O assunto da coluna de hoje é o risco-país, uma importante medida de risco de crédito que os investidores estrangeiros correm ao investir em determinado país, geralmente um mercado emergente como o Brasil.
Como o risco-país é medido? Como ele afeta a taxa livre de risco? Como afeta o valor das empresas na Bolsa de Valores?
Três formas de medir o risco-país
Existem três medidas mais utilizadas para mensurar o risco país: i) EMBI+ Brasil (Emerging Markets Bond Index Plus), que é calculado por bancos de investimento (como o JP Morgan) e agências de classificação de risco; ii) CDS (Credit Default Swap) do Brasil, o chamado seguro contra calotes sobre dívidas do Governo do Brasil e; iii) rating ou classificação de risco do Brasil.
O risco-país é uma variável importante no modelo de precificação de ativos (CAPM) para calcular a taxa livre de risco e, consequentemente, calcular o custo de capital próprio (Ke) e o custo médio ponderado de capital (WACC). Essas duas taxas são utilizadas para descontar os fluxos de caixa futuros de uma empresa (para o acionista e para a companhia, respectivamente).
Eu já abordei este assunto na minha coluna sobre CAPM.
Como o risco-país afeta a taxa livre de risco? Como ele afeta o valor das empresas na Bolsa de Valores?
Credit Default Swap (CDS)
O CDS é um contrato que funciona como um seguro de carro. Neste caso, o investidor compra um seguro contra o “calote” ou eventos de crédito, ou seja, o governo brasileiro fica inadimplente (default) e falha em fazer pagamentos da sua dívida externa. Quanto mais alto for esse prêmio de seguro (CDS), mais arriscado será investir em títulos de dívida externa do Brasil.
EMBI+ Brasil
O índice EMBI+ Brasil é calculado através da média ponderada dos prêmios pagos pelos títulos da dívida externa brasileira em relação aos papéis de prazo equivalente do Tesouro dos Estados Unidos (risco praticamente zero). A taxa de juros dos EUA pode ser considerada livre de risco.
Atualmente, o EMBI+ Brasil está em 250 pontos-base, o que significa que a taxa de juros da dívida externa brasileira tem remuneração de 2,5% superior ao rendimento do título americano equivalente para o mesmo nível de risco.
Em outras palavras, para valer a pena correr o risco de trocar o título americano (livre de risco) pelo título brasileiro, o investidor pede um retorno adicional de 2,5% ao ano.
Você pode acompanhar a evolução diária do risco-país medido pelo Embi+ Brasil gratuitamente no site do Ipea Data.
Agência de rating
O rating é uma classificação de risco soberano atribuída ao país emissor de um título de dívida externa e mede a capacidade de um país honrar o serviço da sua dívida externa. As principais agências internacionais de avaliação de risco são: Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s. Cada uma tem um sistema de notas e classificação de risco em dois grupos: grau de investimento e grau especulativo.
Aqui eu não irei explicar o sistema de notas das agências de risco, mas explico mais uma vez usando um exemplo do futebol: grau de investimento é a primeira divisão (série A) e o grau especulativo é a segunda divisão.
O Brasil já estave na primeira divisão e já teve o selo de grau de investimento em junho de 2008, bem antes da crise imobiliária no Estados Unidos. Infelizmente, alegria de pobre dura pouco e a classificação de risco brasileira foi rebaixada para grau especulativo em setembro de 2015. Atualmente, a classificação de risco do Brasil está três degraus abaixo do grau de investimento.
Taxa livre de risco
A taxa livre de risco é muito importante para se calcular o custo do capital próprio (Ke) ao se utilizar o modelo CAPM.
Aqui no Brasil temos duas formas de se calcular a taxa livre de risco em reais: i) taxa de juros futura (DI) de 10 anos (atualmente em 11% ao ano) ou; ii) partir da taxa de juros americana e depois considerar dois componentes: diferença de inflação entre os dois países e o risco-país.
Aqui não entrarei efetivamente nos cálculos da taxa livre de risco, mas gostaria de chamar atenção para o impacto que a alta do risco-país tem sobre a taxa livre de risco e, consequentemente, sobre o custo de capital.
O risco-país medido pelo CDS saiu de 180 pontos no começo de maio, subiu 100 pontos base para 280 pontos na segunda quinzena de junho e fechou o mês acima dos 270 pontos.
Qual o impacto deste aumento de 100 pontos no risco na Bolsa de Valores?
O aumento do risco-país explica boa parte da queda de 16% no Ibovespa no acumulado de maio e junho.
O valor das empresas na Bolsa de Valores foi reduzido porque o aumento do risco-país ocasionou um aumento no custo de capital. Quando o fluxo de caixa futuro de uma empresa é descontado a um custo de capital mais alto, o valor presente do fluxo de caixa é reduzido. Portanto, as ações do Ibovespa caíram 16% em resposta ao ambiente de maior percepção de risco.
Por outro lado, uma queda no risco-país como ocorreu em julho (cerca de 50 pontos base) provocou uma alta no preço das ações na Bolsa (Ibovespa em alta de 7%) pelo mesmo motivo explicado acima.
Irei abordar mais sobre o tema de avaliação de empresas, fluxo de caixa e taxas de desconto em outras colunas.
Minha missão é te ajudar a entender mais sobre Value Investing e análise fundamentalista de empresas. Por isso, continue acompanhando a minha coluna e não esqueça: se você ficou com alguma dúvida, é só mandar um e-mail para o endereço [email protected].
Conte comigo e até breve!
Um grande abraço,
Eduardo Guimarães