Na coluna de hoje, vamos tratar das estratégias de investimento em ações tendo em vista que o Ibovespa vem batendo recordes sucessivos.
Nos três primeiros pregões de junho, o Ibovespa voltou a quebrar um recorde e a superar o nível de 130 mil pontos. Na sexta-feira (04), o indicador fechou a 130.125 pontos. No mês, a alta é de 3,1 por cento. E no ano, a alta acumulada é de 9,4 por cento.
Maio também foi bom para o dólar. A moeda americana encerrou o mês passado a 5,23 reais, queda de 3,8 por cento ante o fim de abril. O movimento de apreciação do real se repetiu em junho. Na sexta-feira (04), o câmbio fechou a 5,07 reais, queda de 3,2 por cento ante o fim de maio.
Ainda é cedo para prever o que vai ocorrer em junho, por isso vamos nos concentrar no que se passou em maio. Foi o terceiro mês consecutivo de alta. Já o índice americano S&P 500 ficou praticamente zerado, com uma leve alta de 0,55 por cento em maio.
Bons fundamentos
O desempenho de nossa Bolsa tem sido excelente. O Ibovespa descolou-se de vários outros mercados internacionais. O que animou as cotações em maio – e parece que vai continuar animando em junho – foi uma visão mais positiva dos investidores em relação ao Brasil.
Os motivos são vários. Os bons números de atividade dos setores de Varejo e de Serviços indicaram que o impacto da segunda onda da pandemia foi menor do que se esperava. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB) pode crescer mais do que o esperado neste ano. É bastante provável que a melhora das expectativas seja visível no próximo Relatório Focus, a ser divulgado amanhã.
Isso alivia o eterno problema do desequilíbrio fiscal. E o fim da temporada de resultados corporativos do primeiro trimestre também trouxe boas novas. Três em cada quatro empresas acompanhadas pela Levante apresentaram resultados melhores que as nossas expectativas.
Cuidados na escolha
Esse cenário tem dois lados. Um deles é de otimismo. Com a melhora das premissas, faz todo o sentido esperar novos movimentos de alta das ações. Nessas horas, é preciso escolher com cuidado. E vamos nos inspirar em dois gurus do mercado internacional. Um deles é Ralph Wanger, autor do livro Uma zebra no território dos leões (uma tradução livre do título original em inglês: A Zebra in Lion Country).
Neste livro, Wanger compara as manadas de zebras que pastam nas savanas africanas com os gestores de fundos. Para ele, há várias similaridades: i) os objetivos são difíceis de atingir (grama fresca e não pisoteada para as zebras, retornos acima da média para os gestores); ii) a necessidade de fugir do risco (zebras podem ser presas dos leões, gestores podem ser vítimas de demissão); iii) zebras e gestores se movimentam em manadas.
As zebras podem ficar no meio da manada. Serão menos ameaçadas pelos leões, mas será difícil achar grama fresca. Ou podem ficar nas bordas. A grama será melhor, mas o risco será maior.
O mesmo trade-off tem de ser resolvido pelo gestor de fundos. Se seguir o consenso do mercado, ele vai ganhar ou perder de acordo com a trajetória do índice, mas seu desempenho seguirá a média. Se ficar fora do consenso ele pode obter ganhos extraordinários, mas corre o risco de errar a mão e perder o cliente e o emprego.
Valor e crescimento
Outro gestor em que vamos nos inspirar é o americano Howard Marks. Ele é cofundador da Oaktree Capital, uma das maiores gestoras globais de crédito do mundo. E autor de um dos melhores livros sobre investimentos: The most important thing, que agora tem uma versão em português: O Mais Importante para o Investidor: Lições de um gênio do mercado financeiro.
No início deste ano, Marks mandou uma carta aos cotistas tratando de uma conversa que teve sobre ações com seu filho Andrew, profissional de mercado focado em empresas com perfil de crescimento (Growth), especialmente as do setor de tecnologia. Os gestores mais tradicionais focam em empresas de valor (Value).
O Value Investing, que é a nossa filosofia aqui na Levante, consiste em quantificar o valor intrínseco de determinado ativo baseando-se em seus fundamentos e na sua capacidade de geração de caixa. Uma vez calculado o valor, a recomendação é comprar o ativo quando seu preço de mercado estiver abaixo desse número.
O Growth Investing aposta em empresas que não geram valor monetário. Como são companhias que crescem depressa, elas consomem muito capital e não são capazes de pagar dividendos. Portanto, é necessário fazer uma análise profunda da empresa e do mercado em que ela atua para poder investir. E, como a maior parte do valor está no “futuro”, quando o crescimento esperado se concretizar, seu valor justo é mais sensível a alterações na taxa de desconto.
As melhores alternativas
Dadas essas premissas, o cenário para o investidor quando o primeiro semestre se aproxima do fim é tanto promissor quanto arriscado. É promissor porque existem as premissas que sustentam a alta de qualquer mercado: bons resultados das empresas, equilíbrio das contas públicas e economia em crescimento. E é arriscado porque não existem apostas óbvias. Fica mais difícil descobrir quais serão as ações realmente vencedoras, cujo desempenho fará diferença na carteira do investidor.
Se ficar no meio da manada, o investidor terá um retorno em linha com a média do mercado. Os prognósticos são promissores. Mas pode ser que ainda leve tempo para que o Ibovespa acompanhe as valorizações elevadas dos pregões internacionais. Assim, se vincular-se à média, o investidor pode não ter um grande retorno. E é bom evitar a tentação de buscar pechinchas. Se alguma ação de Valor está descontada em um momento de alta, provavelmente há bons motivos para isso.
Se, ao contrário, optar por uma abordagem que privilegie ações menos óbvias, o investidor poderá ter um ganho muito acima da média, mas estará correndo riscos adicionais. Por exemplo, poderá investir em ações de menor capitalização, as chamadas small caps. São empresas menores, menos líquidas, e que podem proporcionar retornos muito acima da média do mercado. Porém, exatamente por serem menos líquidas, será difícil vender e sair da posição se a tese de investimento não se comprovar.
Além disso, o investidor terá de dosar tanto as ações Value quanto as ações Growth em seu portfólio, pois com as cotações elevadas o retorno das ações de Valor torna-se menos interessante, e será preciso incluir na estratégia ações que possam avançar bastante no futuro, os papéis de Crescimento.
Para isso, você pode contar com o time da Levante Ideias de Investimentos para te ajudar a investir melhor.
Obrigado pela leitura.
Boa semana!
Equipe Levante.
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