O ano de 2021 será decisivo para o rumo da economia nessa nova década. Ainda paira uma incerteza sobre a resolução da Covid-19 no Brasil, e o governo também se divide entre dois grupos: os que gostariam de cortar mais profundamente gastos públicos para acelerar a retomada sustentável da dívida por meio de superávit primário; e os que defendem maior liberdade para ampliar obras públicas e investimento do governo na atividade econômica.
Até 2020, o primeiro grupo prevaleceu, mas há pressão crescente – ainda mais se o País tiver mais problemas com o coronavírus neste ano – para que regras fiscais sejam flexibilizadas a fim de aumentar gastos. Vale lembrar que a dívida pública brasileira ronda cerca de 90 por cento do PIB e a meta de resultado primário para 2021 está negativa em 247,1 bilhões de reais, a segunda pior da história (atrás apenas de 2020).
Diante dessa disputa, é preciso entender como a equipe econômica vai agir frente aos desafios para o ano e – tão importante quanto – se o presidente vai apoiar as medidas, mesmo que algumas sejam impopulares. Especialistas já apontam para um risco alto de rompimento do teto de gastos durante o ano de 2021, enquanto outros afirmam que a única saída possível para a manutenção desse mecanismo seria a de aceleração das reformas junto a um plano urgente de vacinação.
E Eu Com Isso?
Começamos 2021 com poucas novidades no front político, mas com a conjuntura político-econômica podendo estressar os investimentos no curto para médio prazo. Joga contra os investidores o fato de que as eleições legislativas no Congresso ocorrerão somente em fevereiro – até lá, nada deve avançar, nem mesmo nos bastidores.
De certa forma, o governo deve se deparar com um “ano D” para a sustentabilidade fiscal. Caso consiga mitigar os efeitos negativos de mais um ano de déficit e reajustar a trajetória da dívida e dos gastos para o médio e longo prazo, o Executivo sairá vitorioso e terá um 2022 tranquilo. Caso contrário, corremos o risco de ter os primeiros anos dessa nova década bastante conturbados.
O mercado financeiro, em 2021, deve ficar atento justamente a essa decisão entre cortar e gastar. A princípio, mantemos nosso diagnóstico que haverá uma solução fiscal positiva para o ano, mas será necessário redobrar o cuidado quando o debate voltar à pauta. Até lá, investidores vão aproveitando um cenário internacional bastante positivo.