O Grupo Soma (SOMA3), dona de marcas como Farm, Animale e Maria Filó, está preparando uma oferta subsequente de ações (follow-on) de R$ 1 bilhão, já com destino definido: financiar parte da compra da Hering (HGTX3).
O negócio entre as duas companhias foi fechado em R$ 5,1 bilhões em abril, com cerca de R$ 1,5 bilhão em dinheiro e o restante em troca de ações.
Desde o anúncio, as ações de ambas as empresas valorizaram forte, de modo que o valor total da transação, incluindo a relação de troca está em R$ 5,9 bilhões, porém sem grandes alterações na relação de troca, de modo que o “custo de aquisição” da Soma segue o mesmo praticamente.
A Hering parece estar acelerando o seu turnaround, independente se haveria ou não alguma transação de fusão ou aquisição.
A companhia está inaugurando mais unidades no formato Megalojas que estão mudando radicalmente a experiência de compra dos clientes e já apresenta um crescimento de 120% nas vendas em relação ao segundo trimestre de 2019.
A Megaloja conta com maiores destaques para segmentos novos introduzidos no portfólio da Hering, como a linha feminina, roupas íntimas e infantil, um formato moderno de loja física, além do espaço maior e já vem mostrando resultados no tempo de loja do cliente e ticket médio (já 25% maior que as lojas tradicionais).
Ainda a Megaloja, pelo tamanho e sortimento, se configura como um mini hub de entrega das compras digitais, além de oferecer um provador interativo, utilizando a tecnologia RFID, já amplamente empregada pela Nike, por exemplo.
Nessa tecnologia o cliente entra com uma peça no provador e um tablet já oferece dicas de looks e outras opções de cores, sendo possível, inclusive, chamar o vendedor sem sair do provador.
Por fim, a cereja do bolo, é que os custos absolutos da Megaloja são praticamente os mesmos da loja tradicional, mas com receita maior, implicando em margens maiores por m².
E Eu Com Isso?
A princípio tido como improvável, a fusão de varejistas de moda que possuem portfólios complementares parece fazer sentido, como é o caso de Soma e Hering, à medida que a escala, aliada à flexibilidade de fabricação dos produtos, se torna cada vez mais relevante.
A pandemia demandou uma digitalização rápida e em ritmo quase forçado para o varejo discricionários (itens que não são essenciais), porém isso possibilitou uma maior otimização de dados, com as grandes empresas do setor levantando informações importantíssimas a respeito do cliente.
A fusão de Hering e Soma amplia o escopo de atuação e se complementam na expertise em segmentos distintos.
A Hering possui uma operação mais tradicional, com ampla capacidade fabril e atuação em segmentação mais ampla, mas focado na média e baixa renda, comparativamente às outras marcas.
O Soma foca no público feminino diverso e explora diversos nichos dentro desse público, além de possuir uma operação online forte.
Acreditamos que a arbitragem entre o preço das ações SOMA3 e HGTX3 já seja praticamente impossível, de modo que ambas as ações andam em conjunto.
Atualmente, as ações da Hering apresentam um desconto de menos de 4% ante a relação de troca.
Porém, a notícia de que a Megaloja da Hering vem trazendo fortes resultados pode animar mais o mercado daqui em diante, mesmo com alta de quase 20% nas ações HGTX3 no período de 30 dias.
Além do mais, o follow-on do grupo Soma traz maior segurança financeira ao grupo e à nova companhia a ser formada, de modo que o risco agora está praticamente na execução da fusão e implementação do crescimento daqui em diante.
Enxergamos esse risco de execução como relativamente baixa, dada a expertise da família Hering no comando de operação robusta, além da relação dos executivos de ambas as companhias já ser duradoura e saudável.
Com a retomada mais forte do consumo pela volta gradual das atividades pós-pandemia e calendário de vacinação acelerada nos principais polos econômicos do país, as perspectivas são positivas para o varejo de moda e também para a combinação Hering + Soma, no médio e longo prazo.
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