A boa notícia do IGPM e o feriado americano

Mercados com Rafael Bevilacqua

Apesar de celebrar o Dia Nacional de Ação de Graças ser um costume observado praticamente apenas nos Estados Unidos e que – ao contrário do Halloween, não pegou no Brasil – os investidores brasileiros não estariam errados se parassem por um momento para agradecer pelo bom momento da inflação (e do pregão na B3).

Em dia de liquidez reduzida à suspensão dos negócios em Wall Street, o pregão deve se iniciar com uma notícia positiva. A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de novembro. A inflação foi de 0,27 por cento, invertendo a deflação (queda de preços) de 0,36 por cento em outubro. Com esse resultado, o índice acumula queda 0,11 por cento em 12 meses. Para comparar, em novembro de 2024 o IGP-M havia subido 1,30 por cento e a alta em 12 meses era de 6,33 por cento.

Segundo a FGV, “apesar da alta do IGP-M no mês, chama atenção o fato de que a taxa em 12 meses voltou ao campo negativo, algo que não ocorria desde maio de 2024”. No comunicado, a Fundação informou que esse resultado está muito relacionado ao comportamento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) ao longo do ano. “Em boa parte de 2025 prevaleceram quedas expressivas de preços de produtos industriais e agropecuários e o IPA registrou variações negativas em vários meses”. Em novembro, o IPA subiu 0,27 por cento, invertendo o movimento de outubro, quando houve uma queda de 0,59 por cento.

Os números mostram uma desaceleração da inflação no atacado a partir de maio deste ano. A variação do IPA em 12 meses recuou de 7,68 por cento em maio para 4,02 por cento em junho, até alcançar a deflação atual de 2,06 por cento. “A queda do IGP-M em 12 meses seria ainda maior não fosse a compensação exercida pelos preços ao consumidor e pelos custos da construção”, segundo o comunicado da FGV.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,25 por cento, acelerando em relação à alta de 0,16 por cento de outubro, e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 0,28 por cento, acelerando em relação aos 0,21 por cento de alta de outubro.

Índice menos previsível que o IPCA, que baliza as metas de inflação, o IGP-M é um bom indicador antecedente da inflação. O que ocorre nos preços no atacado tende a se repetir, com alguma defasagem, no varejo. Apesar de ter voltado para o campo positivo, o IPA indica uma inflação relativamente controlada no atacado, o que reforça a hipótese de um IPCA dentro da meta nos próximos meses, permitindo que o Banco Central (BC) comece a afrouxar a política monetária. Isso pode levar os investidores a esperar mais um dia de alta nos pregões apesar da redução de volume devido ao feriado americano.


E Eu Com Isso?

O cenário positivo para a inflação permite uma valorização estrutural das ações, o que vem garantindo os recordes sucessivos do Ibovespa. No entanto, a alta de preços e o feriado americano poderão levar a um movimento de realização de lucros, o que amplifica a volatilidade potencial do mercado.

As notícias são positivas para a Bolsa em um cenário de volatilidade



Grupo Mateus (GMAT3): Ajustes contábeis impactam patrimônio e afetam ações


O balanço do Grupo Mateus referente ao terceiro trimestre de 2025 apresenta um cenário de contrastes, combinando crescimento operacional expressivo com ajustes contábeis relevantes, que chamam atenção para a governança e os controles internos da companhia.

A empresa registrou receita líquida de aproximadamente 10,8 bilhões de reais, representando crescimento de 29,1 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. O EBITDA ajustado, apurado após IFRS 16 e excluindo efeitos extraordinários, atingiu cerca de 855 milhões de reais, com margem em torno de 7,9 por cento.

O lucro líquido ajustado, sem considerar eventos não recorrentes, foi de 509 milhões de reais, aumento de 48,4 por cento sobre o 3T24. Esses números refletem um desempenho operacional sólido, mesmo diante de desafios de mercado e inflação de custos.

No entanto, o trimestre também foi marcado por uma reavaliação contábil significativa. A companhia identificou que os estoques estavam supervalorizados em aproximadamente 1,1 bilhão de reais, o que levou a uma redução do saldo contabilizado em dezembro de 2024 de 6,0 bilhões para 4,9 bilhões de reais.

O ajuste impactou diretamente o patrimônio líquido, com queda de cerca de 695 milhões de reais. Para o mercado, a magnitude da correção trouxe desconforto, uma vez que ajustes retroativos podem dificultar a leitura clara da lucratividade da empresa.

