
Guardião da estabilidade da moeda, o Banco Central (BC) tem de realizar tarefas desagradáveis e manter o aperto na economia por meio de taxas de juros elevadas. Por isso já se comparou o trabalho do banqueiro central ao do cidadão que desliga a música no melhor da festa. Quando todo mundo espera uma notícia boa, o BC traz as expectativas de volta à realidade.
Foi isso que Gabriel Galípolo, presidente do BC, fez na segunda-feira (1). Em um evento em São Paulo, Galípolo declarou que o mercado de trabalho brasileiro segue bastante aquecido, o que reduz o espaço para o BC baixar os juros. “Por diversas métricas, é difícil contestar um mercado de trabalho que se mostra aquecido”, afirmou Galípolo. Segundo ele, esses dados e outros mostram “uma economia forte, aquecida e resiliente” o que exige “uma postura humilde e conservadora por parte do Banco Central”.
Galípolo disse ter dificuldades para explicar o motivo de o desemprego seguir caindo, apesar de a taxa de juros estar elevada há bastante tempo. Na teoria, as taxas de juros elevadas deveriam aumentar o desemprego, mas isso não está ocorrendo. “Eu não consigo achar uma solução elegante para explicar isso”, disse o presidente do BC. Ele levantou dúvidas sobre a “tese do desalento”, ou seja, a ideia de que há pessoas fora do mercado de trabalho porque não veem esperanças de conseguir uma vaga.
A conclusão das declarações de Galípolo é inevitável: a probabilidade é menor de que o Comitê de Política Monetária (Copom) comece a reduzir os juros já na reunião de janeiro. Na segunda-feira (1), as opções de Copom negociadas na B3 mostraram isso. A probabilidade de manutenção da taxa Selic nos atuais 15 por cento ao ano subiu de 95 por cento na sexta-feira, 29 de novembro, para 97 por cento. No caso da reunião de janeiro, a probabilidade de manutenção subiu de 33 por cento no dia 25 de novembro para 40 por cento e a expectativa de corte de 0,5 ponto percentual caiu de 26 por cento para 19 por cento.
O que esperar para as próximas sessões? Há uma grande expectativa por parte dos investidores de que o Copom inicie uma trajetória de corte dos juros na reunião de janeiro, apesar das declarações conservadoras do BC. Ser cauteloso faz parte da descrição de cargo de Galípolo. Por isso, será preciso observar os novos indicadores da economia. Na quinta-feira (4) está prevista a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. E na próxima quarta-feira (10), último dia da reunião do Copom, será divulgada a inflação de novembro medida pelo IPCA. Apenas a partir desses números, e do Comunicado e da Ata do Copom, será possível saber com mais certeza o que esperar dos juros.
E Eu Com Isso?
A terça-feira (02) começa com uma leve alta nos contratos futuros dos principais índices americanos no pré-mercado, e também com uma valorização discreta das cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil, negociadas em Nova York. No entanto, os investidores podem adotar uma postura mais cautelosa tendo em vista as probabilidades menores de o corte de juros pelo Copom começar em janeiro de 2026.
Itaúsa (ITSA4) distribui 8,7 bilhões de reais em proventos e mantém tese positiva
Na segunda-feira (01) a Itaúsa (ITSA4) anunciou uma distribuição de proventos no valor total de 8,7 bilhões de reais, o que corresponde a um pagamento de 0,80 real por ação. Para o investidor que estiver posicionado na data de corte definida para 9 de dezembro de 2025, esse repasse representa um dividend yield aproximado de 6,4 por cento apenas nessa distribuição específica.
Considerando o conjunto de proventos projetados para todo o ano de 2025, o rendimento anual estimado chega a cerca de 13,93 por cento. Além disso, a empresa apresenta uma relação preço/lucro em torno de 7,0 vezes para os próximos doze meses, número que interpretamos como indicativo de uma ação negociada a múltiplos atrativos frente ao potencial de lucros futuros.
Apesar disso, um ponto novo entrou no radar dos investidores brasileiros, a mudança na tributação dos dividendos, a nova legislação prevê que, a partir de 2026, dividendos pagos por uma mesma empresa a um indivíduo ficarão sujeitos à retenção de 10 por cento caso ultrapassem 50 mil reais em um único mês.
Esse limite não considera o total de dividendos recebidos de todas as empresas, mas sim o valor mensal pago por cada empresa separadamente. Isso significa que, se um investidor recebe 40 mil reais em dividendos de uma companhia e mais 40 mil de outra no mesmo mês, nenhum desses montantes seria tributado, já que cada fonte individual ficou abaixo do limite. Por outro lado, se uma única empresa pagar 60 mil reais em um determinado mês, todo o valor pago estará sujeito à retenção.
