Na coluna de hoje irei falar sobre investimento em ações de empresas small caps, recomendações fora do consenso, retornos acima dos índices de referência e comentar sobre o excelente livro Uma zebra no território dos leões.
Efeito manada
Começo a coluna fazendo uma pequena resenha do excelente livro Uma zebra no território dos leões (uma tradução livre do título original em inglês: A Zebra in Lion Country), de Ralph Wanger.
O autor inicia o livro usando uma metáfora, comparando as zebras que andam em manadas pelas savanas da África do Sul com os gestores de fundos de ações.
As zebras e os gestores de portfólios de ações possuem três pontos em comum: 1) objetivos difíceis (grama fresca para as zebras e retornos acima da média para os gestores); 2) aversão ao risco (zebras podem ser devoradas pelos leões e os gestores podem perder os seus empregos) e; 3) tanto zebras quanto gestores de fundos se movimentam em manadas.
Decisão das zebras
Uma zebra no meio da manada precisa decidir onde quer se posicionar, e tem duas opções: 1) ficar no meio da manada, onde é mais seguro no caso de leões aparecerem, mas por outro lado a grama não é tão fresca e está pisada ou; 2) ficar na parte de fora da manada, onde a grama é mais fresca, mas existe risco maior de ser devorada por leões.
Aqui estamos falando de um “trade-off”, termo da economia para designar uma situação entre duas ou mais alternativas mutualmente excludentes, e que, neste caso, utilizo para um contexto de perfil de risco: 1) as zebras se alimentam melhor com grama mais fresca, mas têm risco de serem devoradas por leões ou; 2) as zebras se sentem seguras dos ataques dos leões junto à manada, porém acabam se alimentando pior que as zebras de fora.
Estar no meio da manada é estar em linha com o consenso de mercado, comprar empresas mais acompanhas e até consolidadas, correr menos riscos e assim obter retornos em linha com a média de mercado.
Por outro lado, ao estar do lado de fora do consenso de mercado (manada) existe a possibilidade de maiores retornos que a média de mercado, mas com risco maior com chance de ser “devorado pelos leões”.
Cada investidor tem um perfil de risco: 1) se você prefere ser a zebra que fica no meio da manada, recomendo o investimento passivo em índices de ações (ETF: BOVA11) ou; 2) se ser a zebra fora da manada te agrada, busque a estratégia ativa de ações que tem objetivo de obter retornos superiores à média de mercado.
Consenso de mercado
Um analista de ações/gestor de fundos sempre pensa nas suas escolhas de ações na carteira em relação ao consenso de mercado. Esse profissional não pode arriscar tudo e ter todas as suas recomendações fora do consenso (manada) todo o tempo.
Entretanto, se o gestor de fundos ficar sempre no meio da manada (consenso) dificilmente o seu fundo terá desempenho superior ao índice de referência (benchmark), pois ele ainda tem que arcar com os custos inerentes à atividade da gestão.
Definição de loucura
Segundo Albert Einstein: “insanidade é fazer sempre a mesma coisa várias e várias vezes esperando obter um resultado diferente”.
Em outras palavras, a zebra no meio da manada não corre muito risco, mas também fica bem magrinha pois come uma grama mais mirrada e já pisada por todas as demais zebras.
A conclusão aqui é a seguinte: para obter ganhos acima da média do mercado é necessário correr mais riscos e as vezes ficar fora da manada, correndo o risco de ser devorado por um leão.
Assimetria de informação
Ao analisar empresas small caps, que não são muito cobertas pelo mercado, é possível descobrir coisas que outros integrantes do mercado desconhecem.
Small Caps
O autor do livro “uma zebra no território dos leões”, Ralph Wanger, também é fã das ações small caps, pois ele tem um perfil de menor aversão ao risco, pois sabe que para ter desempenho acima do mercado é preciso sair da manada (consenso).
As ações das empresas que são menos acompanhas pelo mercado são as small caps. Essas ações têm menor valor de mercado, menor volume negociado diário e são pouco cobertas/acompanhadas pelos analistas de ações dos bancos, corretoras e fundos de investimento.
Investir em ações small caps é quase como estar fora do consenso de mercado (manada) e comprar ações que estão “fora da moda”.
Uma das melhores frases do livro é: “se você quiser se destacar no meio do seu grupo, você precisa ficar fora do grupo”, ou como diria o meu avô Geraldo: “não adianta falar que vai fazer alguma coisa diferente, mas acabar não fazendo”.
Abusando aqui de frases, cito mais uma do Warren Buffett: “compre ações ao som de canhões e venda ao som de violinos”. Nas palavras de Ralph Wanger: “compre ações de empresas quando ninguém as quer, e venda as ações mais queridinhas e populares”.
Eu diria que essa é a essência do investidor contrário, fazer é muito mais difícil do que falar, mas se você fizer isso bem deverá ter retornos maiores acima da média no longo prazo, assim como as zebras que ficam fora da manada.
Restrição de liquidez
A falta de liquidez das ações small caps, que são menos acompanhadas pelo mercado, é um dos principais riscos do investimento, pois as vezes é difícil achar compradores para a sua posição sem derrubar demais os preços.
O antídoto de Ralph Wanger é o seguinte: “compre ações que você não vai precisar vender por um bom período de tempo”.
O dinheirão está fora do consenso
Eu acredito que as Small Caps apresentam umas das melhores relações risco x retorno da Bolsa, pois são empresa menos acompanhadas pelo mercado e com grande potencial de crescimento de lucro.
Small Caps: escolha muito bem e pense no longo prazo
Para terminar, reforço que o investimento em ações em Small Caps requer mais disciplina, conhecimento e paciência, pois o horizonte de investimento precisa ser mais longo. Se o objetivo é obter retornos mais altos é preciso fazer algo diferente do consenso do mercado e assumir mais risco.
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Um grande abraço.
Eduardo Guimarães