A Netflix (NFLX/NFLX34) apresentou nesta terça-feira (19), os seus resultados do quarto trimestre de 2020. A receita líquida e o resultado operacional medido pelo Ebit surpreenderam positivamente, enquanto o seu lucro líquido veio abaixo do esperado.
O principal destaque positivo veio das adições líquidas (saldo entre novos assinantes e cancelamentos). A Netflix havia projetado um aumento de 6 milhões na sua base de assinantes no trimestre. Contudo, o resultado veio 2,5 milhões acima da sua própria estimativa, e a empresa conta agora com mais de 203 milhões de assinantes globais – número 21,9 por cento maior que no fechamento de 2019.
A Netflix havia projetado os seguintes números para o 4T20: receita líquida de 6,57 bilhões de dólares; resultado operacional de 885 milhões de dólares (margem operacional de 13,5 por cento) e lucro líquido de 615 milhões de dólares.
O resultado veio acima em praticamente todas as linhas: a receita foi de 6,64 bilhões, o resultado operacional, 954 milhões (margem operacional de 14,4 por cento, quase um ponto percentual acima do guidance).
O lucro líquido foi a única linha abaixo, 542 milhões de dólares, 12 por cento inferior à projeção da companhia. Contudo, o resultado líquido foi poluído pela remarcação do valor de mercado das suas dívidas em euro na linha de resultado financeiro no total de 258 milhões de dólares, que passa na demonstração após os seus resultados da operação. Expurgando este efeito da conta, o lucro líquido teria sido melhor que o esperado.
Por fim, a companhia registrou um fluxo de caixa livre negativo de 284 milhões de dólares no trimestre.
E Eu Com Isso?
Na nossa avaliação o resultado da Netflix foi bom e acima do que a companhia e o mercado esperavam. Nós esperamos um impacto positivo no preço das ações NFLX e do BDR NFLX34 no curto prazo, impulsionados também pelo desempenho negativo das ações nos últimos 90 dias: queda de 4,5 por cento contra alta de 10,05 por cento do S&P 500 no mesmo período.
O resultado forte veio da região da Europa, Oriente Médio e África (EMEA) e América do Norte (UCAN). Falando sobre a primeira, 52 por cento das adições líquidas totais da Netflix vieram desta região. Esperava-se adições na casa dos 2,5 milhões, e a região adicionou 4,45 milhões de novos assinantes. A base de assinantes nesta região aumentou 37 por cento na comparação anual.
Já sobre a segunda, o crescimento é menos robusto, apenas 9,3 por cento na comparação anual. Lembramos que a base comparativa é maior e a Netflix é “mais penetrada” nesta região do que nas demais. Contudo, esperávamos um crescimento de 400-500 milhões de assinantes, representando uma taxa próxima a 5 por cento e em linha com o apresentado em 2019. Neste trimestre a companhia entregou praticamente o dobro disso.
A operação na América Latina foi regular. O crescimento na base de assinantes foi de 19 por cento, em linha com 2019, mas bem abaixo dos mercados Ásia e Pacífico (APAC), que crescem a sua base de assinantes a taxas superiores a 60 por cento em base anual. A Receita Mensal Média por Usuário (RMMPU) caiu de 8,18 dólares por assinante no 4T19 para 7,12 dólares em LATAM. A depreciação das moedas na região ao longo de 2020 reduziu a contribuição marginal da região para a receita total da Netflix.
Por fim, a companhia destacou que espera reduzir o consumo de caixa a 0 já neste ano de 2021. A estimativa anterior era de que ela consumiria cerca de 1 bilhão de dólares ao longo do exercício deste ano. Ademais, ela espera manter seu endividamento bruto na casa dos 10 a 15 bilhões de dólares, e iniciar programas de recompra de ações.
Avaliamos como positivo o guidance de fluxo de caixa e as possíveis recompras no próximo ano, visto que este tipo programa é uma espécie de dividendo disfarçado, livre de impostos.