A notícia de recondução de Jerome Powell para a presidência do Federar Reserve (Fed), o banco central americano, deve provocar uma elevação dos juros nos Estados Unidos, que já foi antecipada pelos investidores.
Quatro anos atrás, a indicação de Powell para o Fed pelo ex-presidente Donald Trump foi questionada. Sua antecessora, a economista Janet Yellen, havia feito um excelente trabalho de correção de rota após a crise do subprime.
No entanto, ligada aos democratas, ela não foi reconduzida por Trump e ficou no Fed por apenas um mandato.
Nascido em 1953, Powell é republicano de carteirinha, advogado por formação e tem uma longa carreira no mercado de capitais e no setor público americano. Mesmo assim, era pouco conhecido fora de Washington, cidade onde nasceu.
Pouco tempo depois de sua indicação, Powell começou a ser alvo das críticas de Trump por elevar os juros. Em um dos piores momentos, foi comparado por Trump ao presidente chinês Xi Jinping por “destruir a economia americana”.
No entanto, era ele quem estava à frente do principal banco central do mundo quando explodiu a pior pandemia em um século.
Powell se esforçou para não repetir o erro dos anos 1930, quando o Fed apertou os parafusos da economia afetada pelo crash de 1929. Para conter a pandemia, o Fed recorreu a instrumentos que nunca haviam sido usados, como a aquisição de dívidas privadas, a injeção de dinheiro diretamente na economia e a manutenção de juro zero nos Estados Unidos.
Porém, sua atuação foi adiante disso. Se mantidas indeterminadamente, essas decisões podem ocasionar desancoragem e uma alta da inflação. A primeira regra da economia monetária é que o aumento da quantidade de dinheiro em circulação eleva os preços da economia em geral, quando toda capacidade da economia se encontra ocupada. E quando isso ocorre, é dever do banqueiro central corrigir a rota para preservar o valor da moeda no longo prazo.
Isso vem ocorrendo nos Estados Unidos. O CPI (Consumer Price Index) de outubro indicou uma inflação acumulada em 12 meses de 6,2%, a mais elevada desde novembro de 1990, quando os preços do petróleo dispararam devido à primeira Guerra do Golfo.
Só isso deveria levar o Fed a apertar a política monetária – a meta de inflação está ao redor de 2%. No entanto, a situação não é tão simples. O índice que o Fed acompanha, o PCE (Personal Consumption Expenditure), cuja base de comparação é mais ampla que a do CPI, registra uma inflação menos intensa.
O número de outubro ainda não foi divulgado, mas a alta em 12 meses até setembro era de 4,4%. Para comparar, nos 12 meses até setembro, o CPI estava em 5,4%, um ponto percentual acima. E o “núcleo” do PCE, que exclui itens como alimentos e combustíveis, cujos preços variam de forma menos previsível, está ainda mais baixo. No 12 meses até setembro, a alta é de 3,6%. E esse percentual não se alterou nos últimos quatro meses.
Tendo em vista esse cenário, haveria boas justificativas para esperar para ver antes de elevar os juros. E Powell construiu um consenso dentro do BC americano (que é uma confederação de 12 Feds regionais) para ser tolerante com a inflação, o que permitiu uma recuperação mais rápida da economia.
No entanto, passado o pior da crise, ele deverá patrocinar uma volta à normalidade. Parte desse processo já começou com o fim das compras mensais de US$ 120 bilhões em títulos públicos e hipotecários. A redução começa agora em novembro e vai prosseguir até a extinção do programa, em junho do ano que vem. A próxima medida será uma alta de juros, que é esperada para 2023, mas também pode começar já no ano que vem. Não por acaso, a remuneração dos títulos de dez anos do Tesouro americano voltou para 1,65% ao ano, nível anterior à pandemia.
E Eu Com Isso?
A sessão da terça-feira começa com uma alta dos contratos futuros de Ibovespa como reação à baixa da véspera. No entanto, mais uma vez o cenário deve ser marcado por uma volatilidade elevada.
As notícias são positivas para a bolsa em um cenário de volatilidade.
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