Os contratos futuros de juros com os prazos mais longos estão mandando um recado claro aos nossos parlamentares: parem de brincar com o orçamento e com o teto de gastos. Nos primeiros dias do ano, o mercado acionário cravou vários recordes consecutivos e parece estar iniciando mais um dia de alta após a realização de lucros da véspera. No entanto, menos comentada – mas tão importante quanto – a curva dos juros longos no mercado futuro mostra que há um aumento na preocupação dos investidores com relação ao desempenho da inflação. A elevação dos índices, tanto para 2020 quanto para 2021, divulgada nesta terça-feira (12) não arrefeceu esses temores.
Na ponta do lápis, os contratos futuros de juros com vencimento em 2030 encerraram 2020 indicando juros esperados de 7,08 por cento ao ano. Na segunda-feira (11) essa taxa havia subido para 7,85 por cento, uma alta de quase 80 pontos-base (centésimos de ponto percentual). Os contratos ainda mais longos, com vencimento em 2035, também subiram. Fecharam 2020 a 7,56 por cento ao ano, e na segunda-feira cravaram 8,31 por cento ao ano, alta de 75 pontos-base.
Isso não ocorreu por acaso. Muito pelo contrário. A causa dessa alta nos juros futuros foi um aumento das expectativas dos investidores com relação à inflação no longo prazo. O comportamento dos índices divulgados nesta manhã, mostrando aumentos de cerca de 104 em itens fundamentais para a cesta básica como o óleo de soja, é um sinal claro de que os preços estão pressionados, seja pela alta das cotações do dólar, seja pela valorização no mercado internacional de commodities.
Essas oscilações dos preços são naturais, fazem parte do dia a dia dos mercados e seria insensato lutar contra elas com mecanismos com intervenções e congelamentos de preço. O Brasil já tentou isso várias vezes ao longo das últimas décadas. Os resultados oscilaram entre os péssimos e os desastrosos. A única defesa contra os solavancos naturais dos preços (e seu impacto nos juros futuros) é a manutenção de um orçamento nacional equilibrado e crível, uma responsabilidade que cabe ao Congresso. Se os parlamentares não se atentarem a isso, os recados de variáveis como a curva futura das taxas de juros – que embute a percepção de riscos de inflação – serão cada vez mais audíveis.
Indicadores I
A inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2020 foi de 4,52 por cento, acima do centro da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Foi o maior percentual anual desde os 6,29 por cento registrados em 2016. A inflação em dezembro foi de 1,35 por cento. Foi o percentual mensal mais alto desde o 1,57 por cento de fevereiro de 2003 e o maior nível para o último mês do ano desde os 2,10 por cento de dezembro de 2002. Em 2019, a inflação medida pelo IPCA havia sido de 4,31 por cento. A causa principal foi a alta de 14,09 por cento nos preços dos alimentos, provocada pelo aumento da demanda, pela alta do dólar e pela elevação das cotações das commodities no mercado internacional. A maior alta foi do óleo de soja, cujos preços subiram 103,79 por cento, e do arroz, com 76,01 por cento.
Indicadores II
A primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de 2021 avançou em relação à do mês anterior. Em janeiro, a inflação nos dez primeiros dias do mês foi de 1,89 por cento, acima do 1,28 por cento registrado no primeiro decêndio de dezembro. Com este resultado, a taxa em 12 meses passou de 23,52 por cento para 24,87 por cento. A alta foi provocada pela aceleração da inflação no atacado, devido ao aumento dos preços do minério de ferro, que subiram 23,45 por cento após caírem 3,65 por cento. A alta de preços da commodity em 12 meses foi de 134,63 por cento. Na primeira prévia de janeiro, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) subiu 2,42 por cento ante 1,39 por cento em dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) caiu para 0,38 por cento ante 0,86 por cento em dezembro e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) desacelerou para 0,94 por cento ante 1,24 por cento no primeiro decêndio de dezembro.
E Eu Com Isso?
Apesar da turbulência e da incerteza, os mercados iniciaram a manhã no terreno positivo. Os contratos futuros de Ibovespa começaram a sessão com alta de 0,3 por cento, ao passo que os contratos futuros do índice americano S&P 500 indicam uma alta parecida, de 0,2 por cento. O cenário pode indicar investidores comprando, em busca de papéis baratos após a queda da véspera, mas o cenário permanece volátil.