Quem usou o FGTS para comprar as ações da Eletrobras deve estar pensando: “mais uma vez eu que vou pagar a conta”. O sentimento na largada após a alta demanda é: “além de pagar mais na conta de Luz, já tô perdendo 6%.”
Aquele investimento de 3% + TR do FGTS, antes sem graça, pode parecer um excelente negócio agora.
Bom, vamos comentar sobre o sucesso da oferta e sobre perspectivas. O que esperar daqui pra frente e, para quem não entrou, será que a hora é agora?
Em números, foram mais de 800 milhões de ações vendidas, mais de 33 bilhões de reais a um preço de R$ 42,00. A demanda de pessoas físicas totalizou 9 bilhões, dos quais 6 bilhões de reais foram alocados por mais de 370 mil pessoas que decidiram usar o FGTS para isso.
Olhando para os tubarões, 45% do volume foi internacional. Destacamos o maior alocador, com 3,5 bilhões de dólares, na Eletrobras: o Fundo Soberano de Cingapura, (GIC).
Até os mais antigos de mercado devem estar surpresos com os números que colocam esse processo como o segundo maior da nossa Bolsa, perdendo apenas para Telebrás, em 1998. Sim, superou o movimento semelhante ao da Vale (1997) e ao da Petrobras (2000).
Ao olharmos fatores mais importantes que o fluxo, entendendo que esses pontos não mudarão tão cedo, permita-me repetir aqui o resumo da análise que fiz quando fui entrevistado pelo Valor Investe, em 20/05, dia de pré-oferta:
Dois pontos de destaque para, em poucas linhas, guardarmos o que esperar no longo prazo:
- O setor é aquele que pode ter performance relativa melhor, considerando o cenário
- O “risco-governo” mais atrapalha que ajuda a empresa
Dito isso, as perspectivas para longo prazo estão mantidas. Mas e o curto prazo? É nesse cenário que busco oportunidades todas as semanas. O jornal voltou a procurar respostas, assim como todos no mercado.
Me permita utilizar outro comentário para o Valor, do último dia de pré-oferta (09/06):
Antecipadamente, comentamos esses pontos com você, leitor do nosso Domingo de Valor, de forma muito transparente e sem viés.
No curto prazo, a queda de 5% deve ser colocada na conta. Precisamos e podemos nos beneficiar dessas distorções entre fundamento e expectativa.
A nossa eterna busca, enquanto analistas de mercado, é a diferença entre preço e valor.
Sempre lembrando que preço é o que você paga, valor é o que você leva. Preço é relacionado à expectativa, valor, aos fundamentos do ativo.
O mercado é irracional o tempo todo. Se não soubermos observar essas diferenças, vamos nos frustrar sempre no curto prazo e, pior que isso, teremos performance negativa no longo prazo.
Hoje, foi a Eletrobras. Há 20 anos, foi a Petrobras. Amanhã, o assunto será outro. E o que aprendemos com isso tudo?
Tento tirar sempre lições de mercado.
Considero que todos aprenderam:
- Vale a “perda” dos 6% para quem usou o FGTS
- Vale a sensação de alívio para quem não entrou e
- Vale, também, a expectativa daqueles que aproveitaram o desconto ou que ainda buscam a oportunidade de balancear a carteira.
Espero que este texto possa ter contribuído na análise resumida e fria, sem o calor do capital em jogo.
Mais importante do que acertar sempre ou participar ou não de um processo de privatização é: aprender, gerenciar risco e rentabilizar a carteira.
Para isso, precisamos nos posicionar. Não fazer nada não é uma opção, a menos que fiquemos tranquilos em perder por hora 9% ao ano para a inflação.
Grande abraço,
Enrico Cozzolino