O projeto também introduz um imposto mínimo anual para pessoas cuja renda total supere 600 mil reais por ano. Essa regra alcança a soma de todas as fontes de renda do contribuinte, incluindo salários, dividendos, juros e outras receitas. A partir desse patamar anual, aplica-se uma tributação progressiva que pode chegar a 10 por cento sobre a parcela que excede determinados níveis de renda. Em termos práticos, mesmo investidores que não ultrapassam o limite mensal de 50 mil reais em dividendos de uma empresa podem, ao final do ano, ser alcançados pelo imposto mínimo caso seus rendimentos totais sejam elevados.
Há, contudo, uma exceção relevante: dividendos referentes a lucros apurados até 2025 e cuja distribuição for aprovada ainda dentro de 2025 poderão ser pagos até 2028 sem incidência da nova retenção. Isso significa que a distribuição anunciada pela Itaúsa, caso seja formalmente aprovada dentro do exercício de 2025, tende a escapar da tributação adicional, preservando o rendimento bruto prometido aos acionistas.
De forma ampla, vemos a Itaúsa como uma holding de elevada qualidade, sustentada principalmente pela participação no Itaú Unibanco, que permanece como seu ativo mais relevante. A rentabilidade continua robusta: o retorno sobre o patrimônio nos últimos doze meses atingiu 17,2 por cento, enquanto o lucro do banco tem avançado de maneira consistente, crescendo em torno de 10 por cento ao ano. Essa combinação de crescimento de resultados, geração de caixa forte e histórico de distribuição generosa de proventos reforça o potencial da companhia para seguir entregando retornos expressivos ao acionista nos próximos doze meses.
E Eu Com Isso?
Outro ponto que merece destaque é o valuation atrativo. Mesmo com a solidez operacional e a perspectiva positiva de resultados, a Itaúsa ainda negocia a múltiplos considerados descontados quando comparados ao seu próprio histórico e à média do setor. Há espaço para que as ações voltem a ser negociadas perto de 10 vezes lucro, patamar que sugere um potencial de valorização interessante, especialmente se combinado ao fluxo de dividendos esperado para os próximos anos.
Além do Itaú, a holding também possui participação em empresas com forte capacidade de expansão, como a Aegea, focada no setor de saneamento. Trata-se de uma área com elevada demanda reprimida no Brasil e com forte tendência de investimentos estruturais no longo prazo. A presença da Itaúsa nesse segmento reforça a diversificação do portfólio e amplia as fontes de crescimento futuro, criando novas avenidas de geração de valor para o acionista.
Diante desse conjunto de fatores, mantemos uma visão construtiva para a Itaúsa e para as ações ITSA4. O equilíbrio entre rentabilidade elevada, crescimento consistente, política de distribuição atrativa e valuation ainda abaixo do potencial sustenta nossa percepção positiva para o desempenho dos papéis no médio e longo prazo.
RD Saúde (RADL3) divulga plano de expansão e bonificação deixa mercado cauteloso
A RD Saúde (RADL3) divulgou um comunicado relevante que movimentou suas ações no dia anterior. Apesar de tentar transmitir previsibilidade estratégica, o mercado reagiu com cautela, e os papéis recuaram cerca de 2,0 por cento. A combinação de aumento de capital, bonificação de ações e guidance de expansão para 2026 gerou certo ceticismo entre os investidores.
O anúncio detalha a proposta de aumento de capital social em 750 milhões de reais por meio da capitalização de reservas, acompanhada de uma bonificação de 2 por cento em ações para os acionistas. Embora seja uma prática comum, essa iniciativa não representa geração imediata de valor econômico e levantou questionamentos sobre o timing escolhido.
Em um cenário de margens pressionadas, custos crescentes e maior competição no varejo farmacêutico, a bonificação pode ter soado menos como fortalecimento da empresa e mais como tentativa de amenizar a percepção de resultados mais modestos no curto prazo.
A companhia também divulgou projeção de abertura de lojas para 2026, estimando entre 330 e 350 inaugurações brutas, com base em sua capacidade financeira, disponibilidade de pontos comerciais e estrutura interna. Embora expressivo, parte do mercado enxerga risco em manter uma expansão acelerada em um ciclo econômico menos favorável ao consumo. O ritmo elevado de inaugurações aumenta despesas iniciais, alonga o prazo de maturação das lojas e pode pressionar o retorno sobre o capital investido.
