As condições de 2021 indicam um 2022 desafiador para a economia brasileira e, consequentemente, para o mercado financeiro, que vai continuar lidando com muitas incertezas. Pra começar, tem a questão do crescimento. Após a confirmação da recessão técnica no segundo trimestre, todos os indicadores de atividade vieram negativos em outubro, com o IBCBr registrando recuo de 0,4%. Isso coloca perspectivas piores para o fechamento deste ano e a abertura do próximo. O carregamento é negativo. Devemos ter desempenho fraco da economia em um contexto de problemas que pareciam superados. No pós pandemia estamos convivendo com inflação em dois dígitos, juros perto disso e desequilíbrio fiscal. O próprio Banco Central endureceu muito o recado desde a última reunião do Copom, sinalizando aperto monetário até o nível necessário para ancorar as expectativas em torno das metas no horizonte de 2022 e 2023. No Relatório Trimestral, já se prevê a inflação de 2021 acima de 10%, pela primeira vez em seis anos. A previsão passou de 8,5% para 10,2%, e a de 2022 aumentou de 3,7% para 4,7%.
Sozinho na tarefa de conter a inflação, além de todos os fatores que têm influenciado diretamente os preços, o BC também alerta para os riscos relacionados às incertezas dos agentes econômicos quanto ao arcabouço fiscal, mesmo que as contas públicas tenham apresentado melhora nos últimos meses, com a inflação elevada, que reforça a arrecadação e favorece a relação dívida x PIB. O atual cenário é de problemas que se realimentam num ciclo bem desfavorável. Inflação faz os juros subirem mais, o que trava mais a economia. A arrecadação tende a sofrer os efeitos dessa combinação, assim como o poder de compra dos consumidores, o que já tem afetado bastante a atividade. Por outro lado, os juros também pesam na dívida pública. O governo pode se endividar pra bancar a dívida mais cara. Sem esquecer do estoque dos Precatórios que não serão pagos e do risco fiscal ampliado pela mudança no teto de gastos e propostas de novas despesas em busca de popularidade.
Tudo isso vai ser um desastre? Possivelmente não. A inflação em algum momento vai ceder pelo efeito dos juros numa economia já mais fraca. O que pode, mais à frente, dar margem para algum corte da Selic, embora as mudanças nas políticas implementadas por outros bancos centrais tendam a exercer pressão adicional. Nesta semana, o Federal Reserve, confirmando as previsões, reduziu mais os estímulos, o famoso tapering, de US$ 15 para US$ 30 bilhões, com indicações de dois ou mais aumentos dos juros em 2022, talvez, já a partir de março, prosseguindo com a normalização em 2023. A inflação lá, como aqui, já não é mais considerada como transitória.
Fato é que além das indicações de um 2022 desafiador, inflação, juros altos, baixo crescimento e desequilíbrio fiscal devem ficar como desafios também para o próximo governo. Assim como as esperadas Reformas, que terão mais dificuldade para avançar em ano de eleições. Tudo isso vai aumentar as expectativas em relação ao resultado das urnas e às propostas dos candidatos que forem despontando nas pesquisas.
O que ainda pode ajudar a reforçar a atividade no próximo ano são os investimentos em infraestrutura, com as concessões e projetos favorecidos por novos marcos, como do saneamento, além de uma maior flexibilização das atividades, se a pandemia continuar sob controle. Cenário que ajudaria até na continuidade da recuperação do mercado de trabalho.
Nesse ambiente a tendência é de persistir a instabilidade do mercado financeiro, com o dólar ainda em patamar elevado, pelo fator incerteza. Juros mais altos podem até garantir maior atratividade, mas para o capital de curto prazo, que oscila com muita facilidade. A rentabilidade da renda fixa deve aumentar, inclusive em termos reais, com os juros em alta, até pelo impacto que devem ter no controle da inflação. Quanto à Bolsa, o desempenho setorial e por empresas deve prevalecer sobre um movimento mais geral de recuperação, sempre sujeito a flutuações pelas mudanças de cenário e de expectativas.
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