Bolsa abre em alta, é hora de comprar? – Quais são os limites da recuperação
A segunda-feira (9) foi um dia de pânico, no sentido psicológico do termo. Para os investidores, nada importava exceto vender a qualquer preço e transferir seu dinheiro para portos seguros. Nesses momentos, quem não tem controle sobre suas emoções perde dinheiro. Ontem não foi exceção. Perderam-se fortunas no movimento dos mercados. Porém, nessas horas, é fácil esquecer que, para um investidor poder vender barato uma ação, é preciso que outro investidor esteja disposto a comprá-la. Por isso, se alguns amargaram prejuízos pesados, outros compraram papéis com grandes descontos, e com bons lucros em potencial. Em potencial, é bom frisar: ainda vai demorar algum tempo para saber se as apostas de ontem serão bons ou maus negócios.
O pior já passou? Se há uma imagem para ilustrar isso é do líder chinês Xi Jinping visitando, pela primeira vez, a cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia do coronavírus. Wuhan estava isolada da China e do resto do mundo desde 23 de janeiro. Como a imprensa chinesa está sujeita a um forte controle estatal, é preciso tomar qualquer informação com um grão de sal. Porém, a visita de Xi é um sinal eloquente de que, para o governo chinês, o pior da epidemia já foi superado.
Do outro lado do Pacífico, algumas horas antes da visita oficial, o presidente Donald Trump anunciou que iria propor um, em suas palavras, “amplo” pacote de medidas para estimular a economia, incluindo um corte de impostos sobre a folha de pagamentos e medidas para elevar a renda dos trabalhadores pagos por hora, os de pior remuneração na economia americana. Steve Mnuchin, secretário do Tesouro (equivalente ao Ministro da Economia nos Estados Unidos) acrescentou que as medidas também deverão beneficiar micro e pequenas empresas, que foram as mais duramente afetadas pela crise.
As medidas governamentais de apoio não se restringiram aos Estados Unidos. Na Europa, autoridades da França e da Alemanha conclamaram os demais países da Zona do Euro a estimular suas economias, ao passo que Giuseppe Conte, primeiro-ministro italiano, prometeu uma “terapia de choque maciça” para conter os danos provocados pela decisão do próprio governo italiano de colocar toda a Itália em quarentena.
Com todas essas medidas e declarações, e após as quedas pesadas da véspera, o movimento dos mercados na manhã desta terça-feira (10) parece indicar um alívio na crise. O barril de petróleo do tipo Brent estava sendo cotado de manhã a 37,60 dólares, alta de 9,7 por cento. Já o West Texas Intermediate (WTI) subiu 10,2 por cento, para 34,30 dólares por barril.
Os principais índices de ações também subiram. As altas na Ásia foram mais discretas, com o Nikkei avançando 0,85 por cento e o índice SSE, da bolsa de Xangai, fechando com alta de 1,82 por cento. Na Europa, as altas são mais expressivas. Nesta manhã, o índice inglês FTSE avança 3,8 por cento e o índice alemão Dax está em alta de 3,2 por cento. Os contratos futuros de S&P 500 avançam 3,9 por cento.
Já o dólar, que fechou ontem com alta de 1,95 por cento a 4,724 reais, abriu nesta terça-feira a 4,677 reais, baixa de 1 por cento. O dia começa com o Banco Central (BC) realizando um leilão no mercado à vista com a promessa de oferecer dois bilhões de dólares ao mercado, depois de ter vendido 3,5 bilhões na segunda-feira. Em março, até a segunda-feira, o dólar apreciou-se 5,5 por cento em relação ao real. No acumulado do ano, a apreciação cambial é de 17,7 por cento, a maior entre as moedas de países emergentes. Para comparar, no ano o rublo depreciou-se 15,1 por cento ante o dólar. A depreciação do peso mexicano foi de 8,3 por cento.
O movimento do mercado promete ser positivo na manhã desta terça-feira. Os contratos futuros de Ibovespa estão iniciando os negócios com alta de 3,7 por cento, a 89.312 pontos. No entanto, é cedo para dizer que essa alta é uma tendência consistente de recuperação. Ao contrário, o movimento dos próximos dias promete solavancos em profusão no caminho do investidor.
INDICADORES – A produção industrial brasileira avançou 0,9 por cento em janeiro em relação a dezembro, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta terça-feira. O resultado interrompeu dois meses de taxas negativas e foi o melhor para um mês de janeiro desde a alta de 1,1 por cento em 2017. Em comparação com janeiro do ano passado, a produção industrial caiu 0,9 por cento.
Na comparação com dezembro, 17 dos 26 ramos industriais pesquisados e três das quatro grandes categorias econômicas apresentaram taxas positivas em janeiro. As principais influências positivas vieram de máquinas e equipamentos, com alta de 11,5 por cento, metalurgia, com ganho de 6,1 por cento e de veículos automotores, reboques e carrocerias, com ganho de 4 por cento. “Isso não ocorria desde abril do ano passado. Os resultados positivos ficaram concentrados em poucas áreas da indústria por oito meses seguidos em 2019”, diz André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
A inflação permaneceu estável na primeira semana de março. A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou, o IPC-S referente à primeira semana de março, que mostrou uma leve retração de 0,01 por cento, a mesma registrada na última semana do mês passado. Em São Paulo, a alta de preços desacelerou-se de 0,18 por cento na última semana de fevereiro para 0,09 por cento na primeira semana de março.
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