foi negativo em 592 milhões de reais. Contudo, há uma série de itens não recorrentes e/ou que não afetam o caixa, como o impairment sobre os ativos na Argentina, aumento das provisões, despesas com repatriação de passageiros e provisão de créditos fiscais.
Desconsiderando todos os itens acima (resultado ajustado), o Ebitda teria sido positivo em 12,5 milhões de reais e o prejuízo líquido de 73 milhões de reais.
Não intuitivamente, a CVC teve geração positiva de caixa livre para no período de 240 milhões de reais. Além dos itens não-caixa, a CVC “financiou-se” por meio da antecipação de recebíveis, o que culminou num efeito positivo na variação do capital de giro. Ademais, os investimentos também foram reduzidos devido a uma gestão financeira mais conservadora.
O caso de investimento em CVC é complexo. A expectativa é que a recuperação em termos de reserva no Brasil atinja o mesmo patamar de 2019 apenas em 2021.
Nós enxergamos um risco relevante no segmento “corporativo” no futuro devido à boa aceitação de reuniões à distância no ambiente corporativo, muito embora nós avaliamos que o modelo de negócios da CVC seja capaz de absorver esta questão sem enormes problemas.
Já seus negócios na Argentina têm um futuro bastante sombrio. Além de toda questão política econômica que aflige o país, há o monstro da inflação de custos para viagens internacionais devido à desvalorização cambial e o aumento de impostos para 30 por cento para viagens para o exterior, sancionado em janeiro deste ano.
No segmento lazer e em especial no Brasil há grande potencial dada a subpenetração do turismo no Produto Interno Bruto (PIB) em comparação com outros países da América Latina, como o México, por exemplo. Contudo, acreditamos que essa questão poderá levar mais tempo devido à natureza do gasto com viagens (não essencial) e à ausência de políticas públicas mais incisivas para o setor de turismo no Brasil. Além da pandemia, o desemprego e a queda na renda também são fatores que influenciam os negócios da CVC no curto/médio prazo.
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