O Departamento de Justiça Americano entrou com processo contra o Walmart (WMT) nesta terça-feira (22) devido à sua atuação inadequada a respeito das prescrições médicas questionáveis nas suas farmácias.
De acordo com a acusação, a companhia teria compelido os farmacêuticos a fazerem uma diligência acelerada das prescrições para remédios à base de opioides, incitando a aceitação de documentos de validade duvidosa e, com isso, “alimentando a crise de opioides no país”.
O Walmart se defende sugerindo que o governo estaria transferindo a responsabilidade de fiscalizar a atividade médica para os seus farmacêuticos.
Os Estados Unidos convivem com uma onda de abuso de remédios à base de opioides de proporções epidêmicas. Mais de 50 mil americanos morreram de overdose de opioides em 2019, e os números deverão ser ainda maiores neste ano devido aos problemas sociais causados pela pandemia.
E Eu Com Isso?
A notícia é marginalmente negativa para a Walmart (WMT), que recuou 1,2 por cento nesta terça-feira (22). Na nossa avaliação, possíveis sanções não impactariam de forma relevante os resultados da gigante Walmart.
Porém, há um risco de imagem relevante. Esta variável, difícil de ser quantificada, é capaz de elevar a taxa de desconto requerida pelo investidor e, com isso, reduzir o valor justo da companhia. Dessa forma, nós esperamos alguma pressão adicional no preço das ações WMT no curto prazo.
Na década de 50, o icônico economista de Chicago – Milton Friedman – escreveu um artigo intitulado “A função social das empresas é maximizar seus lucros.”
Era dessa forma, segundo o autor, que determinada indústria (leia-se: conjunto de empresas) iria buscar produzir ou prestar os melhores serviços possíveis ao mercado, pagar melhores salários aos seus funcionários, arrecadar mais impostos e remunerar os sócios.
Até hoje prossegue a discussão a respeito da função social da companhia – e sua possível expansão. A questão evoluiu. Companhias têm buscado alinhar a sua atividade, missão e ethos aos pilares do ESG (meio ambiente, social e governança).
Na nossa visão, esta questão está nas entrelinhas no caso da acusação contra a Walmart. Os promotores defendem que a gigante do varejo deveria reconhecer o preocupante quadro do abuso dos remédios nos Estados Unidos. E que ao ser negligente, contribuiu para a crise. O Walmart defende-se alegando que seus farmacêuticos não têm a “responsabilidade social” de duvidar das receitas prescritas, e que é papel dos órgãos estatais fiscalizar a atuação dos médicos.
Aqui fazemos um adendo: provavelmente, Milton Friedman ligava a ideia da busca empresarial pelos melhores produtos e serviços ao pressuposto básico da economia – o de que os agentes são racionais. Este, talvez, não seja o ponto no caso de consumidores dependentes de bens de vício.