Na coluna de hoje, irei falar sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual na reunião encerrada na quarta-feira (17). A elevação foi acima do consenso, que previa uma alta de 0,50 ponto percentual. Dessa forma, agora a taxa Selic está em 2,75 por cento ao ano.
Quais são os impactos para os seus investimentos? Quais são as empresas e setores mais beneficiados/prejudicados na bolsa de valores? Qual a leitura do cenário macroeconômico daqui para frente?
Cavalo de pau
Na minha opinião, a decisão foi praticamente um “cavalo de pau” do Banco Central (BC). Ele manteve a taxa de juros inalterada em janeiro com inflação controlada e depois bruscamente aumentou aos juros numa tentativa de controlar a inflação de2021, medida pelo IPCA, que está quase acima da meta (alta de 5,2 por cento nos últimos 12 meses).
A minha leitura é que o Banco Central errou ao deixar a taxa básica de juros tão baixa por muito tempo, o que acabou incentivando a desvalorização da moeda (real) e a alta da inflação devido ao juro real negativo (taxa de Selic de 2 por cento menos inflação de 4 por cento, juro negativo real de 2 por cento).
O antigo trader do Banco Santander, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, reconheceu o erro e acabou com a taxa Selic baixa demais.
A pergunta de um milhão de reais é: qual a intenção do Banco Central com o aumento da taxa de juros? Apenas controlar e ancorar as expectativas futuras de inflação ou o objetivo era conter a alta do dólar?
Comunicado do Copom
No Comunicado divulgado após a reunião, o Copom deixou claro que vai promover outra elevação de 0,75 ponto percentual em maio.
Em apenas 56 dias o BC passou de uma posição “dovish” (mais tolerante com a inflação) para “hawkish” (mais ortodoxa em termos monetários).
Alta da inflação
Em 12 meses a inflação está em 5,20 por cento, rondando o teto da meta, que é de 5,25 por cento (3,75 por cento mais 1,5 ponto percentual de tolerância, para mais ou para menos).
A edição mais recente do Boletim Focus mostrou uma forte aceleração nas projeções para a inflação. O IPCA previsto para 2021 subiu para 4,60 por cento ante 3,98 por cento da estimativa anterior, e acima dos 3,62 por cento esperados há quatro semanas.
Taxa de juros futura
A taxa de juros (Selic) projetada para dez/21 avançou para 4,50 por cento, ante os 4 por cento da semana anterior, com taxa Selic de 5,5 por cento ao final de 2022.
Antes da decisão do Copom, as taxas futuras de juros (DI) apontavam para 4,26 por cento com vencimento em jan/21 e para 6 por cento para vencimento em jan/22. Portanto, o aumento de 0,75 ponto percentual do BC já estava em parte refletido nas taxas de mercado.
Principais pontos do comunicado
Eu destaco os três principais pontos do comunicado do Banco Central:
- pressão inflacionária proveniente da recente elevação no preço de commodities internacionais em moeda local;
- a projeção de inflação do Copom é de 5 por cento para 2021 e 3,5 por cento para 2022;
- “O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”.
Impactos da alta da Selic nos investimentos
Na minha opinião, essa alta da taxa de juros Selic deve ter pouco impacto na carteira de investimentos das pessoas físicas.
No cenário macro: a Inflação segue pressionada, com viés de alta no dólar, mas eu sigo otimista com a renda variável. Ressalto que o maior risco é a situação das contas públicas e o ritmo da vacinação no Brasil que está bem abaixo da média mundial.
A boa notícia para os investidores pessoas físicas é que até o final de 2021 a reserva de emergência não vai mais custar tão caro, o chamado dinheiro no colchão vai ter um rendimento um pouco maior (de 4,5 a 5,0 por cento ao ano).
Indo direto ao ponto, não acredito que seja uma “volta da renda fixa”, especialmente os juros pós-fixados (CDI). A renda variável vai continuar a sua trajetória de crescimento, com aumento do número de investidores na B3 e maior alocação em renda variável (ações).
Setores mais impactados na Bolsa
Seguradoras e bancos
A alta da taxa de juros (Selic) beneficia diretamente as seguradoras, pois vai elevar o resultado financeiro proveniente dos rendimentos do caixa e das aplicações financeiras, que são majoritariamente investidos em renda fixa (CDI).
No caso dos bancos, o aumento da taxa de juros pode aumentar o “spread”, com crescimento direto na margem financeira bruta dos bancos, além do crescimento do resultado da linha de seguros.
Construção civil
O aumento da taxa básica de juros pode afetar a demanda por imóveis no médio prazo. Existe a possibilidade de um aumento no custo do financiamento imobiliário devido à esperada elevação da taxa Selic até o final de 2021 (projeção de terminar 2021 em 4,5 por cento ao ano).
Entretanto, apesar desta súbita alta dos juros, o custo do financiamento imobiliário permanece em patamares historicamente baixos, com ampla oferta de crédito imobiliário que é suportado pelo grande saldo da poupança. Além disso, acredito que a demanda por imóveis saiu mais forte da pandemia, um cenário benéfico para as companhias, estimulando a população a realizar aquisições de imóveis próprios.
Conclusão
Para terminar, reforço que é muito importante ter diversificação de ativos, o “último almoço de graça” no mundo dos investimentos.
Mesmo com a alta do dólar, atualmente por volta dos 5,50 reais, acredito que é importante ter exposição na moeda norte-americana e em ações na Bolsa dos EUA, com visão de longo prazo.
No mercado local, acredito que o “stock picking” (escolha de ações) será ainda mais importante em 2021, ou seja, mais do ficar pensando na pontuação do Ibovespa no final do ano, é preciso saber escolher os setores e empresas que terão desempenho acima do índice daqui para frente.
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Abraços,
Eduardo Guimarães.