Levante Ideias - Federal Reserve

Powell vai antecipar o fim da festa e não é hora de vender

Na terça-feira (30), Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, realizou a tradicional apresentação semestral diante de um comitê do Senado americano. É quando os presidentes do Federal Reserve buscam explicar com mais detalhes para os senadores como veem a economia e o que pretendem fazer a respeito.

A rigor, Powell não disse nada muito diferente do que as Minutas da mais recente reunião do Fomc (Federal Open Market Committee) haviam informado – que a inflação está muito elevada e que o Fed vai cumprir seu dever constitucional e agir para resolver o problema.

No entanto, como falou para mais pessoas além do restrito círculo de leitores das publicações do Fed, Powell sacudiu os mercados como só um presidente do BC americano consegue fazer.

Ele afirmou com todas as letras que, na próxima reunião do Fomc em dezembro, será discutida uma aceleração da retirada de estímulos à economia americana.

Desde o início da pandemia, o Fed vem comprando todos os meses US$ 120 bilhões em títulos públicos e lastreados por hipotecas para injetar dinheiro na economia.

Com isso, o balanço do Fed aumentou em US$ 4,5 trilhões, para US$ 8,7 trilhões. É dinheiro demais, mesmo para padrões americanos.

O que mudou?

Ainda em outubro, o Fed havia anunciado que começaria a reduzir essa compra em US$ 15 bilhões todos os meses a partir de novembro, zerando o programa até junho de 2022.

Porém, Powell afirmou em seu depoimento diante do Congresso que na próxima reunião do Fed, em dezembro, será discutida uma aceleração disso.

Ele não indicou valores. Porém, a expectativa dos investidores é que, na mais conservadora das hipóteses, a redução seja acelerada para US$ 30 bilhões por mês já em dezembro, o que encerraria o programa ainda em março. A data anterior era junho.

Por que esses três meses fazem tanta diferença?

Por um motivo simples: apesar de não haver nenhuma comunicação oficial por parte do Fed, é consenso nessa entidade chamada mercado que, assim que o programa estiver encerrado, o Fed terá liberdade para começar a elevar os juros.

Desde o início da pandemia as taxas americanas vêm sendo mantidas na prática em zero, o que provocou fortes elevações nos preços dos ativos financeiros e das commodities e justificou uma alta dos índices de inflação para os maiores níveis em 30 anos.

O remédio clássico para essa distorção é elevar os juros. Entretanto, os efeitos colaterais desse tratamento são bem conhecidos. O crédito fica mais caro e escasso, as pessoas têm menos dinheiro para gastar e as empresas faturam menos vendendo produtos e prestando serviços.

Ou seja, os lucros tendem a emagrecer e os investidores vendem ações devido à piora das expectativas. Foi o que ocorreu na terça-feira. O índice S&P 500 caiu quase 2% o Ibovespa recuou 0,87% após oscilar violentamente e, no pior momento do dia, rondar 100 mil pontos.

O que fazer?

Nesses momentos é muito fácil perder a cabeça e vender. O clássico erro de estratégia de tentar deter um prejuízo que, na prática, não existe, ao menos no regime de caixa. Explicando: suponha que você comprou 100 ações da companhia A por R$ 10 cada. Sua posição vale mil reais. Em uma turbulência, as cotações recuam para R$ 9 e sua posição passa a valer R$ 900. Você perdeu 100 reais? Na prática, não. Você comprou 100 ações e permanece com 100 ações. Se não vender nenhuma ação e as cotações voltarem para R$ 10, essa variação de preços não terá tido nenhum efeito sobre o seu patrimônio. Porém, se você vender as ações a R$ 9, você terá realizado o prejuízo. E realizado aqui significa tornar esse prejuízo real, concreto.

Se o valor do seu portfólio encolheu com as quedas das últimas semanas e chegou ao mínimo do ano no pregão da terça-feira, desesperar-se não parece ser a melhor postura. Apesar de observar os números encolhendo em sua planilha, pense que o número de ações permanece o mesmo. E na opinião dos analistas da Levante Ideias de Investimentos, a alavancagem operacional das empresas, ou seja, os ganhos de eficiência obtidos durante a pandemia vão garantir bons resultados por vários trimestres – desde que a mudança do cenário não tenha sido forte a ponto de prejudicar os fundamentos da companhia. Então vale lembrar o velho provérbio escocês: em uma tragédia, alguns choram e outros vendem lenços.

E Eu Com Isso?

Em uma reação à queda da véspera, os contratos futuros do Ibovespa e também os contratos futuros do índice americano S&P 500 iniciam o dia em alta. No entanto, o mercado está sujeito a uma volatilidade elevada devido às incertezas com relação à variante Ômicron do coronavírus.

As notícias são positivas para o mercado em um clima de forte volatilidade.

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Leia também: E se as vacinas não funcionarem mais?

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