No aspecto de valuation, a RD Saúde negocia atualmente a cerca de 30 vezes o lucro (P/L), um patamar elevado frente ao histórico do setor, com múltiplo P/VPA em torno de 5,9x, refletindo expectativas de crescimento já embutidas no preço das ações. Em momentos de expansão intensa, margens pressionadas e maior necessidade de capital, múltiplos elevados tornam o mercado mais sensível a qualquer sinal de desaceleração nos resultados.
Enquanto isso, o investidor precisa ponderar que, embora o plano de expansão seja ambicioso e reforce a presença da RD Saúde no mercado, ele também implica em maiores gastos de capital e riscos operacionais.
Cada nova loja exige investimento inicial significativo, tempo até atingir maturação e pressão sobre margens já apertadas. Assim, a expectativa de crescimento precisa ser equilibrada com a disciplina financeira e a capacidade de gerar retorno consistente para que a estratégia não comprometa a rentabilidade futura.
E Eu Com Isso?
O conjunto de informações sobre bonificação, aumento de capital e plano de expansão robusto foi recebido com cautela pelo mercado. O investidor, atento à desaceleração gradual das vendas mesmas lojas e à pressão sobre custos operacionais, tende a manter postura conservadora enquanto não houver sinais claros de melhora na lucratividade, retorno das novas unidades e capacidade da empresa de sustentar seus múltiplos atuais.
Em resumo, o mercado observa de perto a execução do plano de expansão da RD Saúde e a eficácia das medidas para fortalecer sua estrutura de capital. A empresa demonstra ambição e capacidade de crescimento, mas os investidores permanecem cautelosos, equilibrando a expectativa de expansão com disciplina financeira.
DISCLAIMER
A INSIDE RESEARCH LTDA. (“INSIDE”), empresa do Grupo Levante Investimentos (“LEVANTE ”), declara que participou da elaboração do presente relatório de análise e é responsável por sua distribuição exclusivamente nos canais autorizados das empresas do Grupo Levante, tendo como objetivo somente informar os seus clientes com linguagem clara e objetiva, diferenciando dados factuais de interpretações, projeções, estimativas e opiniões, não constituindo oferta de compra ou de venda de nenhum título ou valor mobiliário. Além disso, os dados factuais foram acompanhados da indicação de suas fontes e as projeções e estimativas foram acompanhadas das premissas relevantes e metodologia adotadas. Todas as informações utilizadas neste documento foram redigidas com base em informações públicas, de fontes consideradas fidedignas. Embora tenham sido tomadas todas as medidas razoáveis para assegurar que as informações aqui contidas não são incertas ou equivocadas no momento de sua publicação, a INSIDE e os seus analistas não respondem pela veracidade das informações do conteúdo, mas sim as companhias de capital aberto que as divulgaram ao público em geral, especialmente perante a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”). As informações, opiniões, estimativas e projeções contidas neste documento referem-se à data presente e estão sujeitas a mudanças, não implicando necessariamente na obrigação de qualquer comunicação no sentido de atualização ou revisão com respeito a tal mudança. Para maiores informações consulte a Resolução CVM nº 20/2021, e, também, o Código de Conduta da Apimec para o Analista de Valores Mobiliários. Em cumprimento ao artigo 16, II, da referida Resolução CVM nº 20/2021. As decisões de investimentos e estratégias financeiras sempre devem ser realizadas pelo próprio cliente, de preferência, amparado por profissionais ou empresas habilitadas para essa finalidade, uma vez que a INSIDE não exerce esse tipo de atividade. Esse relatório é destinado exclusivamente ao cliente da INSIDE que o contratou. A sua reprodução ou distribuição não autorizada, sob qualquer forma, no todo ou em parte, implicará em sanções cíveis e criminais cabíveis, incluindo a obrigação de reparação de todas as perdas e danos causados, nos termos da Lei nº 9.610/98, além da cobrança de multa não compensatória de 20 (vinte) vezes o valor mensal do serviço pago pelo cliente. Em conformidade com os artigos 20 e 21 da Resolução CVM nº 20/2021, o analista Eduardo Jamil Rahal (inscrito no CNPI sob o nº 8204) declara que (i) é o responsável principal pelo conteúdo do presente relatório de análise; (ii) as recomendações nele contidas refletem única e exclusivamente as suas opiniões pessoais e que foram elaboradas de forma independente, inclusive com relação à INSIDE