A semana termina com incertezas em relação aos futuros passos da política de juros no País. A aposta quase unânime é de aumento de um ponto na reunião da próxima semana do Copom, com a Selic indo a 5,25%, agora, e 7% (ou até mais) no fechamento do ano. A dúvida é quanto à eficácia e aos efeitos colaterais desse aperto.
Não há dúvidas de que a inflação vem mantendo-se persistentemente elevada. O acumulado em 12 meses passa de 8%, e as projeções para 2021 estão na faixa de 6%. Para uma economia ainda muito indexada, com custos acumulados no atacado e setores ainda engatando uma retomada mais firme, carentes de recomposição de ganhos, temos uma combinação muito propícia para mais pressões de preços. E vale lembrar que, além do estouro do teto da meta deste ano, já há indicações de que a inflação de 2022 possa ficar acima do centro da meta, que será de 3,5%.
A questão é que a alta da inflação vem sendo puxada por muitos aumentos que independem dos juros ou da atividade doméstica, como a alta de commodities, de alimentos, de petróleo, de minério, dos preços administrados ou insumos e de componentes que ficaram escassos por desequilíbrios estruturais ou de produção. A energia pode até ter novos aumentos em função da crise hídrica e do uso das termelétricas, pesando mais nos índices. Mas não há uma pressão de demanda. A demanda em recuperação é que poderá dar margem para as recomposições que foram citadas. Só que juros muito altos, encarecendo o crédito, não só para os consumidores, mas também para as empresas, podem, em alguma medida, tirar fôlego dessa retomada. A economia pode ter mais dificuldade para manter um potencial maior de avanço. Potencial já comprometido pelo desemprego, pela perda de renda, até em função da inflação mais elevada, mas também pelo desequilíbrio gerado pela pandemia, com aumento da pobreza, e pelo endividamento maior.
Claro que não dá para facilitar com a inflação, e, justamente por isso, o Banco Central acertou ao retomar a elevação dos juros. Sendo que os juros mais altos, até pelo diferencial em relação aos praticados no exterior, colaboram para uma maior atratividade para o capital externo. Isso pode ajudar a manter o dólar em patamar mais baixo. E o dólar é um diferencial importante na formação de preços. A dosagem do remédio é que deve ser bem avaliada. Não dá para ceder apenas ao recado que vem da curva de juros. Vale considerar, inclusive, que alguns preços de atacado estão cedendo, como mostrou o IGPM de junho, com alta de 0,78%, longe de uma variação confortável, mas abaixo das projeções.
Ainda que o aumento agora seja de um ponto na Selic, como sinalizam as apostas do mercado, e os investidores mais conservadores agradeçam o ganho de rentabilidade, os ajustes futuros devem ser bem avaliados, não apenas sob o aspecto da convergência das projeções de inflação.
Embora o controle da inflação seja o objetivo da política do BC, temos uma situação atípica de desempenho da economia, prejudicado pela pandemia, que pode sofrer as consequências, inclusive, do cenário político mais conturbado. Aí muitos podem lembrar que esse cenário também traz incertezas do ponto de vista fiscal e, até, da estabilidade do mercado e do dólar. Mesmo assim, cabe uma avaliação mais cuidadosa das implicações de ajustes mais pesados na política de juros.
—
A Coluna da Denise Campos é publicada toda sexta-feira em nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.
—