A Petrobras (PETR4) divulgou na noite de quarta-feira (24), após fechamento do mercado, seus números referentes ao quarto trimestre de 2020. A companhia apresentou um bom, porém poluído, resultado consolidado, que superou as expectativas do mercado em termos de geração de caixa e lucro líquido devido à reversão de provisão para valor justo dos ativos (impairment).
Acreditamos que esse bom resultado já era esperado pelo mercado e que a recente mudança no comando da estatal terá mais impacto no preço das ações no curto prazo.
Iremos acompanhar a teleconferência de resultados da Petrobras nesta quinta-feira às 10 horas e ver a postura da Administração em relação à mudança no comando da empresa e em relação à política de preços de combustíveis.
A petroleira reportou um EBITDA ajustado recorrente de 35 bilhões de reais, uma alta de 5,8 por cento tanto na comparação trimestral quanto no anual. O resultado também ficou acima do consenso de mercado em 4,3 por cento.
Em termos de seu lucro líquido, a companhia entregou um resultado de 59,9 bilhões de reais no 4T20, tendo totalizado um acumulado de 7,1 bilhões de reais em 2020. O lucro líquido do trimestre foi beneficiado pela reversão de provisão para valor justo (impairment) no valor de 30 bilhões de reais e ganhos cambiais não caixa.
Seu custo de extração de petróleo e gás natural (“lifting cost”) no 4T20 apresentou alta de 24 por cento quando comparado ao trimestre anterior, principalmente devido aos maiores gastos com as atividades na Bacia de Campos e intervenção em poços do pré-sal. Somente no pré-sal, este representou um aumento de 19 por cento na comparação trimestral.
Seu custo de extração médio para 2020, no entanto, apresentou queda de 42,2 por cento em relação a sua média observada de 2015 a 2019, o que reforça seu ganho de eficiência
A forte geração de caixa, com FCF de 112 bilhões de reais em 2020 (alta de 54,1 por cento em relação a 2019), permitiu que a Petrobras reduzisse ainda mais o seu nível de endividamento, atingindo uma dívida líquida de 63 bilhões de reais em 2020, com índice de alavancagem (dívida líquida sobre EBITDA ajustado) de 2,22 vezes (2,33 vezes no 3T20).
Apesar do bom resultado operacional, reforçamos nossa visão que a súbita mudança na gestão da Petrobras acabará por ofuscar o desempenho excepcional que a companhia vem demonstrando, com uma limitação da valorização dos preços de suas ações. Devido aos novos discursos adotados recentemente (“o petróleo é nosso”), ainda é incerto quais serão os rumos adotados pela companhia no horizonte a médio prazo, principalmente em relação à política de preços de combustíveis.
E Eu Com Isso?
O resultado recorrente da Petrobras foi bom e em linha com as expectativas do mercado. O resultado pareceu mais forte devido à reversão de provisão e efeitos não caixa no resultado.
Dada as baixas observadas pela ação nos últimos dias, desde a intervenção política que acarretou a troca do presidente da companhia, é esperado que as ações (PETR3/PETR4) mostrem sinais de recuperação dado seus fortes números do trimestre, com impacto positivo no preço das ações para o curto prazo.
A companhia surpreendeu o mercado e anunciou distribuição de dividendos de 10,3 bilhões de reais 0,7875 reais por ação, o que equivale a um retorno em dividendos de 3,2 por cento
Reforçamos que a Petrobras vem cumprindo suas metas mesmo em um ano desafiador como 2020, onde houve forte oscilação do preço do petróleo e além da redução drástica da demanda, com a pandemia do coronavírus tendo gerado forte impacto em toda cadeia energética e na economia global.
Para que continue nessa toada, no entanto, é imprescindível que a companhia siga comprometida com a redução de sua alavancagem, programa de desinvestimentos, eficiência na redução de custos e praticando preços em linha com a paridade internacional de combustíveis.
Um ponto de atenção é a pressão sobre o lucro bruto no segmento de refino no 4T20, devido aos efeitos de giro de estoques (nesse caso composição de estoque no trimestre a preços mais elevados), além de maiores custos de produção, o que já indica os efeitos da prática de preços abaixo da paridade preços internacional, com queda de 30 por cento no lucro bruto na comparação trimestral, com margem bruta que caiu de 13,4 por cento no 3T20 para 10,15 por cento no 4T20, mesmo com maior fator de utilização do parque de refino e maior receita (1,3 por cento acima do trimestre anterior).
A margem Ebitda do refino permaneceu estável em torno de 10 por cento devido aos efeitos não-recorrentes positivos da venda da Liquigás e reversão da baixa contábil da Comperj, totalizando 4 bilhões de reais no trimestre. sem esses efeitos a margem Ebitda teria alcançado 3,82 por cento, contra 11 por cento no 3T20 e 9 por cento do 4T19.
No momento atual acreditamos que o risco do investimento nas ações da Petrobras é alto demais devido às incertezas provocadas pela troca do comando e possível mudança na orientação estratégica da empresa.