Um dia após sinalizar que demitiria o presidente do Banco do Brasil (BBAS3), o presidente Bolsonaro cedeu à pressão de nomes como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para reverter a decisão de trocar o comando do banco estatal.
Sendo assim, tudo indica que o atual presidente do BB, André Brandão, ficará no comando da companhia até segunda ordem, ainda que Bolsonaro tenha considerado inapropriado o plano de enxugamento de agências e o Programa de Demissão Voluntária (PDV) que buscava atingir cerca de 5 mil funcionários.
A permanência de Brandão, contudo, passa diretamente por algumas questões em aberto, após o episódio: se o executivo terá que reverter o programa de enxugamento; e se a diretoria do Banco terá que acolher indicações do Centrão. Ambos os pontos não são nada triviais e vão na contramão da autonomia prometida ao atual presidente do banco, quando lhe foi estendido o convite.
Ao mesmo tempo, mesmo com a permanência de Brandão no cargo, a possível reversão de medidas que buscam gerar maior eficiência e diminuir o gargalo entre o banco e seus concorrentes privados coloca em xeque a aderência do governo a um projeto liberal, que requer esse tipo de sacrifício em prol da competitividade. O Banco do Brasil já vinha efetuando mudanças de ganho de eficiência operacional, como, por exemplo, a redução das suas atividades sociais – caso do Fies, que era responsabilidade do BB e da Caixa Econômica Federal, agora ficando somente com a segunda instituição.
E Eu Com Isso?
Nos bastidores, o diagnóstico é que a demissão de Brandão está temporariamente suspensa, mas existem ainda nós a serem desatados para um desfecho dessa novela. Infelizmente, parece que a insatisfação do presidente é motivo suficiente para suspender as medidas de corte de despesas e, nesse contexto, o atual presidente do banco não deve permanecer no cargo por muito mais tempo. Afinal, sem autonomia, não faria sentido continuar no comando do BB.
No mercado, o sinal amarelo já foi ligado e dificilmente a decisão de não demitir Brandão vai apagar as perdas do Banco do Brasil (BBAS3) desde os rumores da exoneração. A ingerência política já ficou explícita, gerando forte desconfiança entre os acionistas do banco e outros investidores. No pregão de hoje, as ações não devem se destacar positivamente.