Na última terça-feira (15 de maio), eu participei do décimo primeiro Congresso de Value Investing Brasil (ViB), com a presença de importantes gestores de fundos de investimento. O evento foi organizado pela Value Investing Brasil, empresa cujo objetivo é difundir os princípios e técnicas de investimento em valor, como o alfa.
Na coluna de hoje, destacarei os pontos que eu achei mais interessantes deste congresso, que teve apresentações sobre casos de investimentos em empresas brasileiras, painéis para discussão de teses de investimento em valor e uma sessão de perguntas e respostas com o público.
Henrique Meirelles e o momento macroeconômico do Brasil
A abertura do evento ficou por conta de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e atual pré-candidato à Presidência da República, que falou sobre o momento macroeconômico brasileiro atual e sobre o processo eleitoral.
As principais perguntas para o pré-candidato Henrique Meirelles foram relacionadas às eleições e, em minha opinião, as duas respostas mais importantes foram:
- Meirelles acredita que o tempo de propaganda na televisão pode fazer muita diferença na campanha
- Ele não pretende fazer alianças com Ciro Gomes e Marina Silva
- Do ponto de vista econômico, as principais conclusões para o investimento em valor foram:
- um novo ciclo de crescimento sustentado se inicia
- Diminuição do tamanho do Estado
- As reformas são essenciais para a produtividade do trabalho
Evidentemente que os pontos acima dependem de qual será o próximo presidente do Brasil (totalmente imprevisível), e se teremos luz no fim do túnel com a vitória de um candidato favorável às reformas.
O alfa e como ele é calculado
Agora, voltando ao tema principal da coluna, o assunto mais importante do congresso de investimento em valor foi a rentabilidade dos fundos de ações focados em investimento em valor em relação ao Ibovespa. Aqui estamos falando do alfa, tema abordado na última coluna. Inclusive uma leitora (Sandra F.) me perguntou sobre como o alfa é calculado.
A resposta é a seguinte: o alfa é a rentabilidade do ativo menos a rentabilidade do índice de referência. No caso de um fundo de ações, o alfa é calculado pela diferença entre o rendimento do fundo menos o rendimento do Ibovespa no período.
Ibovespa no centro das discussões
A diferença de rentabilidade entre um fundo de ações com foco em valor e o Ibovespa foi assunto muito comentado por diversos participantes, pois muitas vezes acontece de um fundo de valor ter desempenho inferior ao Ibovespa em determinado período.
A pergunta principal foi: qual a razão para o retorno de um fundo de valor ser mais baixo que o retorno do Ibovespa?
As respostas foram bem parecidas e as justificativas são:
- A concentração do Ibovespa nos setores financeiros e commodities
- Horizonte de tempo do investimento
- Estratégia única de investimento em ações: “long only”
O Ibovespa possui uma grande concentração em dois grandes setores: financeiro e commodities, com mais de 60% do Ibovespa. Entre as 10 maiores empresas em termos de participação no Ibovespa, apenas a Ambev (6,5%), Ultrapar (1,5%) e Lojas Renner (2,1%) não são dos setores financeiros e de commodities.
Clique e veja a composição atual do Ibovespa.
No cenário atual de alta dos preços internacionais de commodities (petróleo e minério de ferro) e alta da taxa de câmbio (desvalorização do Real), o desempenho ações da Petrobras e da Vale tem desempenho muito superior ao Ibovespa.
As ações da Petrobras (PETR4) e as ações da Vale (VALE3) acumulam uma impressionante alta de 70% e 40%, respectivamente no acumulado de 2018, comparado ao aumento de 13% no Ibovespa no período.
A maioria dos fundos de ações tem desempenho inferior ao Ibovespa no acumulado de 2018, pois alguns fundos de ações de valor podem não ter exposição ao setor de commodities.
Como as ações têm grande peso no índice (Petrobras e Vale tem participação de 13,0% e 12,3% no Ibovespa, respectivamente), existe uma distorção ao se comparar o desempenho de um fundo de ações de valor com o Ibovespa em períodos mais curtos de tempo.
Investindo em ações
A lição aqui é seguinte: o investimento em ações requer um horizonte de tempo mais longo e o retorno anual não deve ser analisado isoladamente ao se tomar uma decisão e investimento.
A experiência do gestor conta muito e o objetivo de rentabilidade é de longo prazo. O índice de referência (ou benchmark) é uma prática usual dos gestores para cobrar a taxa de performance, mas existem alguns fundos que tem meta de retorno anual absoluto.
Em outras colunas, irei explicar melhor sobre as estratégias de investimento em ações, tais como “long only”.
Ações de empresas de tecnologia
Outro assunto bastante abordado por todos os gestores foram as empresas de tecnologia, notadamente a empresa americana Alphabet Inc, dona do Google e do Youtube.
Uma observação interessante de um participante: “Atualmente até mesmo os bancos como o Itaú são empresas de tecnologia, ainda mais depois da aquisição da XP.”
Aberturas de capital (IPO’s)
Por último, num dos painéis de discussão sobre teses de investimento foi discutido o caso da Hapvida, empresa que abriu o capital na Bolsa de Valores. A visão dos participantes sobre os bem-sucedidos IPO’s (aberturas de capital) é positiva, pois surgem novas empresas e novos setores para o investimento em ações.
Minha missão é te ajudar a entender mais sobre Value Investing e análise fundamentalista de empresas. Por isso, continue acompanhando a minha coluna e não esqueça: se você ficou com alguma dúvida, é só mandar um e-mail para o endereço [email protected].