Em uma semana marcada pela divulgação de indicadores relevantes como emprego, contas públicas, endividamento e ata do Copom, tivemos o movimento do mercado influenciado negativamente pelas incertezas fiscais, por dúvidas quanto ao ritmo de retomada da atividade e, principalmente, quanto ao andamento da prometida tão agenda liberal.
A semana começou com o anúncio da saída de Wilson Ferreira Jr. da gestão da Eletrobrás, jogando um balde de água fria nas expectativas de privatização da estatal. Ele parecia ser a pessoa certa para o encaminhamento do processo. Promoveu um ajuste animador das finanças da empresa, revertendo os resultados negativos, inclusive com a privatização de algumas áreas.
A Eletrobrás precisa do reforço do capital privado para manutenção e melhoria na qualidade dos serviços. As privatizações, em geral, são essenciais para enxugamento do Estado, maior eficiência e geração de receita, colaborando no processo de ajuste fiscal.
O anúncio da mudança no comando da empresa teve repercussão negativa imediata. Primeiro, na segunda-feira, feriado em São Paulo, com os ADRs despencando no exterior. Depois veio a queda acentuada das ações na B3, influenciando todo o movimento da Bolsa.
A indicação de um nome técnico para a presidência da Eletrobrás até poderia acomodar as expectativas. Mas o fato é que há uma desconfiança cada vez maior quanto à possibilidade de avanço da agenda de privatizações. Além do pouco empenho, até agora, por parte do governo, fora a resistência do Congresso, ainda se vê a postura do presidente não muito alinhada à ideia da privatização ou de ajustes mais pesados do setor público.
Foi assim com o Ceagesp, com toda a confusão envolvendo o enxugamento do Banco do Brasil, além da proposta de Reforma Administrativa, que joga pra frente mudanças que possam produzir maiores resultados para as contas públicas.
Difícil imaginar uma reversão desse quadro, principalmente com as alianças políticas que estão sendo feitas para viabilizar a vitória dos candidatos à presidência da Câmara e do Senado, apoiados pelo presidente. O velho toma lá dá cá vai envolver muita distribuição de cargos, podendo resultar até em recriação de Ministérios. Sendo que os cargos em estatais, como a Eletrobrás, também são um forte atrativo.
Ainda dá para sair um nome mais técnico para a empresa, alinhado ao discurso pró privatização, reformista e de diminuição do tamanho do Estado. Aliás, esse ainda é o discurso dominante. Mas entre discurso e prática há uma enorme distância, que só tem aumentado.
Por mais que haja justificativas pessoais, as saídas de Mansueto Almeida, Salim Mattar e Paulo Uebel e mesmo de Wilson Ferreira Jr, da Eletrobrás, deixam evidente a força dos velhos vícios da política e as dificuldades para se implementar a agenda liberal. Independentemente dos lobbies contrários e das travas no Congresso, falta consenso e disposição interna do governo pra levar adiante boa parte da pauta que propôs desde a época da campanha. O posto Ipiranga não tem sido muito ouvido.
As eleições da próxima semana, especialmente da Câmara, podem ajudar a definir expectativas. Embora o governo deva ser o protagonista da agenda, da forma como as propostas estão sendo encaminhadas, uma independência maior entre os poderes, talvez, possa ser mais produtiva. Mas é bom considerar que já estamos no ano que antecede o das eleições presidenciais, o que sempre reduz o espaço para grandes avanços de uma agenda mais ambiciosa, como é o caso das privatizações e das Reformas.