A JBS, uma das maiores empresas de fornecimento de proteínas e alimentos preparados do mundo, apresentou os resultados do 4T20 e do consolidado do ano de 2020, nesta quarta-feira (24), após o fechamento de mercado.
O resultado veio forte e acima do esperado em termos de receita líquida, Ebitda e lucro líquido, com sólida geração de caixa e distribuição de dividendos de 2,5 bilhões de reais.
Os principais destaques do trimestre e do ano foram:
i) Expansão da receita líquida de 33,1 por cento no 4T20 alcançando 76,1 bilhões de reais. No ano, a receita líquida também cresceu forte com alta de 32,1 por cento na comparação anual, alcançando 270,2 bilhões de reais.
ii) Crescimento do Ebitda ajustado (métrica para geração de caixa operacional) de 24,1 por cento no 4T20, atingindo 7 bilhões de reais com margem de 9,2 por cento, ligeiramente inferior à margem do 4T19 de 9,9 por cento. No ano, porém, a margem Ebitda ficou em 10,9 por cento (expansão de 1,2 ponto percentual) em relação a 2019, alcançando 29,6 bilhões de reais, expansão de 48,7 por cento na comparação anual.
iii) A geração de caixa livre da companhia também veio forte: 17,8 bilhões de reais no ano (crescimento de 87,3 por cento em relação a 2019), cerca de 24,6 por cento de seu valor de mercado.
Os melhores desempenhos ficam com as operações brasileiras da Seara e JBS Brasil, além do crescimento da Pilgrim’s Pride com crescimento do Ebitda anual de 50,8, 41,2 e 53,5 por cento no 4T20, puxado sobretudo pela alta da demanda geral, aquisições recentes e aumento do volume de vendas nos produtos de maior valor agregado (processados e preparados).
E Eu Com Isso?
Esperamos uma reação positiva no preço das ações (JBSS3) da companhia no curto prazo devido ao forte resultado acima do esperado, com distribuição de dividendos e complementados pelas boas perspectivas para o ano de 2021, com a empresa melhorando a rentabilidade com a integração de novas operações (aquisições de marcas), expansão de plantas e cenário macroeconômico ainda favorável.
O ano de 2020 pode ser considerado um dos melhores anos da companhia, se não a melhor, com diversos fatores favoráveis alinhados para o setor e para a companhia como o problema da gripe suína na China, câmbio mais favorável à conversão da moeda (dólar em reais), aumento de demanda por carnes e alimentos preparados no Brasil e no mundo.
Além disso, a JBS anunciou um pagamento de dividendo de 2,5 bilhões de reais referente ao resultado de 2020, um retorno por ação de 3,63 por cento.
A companhia foi bastante ativa no seu programa de recompra de ações em 2020 e anunciou o cancelamento das ações em tesouraria (112,24 milhões de ações ou 4,3 por cento do total de ações).
Dessa forma, o retorno total aos acionistas (dividendos mais recompra de ações) atingiu 7,9 por cento para o exercício de 2020, um belo retorno quase 4 vezes maior do que o CDI no período.
A JBS investiu pesado em ganhos de eficiência operacional, inovação e ampliação do seu portfólio de produtos de maior valor agregado e aquisições estratégicas que consolidaram a liderança nos mercados de atuação.
Mesmo com estes movimentos, a relação dívida líquida por Ebitda (alavancagem financeira) reduziu para menos de 1,6 vezes tanto em dólar quanto em reais, um nível baixo que, caso mantida a rentabilidade alta observada no ano de 2020, pode gerar um ciclo de pagamento de proventos mais altos e abre espaço para futuras aquisições sem comprometer a saúde financeira da empresa.
Há um projeto ambicioso de possuir mais 10 marcas com receita líquida na casa dos 1 bilhão de dólares anuais em andamento, expandindo a atuação da companhia para produção com maior valor agregado e maior rentabilidade, com resultados cada vez menos voláteis devido a movimentos de preços das commodities.
A companhia se encontra em seu melhor momento operacional, com endividamento baixo, forte rentabilidade, ganhos subsequentes de participação no mercado e investimentos em diversas frentes com resultados concretos na frente ASG (Ambiental, Social e Governança), melhorando cada vez mais a imagem e a reputação da companhia, gerando valor para os acionistas não somente pelo lado qualitativo das iniciativas, mas também pelo lado financeiro, a exemplo da JBS Biodiesel em franca expansão e projeto de compensação ambiental da marca Swift, por meio da reciclagem completa de suas embalagens, reduzindo custos para a marca e a pegada ambiental.
Análise Complementar
A JBS gerou um retorno sobre o fluxo de caixa livre (Free Cash Flow yield) de 24,6 por cento no ano, um montante impressionante de caixa, mas isso indica que mesmo com um forte desempenho e rentabilidade, a companhia ainda sofre para ter suas ações (JBSS3) valorizadas pelo mercado, ainda sendo negociada com um bom desconto em relação a seu par mais próximo comparável: a americana Tyson Foods.
Três fatores podem estar “travando” a valorização das ações, com duas delas mais relevantes e ligadas:
i) Processo da JBS contra a sua controladora J&F em montante bilionário, com pedido de indenização da holding à JBS pelo prejuízo gerado pela má conduta dos controladores aos minoritários da companhia, na qual o BNDES está envolvido.
ii) Participação grande do BNDES no capital social da JBS (cerca de 21,7 por cento), sendo uma das últimas grandes participações do Banco na bolsa, gerando o chamado overhang nas ações da companhia (JBSS3) que é a quantidade grande de ações sendo vendidas no mercado, o que geralmente pressiona para baixo o preço das ações. Porém a venda de participação do BNDES não ocorrerá até que o processo citado acima não seja concluído.
iii) Questões ambientais ainda sendo questionadas pelos grandes investidores internacionais. Este fator ainda contribui, para o olhar desconfiado do mercado internacional, porém vem sendo mitigado em um ritmo acelerado pela companhia, com diversas iniciativas para a preservação do meio ambiente, melhor rastreabilidade dos fornecedores de gado, programa de carbono zero da produção, entre muitas outras iniciativas.
A resolução destes três fatores é uma opcionalidade bastante positiva para as ações da companhia, retirando incertezas importantes, podendo destravar valor para a JBS no médio prazo, alinhando cada vez mais aos excelentes fundamentos apresentados pela companhia.
Com a evolução positiva dos três fatores acima acreditamos que a percepção de risco sobre as ações da JBS deve melhorar, o chamado “re-rating” da companhia, o que poderia levar a um desconto menor em termos de múltiplos de mercado em relação às grandes empresas americanas de proteína animal, inclusive com a possível listagem das ações da JBS na Bolsa dos EUA.
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