O desempenho operacional apresentou sinais mistos. As vendas em mesmas lojas cresceram 2,8 por cento no consolidado, abaixo do crescimento registrado no ano anterior, uma desaceleração de 4,9 pontos percentuais. Nos formatos de atacarejo e varejo alimentar, o desempenho foi negativo, com quedas de 0,9 por cento e 0,3 por cento, respectivamente. Esses números indicam que, embora a receita total continue em alta, o ritmo de crescimento em lojas já existentes está mais lento.

A reação do mercado foi imediata. As ações da companhia recuaram cerca de 10 por cento logo após a divulgação do balanço e, em poucos dias, acumularam retração de até 25 por cento. Analistas e investidores destacaram que os ajustes contábeis retroativos tornam mais complexa a avaliação da lucratividade real e aumentam a atenção sobre potenciais fragilidades nos processos de controle interno.


E Eu Com Isso?

O episódio também ganhou relevância diante da recente troca de auditoria no início de 2025. A substituição trouxe maior rigor técnico na análise das demonstrações financeiras, mas aumentou a sensibilidade do mercado sobre possíveis lacunas na governança contábil da empresa.

A revisão de estoques evidenciou a questão da avaliação anterior e reforçou a necessidade de processos de controle mais robustos, especialmente para uma companhia de varejo de grande porte, com múltiplos formatos de loja, operações complexas e desafios logísticos e tributários.

O terceiro trimestre do Grupo Mateus mostra um cenário dual: crescimento operacional sólido, com receita, EBITDA e lucro líquido ajustado em alta, mas com ajustes contábeis expressivos que afetaram o patrimônio líquido e a percepção do mercado.

O episódio evidencia a importância de controles internos rigorosos e de comunicação transparente, elementos fundamentais para garantir a confiança de investidores e a clareza na leitura das demonstrações financeiras, mesmo em um contexto de expansão das operações.
STF marca julgamento sobre participação do governo na Axia Energia (AXIA3)

O STF marcou para 27 de novembro o julgamento sobre a participação do governo no conselho da Axia Energia (AXIA3), nova denominação da Eletrobras. O caso envolve o acordo firmado entre a União e a empresa em fevereiro, que buscava definir a limitação de 10 por cento do direito de voto.

Atualmente, o governo detém 43 por cento das ações com direito a voto e pretende indicar três dos dez membros do Conselho de Administração da companhia. A decisão deve trazer maior estabilidade à empresa.

Embora o tema tenha sido inicialmente apreciado no plenário virtual, a transferência para o plenário físico permitirá um debate mais aprofundado, aumentando a chance de uma solução consolidada. A proposta intermediária, que garante à União a indicação de três membros do conselho e um do Conselho Fiscal, tende a pacificar o arranjo de governança e avançar na consolidação da privatização.

A suspensão temporária do plano de investimentos da Eletronuclear, incluindo Angra 3, possibilita que a empresa reorganize suas prioridades estratégicas, mantendo flexibilidade na gestão dos ativos. Essa pausa permitirá que a companhia foque em investimentos em geração e transmissão de energia, segmentos em que sua gestão atua efetivamente.

A venda da Eletronuclear simplifica o portfólio da Axia, permitindo maior foco em ativos estratégicos e operação mais eficiente. Apesar do impacto contábil, a operação reforça a disciplina financeira e abre espaço para investimentos futuros.

A companhia também anunciou recentemente a mudança de nome de Eletrobras para Axia Energia, como parte de um rebranding que reforça sua identidade no mercado. O reposicionamento ajuda a empresa a se destacar como companhia privada, mantendo a confiança do mercado e buscando atrair investidores institucionais, no Brasil e no exterior.

Além disso, a Axia anunciou a distribuição de 8,3 bilhões de reais em dividendos, movimentando positivamente suas ações. Com isso, a companhia apresenta atualmente uma rentabilidade em proventos de 6 por cento, tornando-se uma opção atraente para investidores que buscam retorno consistente.

 
E Eu Com Isso?
 
De forma geral, a Axia continua avançando na reorganização societária e na simplificação da estrutura de ativos, buscando se distanciar da gestão governamental, ainda que o Estado mantenha presença com três dos dez conselheiros.

A companhia tem conseguido resolver situações complexas, como questões de governança e a venda da Eletronuclear, além de iniciativas relacionadas à marca, como a mudança de nome e a distribuição de dividendos, demonstrando seu comprometimento com o retorno aos investidores.



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