Após uma alta histórica de 1.844 por cento em poucas sessões, as ações da Gamestop (GME) recuaram 80,4 por cento na última semana, marcando aquilo que pode ser o início do estouro da bolha. Ainda assim, as ações sobem 238,5 por cento no ano. Já as ações da AMC (AMC), que também foram alvo de compra dos investidores pessoas físicas organizadas por um fórum na internet, recuaram menos, 48,5 por cento. Ainda assim, a AMC sobe 222,2 por cento em 2020.
Os reguladores de mercado e as principais corretoras de valores seguem discutindo a melhor forma de manter as rédeas do mercado de ações americano, sem interferir de forma arbitrária no mecanismo livre de formação de preços. A corretora Robinhood chegou a determinar controle no volume de negócios envolvendo tal grupo de ações. Ao voltar atrás da decisão na sexta-feira, as ações voltaram a fechar a sessão em forte alta.
Enquanto isso, um dos grandes acionistas da companhia – a Must Asset – uma gestora de recursos coreana, aproveitou a oportunidade “da vida” para zerar a sua posição nas ações GME e colocar o lucro no bolso. É o que aponta um formulário enviado à SEC (equivalente à CVM aqui no Brasil) com data no dia 28 de janeiro.
E Eu Com Isso?
Em nosso último comentário sobre o assunto, havíamos falado sobre o perigo do “investimento” nestas ações sob o recente contexto. Seguimos com a mesma visão, apesar da baixa recente de 80 por cento.
Com lucros e resultados operacionais negativos, sobra apenas a sua receita para realizar alguma análise de múltiplo para a companhia. Contudo, a relação preço e receita é extremamente “cru” e distante da geração de caixa – métrica mais robusta para se analisar o valor de um ativo. Normalmente, utiliza-se este múltiplo para avaliar companhias que apresentam elevadas taxas de crescimento, que está longe de ser o caso da Gamestop.
Em 2019, a empresa apresentou uma queda nas receitas de 22 por cento, e em meio à pandemia, a companhia não conseguiu capturar os ventos favoráveis ao consumo dentro de casa/setor de games, e a situação operacional deteriorou-se. Nos primeiros nove meses do último ano fiscal, nova derrocada: queda de 30,5 por cento na receita contra o mesmo período anterior, fora o resultado operacional (Ebit) negativos e prejuízo líquido.
Ainda assim, a companhia está avaliada em mais de 4 bilhões de dólares, o que equivale a cerca de mil vezes a sua receita obtida nos últimos 12 meses. A maior empresa de tecnologia – a Apple – negocia menos de dez vezes na relação entre seu preço e receita anual (múltiplo Preço sobre Vendas).
Acreditamos que ficar de fora é a melhor forma de preservar capital. Embora seja racional afirmar que a ação vai recuar mais no médio/longo prazo, não se descarta que voltem a ocorrer movimentos especulativos organizados em volta do ativo.