Na noite desta quarta-feira a Petrobras divulgou seus resultados do 3T20, após uma semana dos números das prévias operacionais com dados de produção.
As métricas de geração de caixa vieram fortes, porém o resultado contábil foi mais uma vez afetado negativamente por itens não recorrentes do balanço.
Os principais destaques positivos foram:
i) Mais uma queda no custo de extração de petróleo do pré-sal, chegando a 2,27 dólares/barril, sem os custos de frete e participação governamental, ou seja, operação pura.
ii) Forte geração de caixa operacional, com 46 bilhões de reais no trimestre, crescimento de 40 por cento na comparação anual, com o Ebitda (métrica de geração de caixa potencial) chegando a 33 bilhões de reais com margem de 47,2 por cento.
iii) Redução forte do endividamento, com a amortização de quase 80 bilhões de reais em dívidas, reduzindo a alavancagem financeira (relação Dívida Líquida/Ebitda) de 2,40 vezes para 2,33 vezes na comparação anual, já batendo a meta de dívida bruta para este ano, caindo de 91 bilhões de dólares para 79,6 bilhões de dólares.
iv) A redução grande das despesas operacionais no segmento de refino, com a taxa de utilização superando os 80 por cento no trimestre, permitindo diluir alguns custos fixos, além da volta de volume no refino nos segmentos automotivos.
Já os pontos negativos do resultado foram:
i) Novamente a presença de itens não recorrentes no balanço, prejudicando o lucro contábil e a estabilidade nos resultados apresentados.
ii) O efeito negativo relevante da variação do dólar, devido à grande exposição financeira, em torno de 240 bilhões, ao câmbio.
iii) Volume de vendas ainda fracas de Querosene de Aviação (QAV) e Diesel, no segmento do refino, com receita de apenas 1 bilhão de reais para o QAV, queda de 72,7 por cento na comparação anual e 19,5 bilhões de reais no Diesel, queda de 18,1 por cento em relação ao 3T20.
Ainda no dia de ontem, antes da abertura de mercado, a Petrobras anunciou em Fato Relevante a aprovação pelo Conselho de Administração da nova política de dividendos. Agora o pagamento de dividendos será atrelado diretamente ao nível de endividamento e à geração de caixa operacional, respeitando-se o nível de caixa saudável, sem necessitar atingir lucro líquido contábil ao fim do exercício.
Assim a companhia poderá distribuir dividendos extraordinários de maneira mais recorrente e sem a interferência de alterações contábeis sem efeito na real geração de dinheiro da companhia (caixa), com o valor máximo sendo apurado como 60 por cento do valor líquido entre o fluxo de caixa das operações e gastos com investimentos fixos (Capex).
Esperamos impacto levemente positivo no preço das ações da Petrobras (PETR3/PETR4) no curto prazo, mesmo com a queda nos preços de petróleo do tipo Brent (abaixo dos 40 dólares por barril). A empresa está mostrando que é capaz de reduzir seu endividamento somente com as suas operações, mesmo sem a entrada de caixa dos desinvestimentos, o que é bastante positivo.
A empresa reportou prejuízo líquido de 1,6 bilhão de reais, puxado pela despesa financeira decorrente da variação cambial e ao pagamento de multa de 1,9 bilhões de reais relativos ao programa de anistia fiscal nos estados do RJ e ES, encerrando um passivo de 3,9 bilhões de reais,
Porém o prejuízo contábil possui pouco efeito no caixa, tanto pelo montante, como pelo efeito no fluxo efetivo de dinheiro, ainda mais agora que os dividendos estão atrelados ao endividamento e fluxo de caixa operacional, com a apuração contábil no ano perdendo gradativamente a importância na análise da companhia.
Os dividendos não devem ser pagos neste ano, com o endividamento ainda ficando acima de 60 bilhões de dólares ao final de 2020 (montante mínimo de endividamento bruto para acionar a nova política).
Neste trimestre o endividamento bruto passou de 91 bilhões de dólares para 79,6 bilhões de dólares, uma boa redução, porém a meta de dívida bruta de 60 bilhões de dólares deverá ser atingida somente em 2021, mas adiciona mais um catalisador importante para a tese do investimento na empresa.
No lado operacional, a Petrobras segue focando em investimentos nos ativos mais rentáveis, inclusive reduzindo sua meta de Capex anualmente, devido aos desinvestimentos já realizados e foco na produção no pré-sal.
Adicionado à melhora operacional e à forte geração de caixa de maneira recorrente, a empresa ainda possui algumas opcionalidades positivas que podem destravar o valor das ações:
i) Continuidade e conclusão do processo de vendas das refinarias já anunciadas pela companhia, podendo acelerar a redução da alavancagem, avaliadas em alguns bilhões de reais, recentemente aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a seguir com o desinvestimento.
ii) Venda da participação de 37,5 por cento da BR Distribuidora (BRDT3), hoje com valor de mercado aproximado de 8,3 bilhões de reais.
Seguimos com perspectivas positivas para as ações da Petrobras (PETR3/PETR4) que, apesar dos riscos de desabamento dos preços do petróleo e do risco Brasil, ainda continua com ótimos níveis de rentabilidade (e melhorando), sendo um dos papéis mais descontados na bolsa.
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